12 agosto 2021

“O Labirinto” fisga pela retórica. E só.

Thriller de terror é baseado na obra do escritor Donato Carrisi, que também roteiriza e dirige a produção para o cinema (Fotos: Loris T. Zambelli)


Wallace Graciano


A última sexta-feira 13 de 2021 terá um motivo a mais para amantes da sétima arte irem ao cinema. Isso porque nesta quinta, 12, logo na véspera do dia mais “sombrio” do ano, estreia “O Labirinto” ("L'uomo del Labirinto”, no título original) nas salas de todo o Brasil. 

Adaptada da obra literária homônima de Donato Carrisi, que também dirige o filme, a película tem em seu elenco nomes consagrados como Dustin Hoffman e Toni Servillo para levar ao espectador a mergulhar em um labirinto de suspense, onde cada porta se mostra indecifrável, apesar de sua obviedade constante na sequência. 


Sim, parece estranho misturar dois conceitos tão antagônicos, como o óbvio e o suspense, mas é a premissa da película de Carrisi. Nela, Doutor Green (Dustin Hoffman) presta seus cuidados a Samantha (Valentina Bellè), uma jovem que ainda tenta se recuperar de uma incômoda amnésia pós-traumática. 

E a partir desse momento, o espectador mergulha em uma narrativa regressiva na qual aos poucos é bombardeado com informações que levaram a mulher até aquele estado, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça em um caminho tortuoso e dúbio de um sequestro que durou 15 minutos.


Paralelamente, Bruno Genko (Toni Servillo) foge dos atributos médicos para procurar o sequestrador de Samantha. Investigador nato, passa a procurar evidências em camadas para solucionar o mistério de quem manteve a jovem em cárcere privado.


Nesse ritmo, os caminhos e motivações se cruzam e Carrisi passa a bagunçar a cabeça do espectador, como se o filme um labirinto fosse. O diretor vai trabalhando conceitos como o suspense, a aflição, a inocência e a maldade em linhas paralelas, que tornam-se perpendiculares em determinados momentos, caminhando para um plot twist iminente. 


Essa narrativa difusa faz com que até mesmo o caráter de vítima da paciente e de investigador de Bruno sejam colocados em xeque durante a narrativa. 

Essa narrativa perturbadora  –  e excitante  – merecia melhor ser combinada com a estética da película, que exagera nas cores quentes e filtros, perdendo todo o teor de suspense que o filme poderia trazer. Ao invés do caráter claustrofóbico que um labirinto poderia trazer, somos levados a sensação que estamos em um pub ‘inferninho” pós-pandemia de Covid.


Em síntese, “O Labirinto” é um filme que te fisga pela narrativa, mas peca demais ao associá-la ao aspecto visual. É um bom entretenimento, mas certamente você verá algum fã da obra literária afirmar que “no livro foi melhor”. E ele terá razão. 


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Donato Carrisi
Distribuição: Pandora Filmes
Gêneros: suspense / terror
Exibição: nos cinemas
País: Itália
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos

08 agosto 2021

Documentário “Elvis Presley – The Searcher” mostra por que o ídolo continua vivo

Série em dois episódios mostra a influência de diversos gêneros musicais nos sucessos do inesquecível Rei do Rock (Fotos: Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Diversos provavelmente vão se queixar: faltou intimidade, novidades sobre o homem, fofocas, segredos. Mas basta um olhar mais atento para entender e aceitar de cara boa a série documental “Elvis Presley – The Searcher” (2018), da HBO Documentary Films, em exibição na Netflix. A começar pelo título, faz todo o sentido chamar o artista de “buscador”, “pesquisador”. Afinal, em sua curta carreira, ele nunca deixou de procurar influências, recriar e inovar.

Dirigida por Thom Zimny, a série de dois episódios tem pouco mais de três horas de duração, tempo necessário para contar, principalmente, a infância do menino pobre que nasceu em Tupelo, no Mississipi, e que, ainda adolescente se mudou para Memphis, no Tennessee, onde foi praticamente descoberto cantando numa festa de colégio.


O doc não deixa dúvidas sobre as primeiras influências do Rei do Rock. Definitivamente, ele era um cantor de “alma negra gospel'', por mais estranho que isso possa soar hoje. A cantoria dos pretos nas igrejas da sua infância foi fundamental na carreira do cantor de voz possante e de longo alcance. 

Do gospel ao country, passando pelo autêntico blues, ele cantou, exaustivamente, pelo simples prazer de cantar, na Beale Street, a famosa rua de bares em Memphis. E haja blues.


É possível que o documentário tenha se prendido mais à infância do cantor, mas os fãs vão adorar saber, por exemplo, que ele foi um filho exemplar, eternamente amoroso e cuidadoso com sua mãe, Gladys. Na verdade, a série deixa transparecer que Elvis foi um bom rapaz, mesmo no seu auge, nos anos de 1960, quando o mundo vivia as rebeliões raciais e sociais e o boom das drogas.


A maior rebeldia do Rei do Rock foi a sensualidade, arma que ele soube usar naturalmente, mas que não serviu de nada quando ele foi convocado pelo Exército norte-americano, no auge da fama, para servir na Alemanha. Há quem diga que foi uma retaliação do governo aos requebros e ao som negro que ele fazia. Resignado, Elvis interrompeu a carreira por dois anos. Os fãs, pacientemente, esperaram.


A resignação, aliás, parece resumir bem a carreira de Elvis Presley, que fez dezenas de péssimos filmes sem querer, se matava em turnês desumanas e foi explorado por um agente que nunca permitiu que ele saísse dos Estados Unidos. O palco, onde ele exercia com maestria, talento e carisma – com resposta sempre apaixonada do público -, parece ter sido seu suficiente lugar.


Jornalistas, produtores, engenheiros de som, amigos e artistas como Bob Dylan e Bruce Springsteen enriquecem, com seus depoimentos, o documentário muito bem amarrado pelo roteiro de Alan Light. A ex-mulher Priscila Presley, claro, também comparece, com entrevistas e filmes caseiros da possível vida doméstica do ídolo, falecido no dia 16 de agosto de 1977.


Saber de Elvis Presley é sempre bom. Melhor ainda é ver imagens inéditas, rever pedacinhos de seus mais de 30 filmes e 1.600 shows e ouvir, de novo, pelo menos 18 dos sucessos mais conhecidos desse artista impecável que gravou – em algumas edições definitivas - mais de 750 canções. Deve ser por isso que dizem que ele não morreu.


Ficha técnica:
Direção: Thom Zimny
Produção: HBO Documentary Films (2018)
Exibição: Netflix
Duração: 3h35 (em dois episódios)
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: documentário / série / biografia