24 agosto 2021

"Infinito" abusa dos erros e dos clichês e desperdiça uma boa história

Mark Wahlberg é um ser especial que pode rever vidas passadas e precisa impedir o fim do mundo (Fotos: Reprodução/Paramount Pictures)


Jean Piter Miranda

"Infinito" ("Infinite"), filme disponível na plataforma Paramount +, conta a história de Evan Mc Cauley (Mark Wahlberg), um homem que vive assombrado por memórias de vidas passadas. Quando é encontrado por uma sociedade secreta chamada "Infinitos", ele descobre o que é realmente é: um ser especial que tem todas as lembranças de suas antigas existências. Aí então se depara com um dos seus semelhantes, Bathurst 2020 (Chiwetel Ejiofor), que tem o plano de acabar com todo tipo de vida na Terra.

A ideia é muito boa e foi até comparada a Matrix. Em meio à humanidade, uma “raça” capaz de reencarnar. E a cada nova vida carrega consigo todas as memórias e habilidades de vidas passadas. Parte desse grupo usa dessa condição para tentar fazer do mundo um lugar melhor. Outros, querem por fim a esse ciclo, “descansar”, "se libertar”. Mas, para isso, não basta morrer, tem que destruir o mundo para não ter onde renascer.  


Era pra ser bom. Poderia ser muito bom. Mas "Infinito" exagera nos clichês e abusa dos erros de roteiro. O mocinho solitário que passa por problemas pessoais. O vilão que faz muitas caras e bocas, meio que pagando de louco. O combate final entre duas mulheres, que mesmo com pistolas e metralhadoras preferem sair na mão. A equipe do bem formada por gênios excêntricos, um fortão, uma garota bonita e um personagem oriental. E a turma do mal, claro, também é muito previsível.  

Mark Wahlberg e o diretor Antoine Fuqua

Os erros de roteiro são um tanto grosseiros. O vilão que uma hora está na sala e depois de uma explosão já aparece dentro de um carro, sem um pingo de poeira em seu terno, que está sempre alinhado, mesmo nas cenas de ação. Personagem molhado que segundos depois está seco.

Uma fortaleza de uma sociedade secreta que é encontrada facilmente e que é protegida por apenas três drones. Cena de ação em que o cara tem dezenas de armas à disposição, como pistolas e metralhadoras, e pega duas machadinhas para enfrentar um adversário sabidamente mais forte.  


São muitos e muitos os erros, que vão se acumulando, e que tornam "Infinito" difícil de engolir. Não dá nem para encarar como simples entretenimento. Cenas de ação fraquíssimas e completamente sem sentido. Tentar invadir uma fortaleza bem vigiada com um carro pela porta de frente? Saltar de um penhasco quando poderia ir de helicóptero e muitas outras situações que praticamente zombam da inteligência do espectador.  


Mark Wahlberg tem as mesmas poucas expressões faciais do início ao fim do filme. Dá a impressão de que ele não estava muito a fim de estar ali, que queria que tudo terminasse rápido. Ele tem potencial e já mandou bem em outras produções como “Quatro Irmãos” (2005), “Os Infiltrados” (2006), “O Vencedor” (2010) e, mais recentemente, em "De Repente Uma Família" (2018), também da Paramount Pictures. Mas nessa, atuou de forma decepcionante. Chiwetel Ejiofor, que brilhou em “12 Anos de Escravidão” (2014), se esforça muito, muito mesmo, para encarnar o vilão, mas não convence nem um pouco.


A mocinha Nora Brightman (Sophie Cookson) é inexpressiva. A mesma cara nas cenas de ação, de drama, de suspense. Não muda nem quando deveria interpretar medo ou dor. Dylan O'Brien, o menino da franquia “Maze Runner” ("Correr ou Morrer" - 2014, "Prova de Fogo" - 2015 e "A Cura Mortal" - 2018), faz o papel de Heinrich Treadway. Ele aparece pouco, tem um papel secundário, mas manda bem. É a única interpretação boa de todo o filme.  


O longa é uma adaptação do livro "The Reincarnationist Papers", de 2009, escrito por D. Eric Maikranz. A publicação tem 96% de aprovação entre os usuários do Google. Mas a produção cinematográfica tem se mostrado um desastre, com críticas negativas da imprensa especializada e dos espectadores.

"Infinito" teve um orçamento de US$ 100 milhões e era uma das grandes apostas da Paramount para 2021. Para aumentar o prejuízo, a produção utilizou 30 modelos de carros Aston Martin, muitos deles destruídos nas gravações.


A direção é do norte-americano Antoine Fuqua, que já fez muitos filmes e só tem um bom na carreira: “Dia De Treinamento” (2001), com Denzel Washington, sem esquecer que ele também dirigiu o ator em "O Protetor" (2014) e "O Protetor 2" (2018).

Sempre se esperou de Fuqua um novo filme de qualidade, impactante. Produção que nunca veio, mesmo trabalhando com boas histórias e ótimos elencos. Ele parece aquele jogador de futebol que brilha em uma única temporada, nunca mais repete as boas atuações e chega ao fim como eterna promessa.


