19 setembro 2021

"Suk Suk - Um Amor em Segredo” aborda com sensibilidade o tabu do amor homossexual na meia-idade

Os atores Tai-Bo e Ben Yuen desempenham com maestria seus pais no longa dirigido por Ray Yeung (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)


Carolina Cassese


Logo nas primeiras cenas de “Suk Suk - Um Amor em Segredo”, longa que se passa em Hong Kong, o espectador completamente ocidentalizado se depara com cenários e costumes pouco familiares. Na medida em que a história avança, porém, conseguimos nos identificar bastante com aqueles personagens e, inclusive, perceber algumas semelhanças entre nossa cultura e a deles. O longa, distribuído pela Vitrine Filmes, está em exibição no Usiminas Cinema Belas Artes, com sessão às 17h40.

No filme escrito e dirigido por Ray Yeung, acompanhamos um romance entre Pak (Tai Bo) e Hoi (Ben Yuen). Quando os dois conversam pela primeira vez, descobrimos que Pak é um homem que trabalha dia e noite como taxista com a finalidade de sustentar sua família. Já Hoi é um aposentado que, após o divórcio, criou seu filho sozinho. Como o título indica, a relação que os dois irão estabelecer não será assumida. Isso se dá especialmente por causa de Pak, que ainda precisa manter as aparências para sua família. 


“Suk Suk - Um Amor em Segredo” aposta na contemplação e nos detalhes. A beleza dessa história não está em grandes revelações ou reviravoltas, e sim no desenrolar dessa relação tão bonita e crível. Os dois atores desempenham seus respectivos papéis com maestria: conseguimos embarcar naquelas histórias e compreendemos os pequenos dramas de ambos. 

Outro inegável ponto forte do filme é o quanto ele escapa de obviedades, até mesmo na escolha de seus protagonistas. Apesar do número crescente de narrativas protagonizadas por casais LGBTQIA+ (mesmo que ainda haja um longo caminho a ser percorrido), o tema da sexualidade durante a velhice ainda é um grande tabu. Como destacou o jornal The Hollywood Reporter, “o último bastião da sexualidade desconfortável poderia ser a admissão de que qualquer pessoa, mesmo perto da idade de aposentadoria, pode sentir desejo físico ou emocional”.


Em entrevista, o diretor da obra pontua que a geração dos protagonistas de “Suk Suk - Um Amor em Segredo” se sente particularmente reprimida, justamente porque observa um crescimento da comunidade LGBTQIA+ nos dias atuais, mas ao mesmo tempo não sente que pertence a esse movimento. “Hoje, em Hong Kong, a comunidade LGBTQIA+ é geralmente mais aberta e a sociedade aceita mais os direitos dos homossexuais. No entanto, os homens gays mais velhos não puderam desfrutar dessas mudanças devido a sua adesão a valores culturais tradicionais estritos e laços familiares próximos”.


Diferenças culturais à parte, sabemos que esse sentimento não está restrito aos valores da sociedade de Hong Kong. Debates entre gerações estão mais do que presentes na nossa sociedade, que também apresenta uma série de desafios extras para pessoas mais velhas. 

No final das contas, o filme de Ray Yeung é um convite para pensarmos sobre o tempo. Sobre como passamos os nossos dias e, principalmente, em como queremos viver os próximos. Muito bem escrito e dirigido, o longa definitivamente merece nossa atenção - e nosso próprio tempo.


Ficha técnica:
Direção: Ray Yeung
Exibição: Usiminas Cinema Belas Artes – sessão 17h40
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 1h32
Classificação: 16 anos
País: Hong Kong
Gêneros: Romance / Drama

17 setembro 2021

"Mate ou Morra" - ficção com muita ação e violência, mas excesso de piadas fracas

Frank Grillo vive um ex-agente das forças especiais que revive sua morte centenas de vezes (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)


Maristela Bretas


A proposta de "Mate ou Morra" ("Boss Level") é uma incógnita. Não dá para saber se o diretor Joe Carnahan queria entregar uma comédia com muita ação ou um filme com violência exagerada que lembra demais outra ficção que, no entanto tem uma produção muito melhor - "No Limite o Amanhã" (2014), com Tom Cruise e Emily Blunt. Ou ainda, somente explorar o tema do loop temporal, empregado em outras produções como "Feitiço do Tempo" (1993), com Bill Murray, e "Contra o Tempo" (2011), com Jake Gyllenhaal.


"Mate ou Morra", que entrou em cartaz nos cinemas nessa quinta-feira, começa com muita ação, mas é confuso. À medida que as cenas vão acontecendo, narradas pelo "mocinho", interpretado por Frank Grillo, fica mais fácil para o público compreender o enredo. Grillo é Roy Pulver, um ex-agente das forças especiais que se entregou à bebida. Ele é forçado a reviver sua morte dezenas de vezes, enquanto tenta entender o que provocou esse retorno no tempo, como sair dele e como defender sua família.


As mortes são das formas mais variadas e violentas, algumas chegam a ser cômicas de tão surreais. Pulver é caçado por assassinos e precisa aprender, a cada morte, como escapar dela na sua próxima vida. Frank Grillo é mais conhecido como coadjuvante em blockbusters como "Capitão América: O Soldado Invernal" (2014), "Capitão América: Guerra Civil" (2016) e "Vingadores: Ultimato" (2019), além da franquia "Uma Noite de Crime". Além de ator principal é também um dos produtores executivos de "Mate ou Morra".


O chamariz para a produção fica mesmo para nomes como Naomi Watts ("Vice" - 2018), que interpreta a ex-esposa de Roy Pulver, e o ator e diretor Mel Gibson, de "O Gênio e o Louco" (2019) e "Até o Último Homem" (2016), ambos mal aproveitados. Gibson entrega boa atuação como o empresário cruel e inescrupuloso Clive Ventor. 

O filme conta também com as participações de Selina Lo (a lutadora de espada Guan Yin que repete várias vezes seu nome numa frase bem cansativa); Annabelle Wallis (protagonista de "Maligno"); Michelle Yeoh ("Podres de Rico" - 2018), Will Sasso, Sheaun McKinney, Ken Jeong e até mesmo Rio Grillo, filho do ator na vida real.


A trilha sonora é um ponto positivo, bem adequada e dá a movimentação que o filme necessita. Bom figurino, cenas de ação bem realistas e Frank Grillo bem à vontade no papel, passando simpatia e a impressão de que está se divertindo. O mesmo valendo para Mel Gibson, ao contrário dos outros integrantes do elenco que parecem estar ali para cumprir tabela.

Não dá para esperar muito da produção, vale como distração e pode agradar ao público que gosta de violência tosca, associada a muito tiro, porrada, bomba e boas perseguições. Apesar da história fraca e cheia de furos, "Mate ou Morra" segura o público até o final, especialmente pela curiosidade em saber o que vai acontecer com Roy depois de tanta matança. Mas aí o diretor peca novamente, pelo menos na versão que está nos cinemas brasileiros. Em breve, quando estrear na Prime Video, o público verá um final diferente (o que foi exibido nos EUA).


Ficha técnica
Direção: Joe Carnahan
Produção: California Filmes
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Suspense /Ficção
Nota: 3,5 (0 a 5)