Ficha técnica:

Direção: Antoine Fuqua Exibição: plataforma Paramount + Produção: Paramount Pictures e Di Bonaventura Pictures Duração: 1h46 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Ficção / Suspense / Ação Nota: 2 (de 0 a 5)

19 agosto 2021

"O Esquadrão Suicida" faz você esquecer que houve um primeiro filme

James Gunn acerta na direção e no roteiro e na escolha do elenco, respeitando os personagens dos quadrinhos da Dc Comics (Fotos: Jessica Miglio/Warner Bros.)


Maristela Bretas


Violento, com muito sangue, ação do início ao fim e um humor sarcástico, "O Esquadrão Suicida" ("The Suicide Squad"), dirigido por James Gunn ("Guardiões da Galáxia" - 2014) é tudo o que seu quase homônimo - "Esquadrão Suicida" (2916) - não conseguiu ser e ainda está agradando aos fãs da DC Comics.

Graças ao ótimo elenco estrelar (que o outro também tinha, mas não soube aproveitar), a versão em cartaz nos cinemas deve seu sucesso também ao roteiro de Gunn, que respeitou os personagens dos quadrinhos, mas não deixou de torná-los mais bizarros e violentos, amarrando muito bem a história de cada um deles.


Segundo o estilo de "Deadpool", com violência sem medidas, acompanhada de um humor escrachado que agrada apesar da situação, a produção prende o público, mesmo com tanta matança. Cabeças voam, o sangue jorra fácil e tudo acontece como se matar fosse uma coisa corriqueira.

Na verdade, para este grupo de psicopatas assassinos, a violência extrema é normal e o enredo apresenta personagens desprovidos de emoções, sem nada a perder. Não é à toa que estão "hospedados" na pior prisão dos EUA - Belle Reve -, onde morrer é como tomar café da manhã.


Como no antecessor, a diretora da penitenciária, Amanda Waller (a excelente Viola Davis) recruta um novo grupo de supervilões entre seus prisioneiros para destruir um projeto super secreto que ameaça o planeta.

Concluindo a missão eles terão suas penas reduzidas e as famílias preservadas. Enfrentar o exército da pequena ilha de Corto Maltese vai ser o menor dos problemas para o Esquadrão Suicida. O maior vilão está por vir -  o monstro Starro, o Conquistador - digno de um filme de super-heróis.


Apesar do banho de sangue, é impossível não simpatizar com alguns dos integrantes do grupo. E o brilho maior, como no filme de 2016, não poderia ser de ninguém mais que  "Arlequina" de Margot Robbie (que vive a supervilã também em "Aves de Rapina" - 2020). Sádica, bem humorada, violenta, sedutora, mas preocupada com os amigos, ela é um misto de emoções e fúria irresistíveis. 

Até mesmo com uma entrada triunfal, vinda diretamente do banheiro (só assistindo para entender), ela domina as cenas em que aparece - praticamente o filme todo. Ao mesmo tempo que enforca, asfixia ou fatia seus inimigos, exibe um sorriso ingênuo ou um olhar assassino.


Dividindo as atenções  temos a ótima interpretação de Idris Elba como "Sanguinário". O nome já diz tudo. Ele toma o lugar que no filme anterior foi de Will Smith, como "Pistoleiro"  e lidera o grupo na missão. Com ele outro rosto famoso do ringue e das telas, fazendo o estilo fortão sem noção - John Cena interpreta o vigilante "Pacificador". O personagem, inclusive, ganhou uma série na TV solo na HBO Max - "Peacemaker".

Além de "O Esquadrão Suicida", os dois atores estão também "Velozes e Furiosos 9", juntamente com Michael Rooker (Sábio). O elenco conta ainda com os superpoderes de David Bolinha (David Dastmalchian), de Caça-Ratos 2 (a atriz portuguesa Daniela Melchior), o Tubarão-Rei Nanaue (que recebe a voz de Sylvester Stallone). 


No segundo time de super-heróis bizarros temos ainda Capitão Boomerang (Jai Courtney), Caça-Ratos 1 (Taika Waititi ), Pensador (Peter Capaldo), Dardo (Flula Borg), OCD (Nathan Fillion), Doninha (Sean Gunn). A atriz brasileira Alice Braga também tem boa participação como a líder dos rebeldes Sol Soria. Joel Kinnaman ("O Informante" - 2019) volta mais "parrudo", bonito e simpático como o coronel Rick Flag.


Se o elenco e suas interpretações já são motivo de sobra para assistir a "O Esquadrão Suicida", a trilha sonora espetacular arrasa, assim como os efeitos visuais. Destaque para as lutas com espadas, especialmente nas mãos de Arlequina.

Apesar de não ter agradado ao público dos EUA, o mesmo não aconteceu no restante do mundo e garantiu, até o momento, uma bilheteria de quase US$ 120 milhões. O valor ainda não chegou à metade do que foi investido na produção - US$ 285 milhões. Mas vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Gunn
Distribuição: Warner Bros.
Exibição: Nos cinemas e HBO Max
Duração: 2h12
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Aventura / Ação
Nota: 4 (de 0 a 5)