02 novembro 2021

Terceiro filme da fase 4 do Universo Marvel, "Eternos" se destaca pela diversidade, efeitos especiais e ótimo elenco

Dez super-heróis alienígenas se unem para proteger a Terra e seus habitantes, na produção dirigida por Chloé Zhao (Fotos: Marvel Studios)


Maristela Bretas

Sem dúvida, "Eternos" ("Eternals") é um filme que merece e deve ser assistido em uma sala especial, nada menos que 3D, de preferência Imax ou D-Box. Com estreia marcada para dia 4 de novembro, o longa tem como um de seus principais atrativos os efeitos especiais, especialmente nas batalhas, que não economizam imagens grandiosas. A diretora Chloé Zhao, ganhadora de dois Oscar por "Nomadland" (2021), usou e abusou de luzes, cores e CGI para entregar uma produção gráfica épica, associada às boas atuações do elenco.


A belíssima fotografia e as locações de "Eternos" também são destaque, além do trabalho de reconstituição de época, em especial na reprodução dos Jardins Suspensos da Babilônia, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Coincidência ou não, além de Londres, o longa foi filmado no Arquipélago das Canárias, onde em setembro passado entrou em erupção o vulcão Cumbre Vieja, na ilha de La Palma. No filme há cenas bem semelhantes ao que ocorreu.


Além da parte visual, a Marvel Studios apostou na diversidade, com um elenco formado por asiáticos, negros e latinos. Mostra também outros diferenciais como a primeira super-heroína com deficiência auditiva (Lauren Ridloff), inseriu uma cena de sexo (mesmo que curta) e apresenta o primeiro super-herói gay (com direito a beijo), papel de Brian Tyree Henry. Isso inclusive está incomodando muitas pessoas, a maioria criticando antes mesmo de assistir ao filme. Conheça mais da produção clicando aqui.


Angelina Jolie atrai todas as atenções com sua beleza. Combinou bem com o papel de uma quase deusa - a guerreira Thena (da deusa grega Atena). Os outros Eternos são interpretados por Salma Hayek como Ajak, líder do grupo, que tem o poder da cura; Richard Madden é Ikaris (que na mitologia seria Ícaro), um dos mais poderosos, com capacidade para voar e lançar raios dos olhos e Gemma Chan, que faz o papel de Sersi, capaz de manipular materiais, mas é a parte emotiva do grupo.


Completando o grupo estão Kumail Nanjiani como Kingo, o mais engraçado e com o poder de soltar raios pelas mãos; Lauren Ridloff faz a heroína surda Makkari, que tem supervelocidade; Brian Tyree Henry é Phastos, um inventor de armas e tecnologia; Ma Dong-seok interpreta Gilgamesh, o mais forte de todos; Barry Keoghan vive Druig, cuja habilidade é manipular os pensamentos das pessoas; e por fim Lia McHugh como Duende, que apesar de parecer uma adolescente é tão velha quanto os demais e tem o poder de criar ilusões.


No elenco secundário (por enquanto) estão Kit Harington (de "Game of Thrones"), como Dane Whitman, namorado de Sersi, mas que na continuação da franquia deverá assumir seu papel de Cavaleiro Negro. Outro que vai ganhar destaque numa possível continuação é o cantor Harry Styles, que interpretará Eros (na mitologia grega, o deus do Amor), irmão de Thanos.

E se os super-heróis são bacanas com seus superpoderes, os vilões não ficaram para trás. Os Deviantes, uma criação dos Celestiais que não deu certo (não é spoiler, está nos quadrinhos), cumprem bem o papel de inimigos mortais dos Eternos e garantem ótimas batalhas, no estilo "Vingadores". O objetivo deles é eliminar toda a vida inteligente dos planetas por onde passam.


O figurino não foi esquecido, com destaque para os uniformes dos super-heróis que valorizam e dão poder aos personagens, como os de Salma Hayek e Richard Madden, nas cores azul e dourado, o branco com dourado de Angelina Jolie (que aparece de cabelo louro, como nos quadrinhos), o azul e cinza de de Brian Tyree Henry e Kumail Nanjiani e o vermelho e cinza com uma vespa no peito de Lauren Ridloff .

Há também momentos divertidos e citações a dois personagens famosos da concorrência: Superman e Batman. Sem contar que uma das super-heroínas é comparada à personagem Sininho, dos desenhos de Peter Pan. Até mesmo o cinema de Bollywood é lembrado no roteiro. Romance e emoção compõem os diálogos dos personagens e foram bem divididos com a ação.


Outro destaque é a trilha sonora, com a música-tema - "Eternals Theme", composta e produzida pelo vencedor de dois Emmy's, Ramin Djawadi (das séries "Game of Thrones" e "Westworld"). Vários outros sucessos, especialmente do passado, chamam atenção, como "The End of The World" (usada no trailer), na voz original de Skeeter Davis, e "Time", da banda britânica Pink Floyd. Sem esquecer participações como a do grupo pop sul-coreano BTS, com "Friends", das cantoras Lizzo ("Juice") e Celina Sharma ("Nach Mera Hero"). 


A história

Criados pelos Celestiais, os Eternos, formam um grupo alienígena com superpoderes, além da imortalidade, que é enviado à Terra com a missão de guiar os habitantes e proteger o planeta dos Deviantes, seus principais inimigos desde sempre. A história deles vai atravessando milhares de anos, desde a chegada em 5.000 a.C. até os dias atuais, com vários flashbacks que explicam as ações e o comportamento de alguns de seus integrantes.

Após muitas batalhas e acreditando que os Deviantes estavam extintos, eles se separaram e cada um seguiu sua vida, vivendo em segredo por séculos entre os mortais. Até que uma nova ameaça dos monstros, agora mais poderosos, voltar a colocar em risco a Terra e seus habitantes, forçando os dez Eternos a se reunirem para impedir a destruição da humanidade. 


Como aconteceu cinco anos antes (de acordo com a cronologia da MCU), quando Thanos (que também era um Eterno que não deu certo) estalou os dedos em "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e dizimou metade da população do planeta, situação revertida em "Vingadores: Ultimato" (2019). A conexão entre este filme e "Eternos" é citada numa das cenas, reforçando a entrada dos "novos" (mas nem tanto) super-heróis da Marvel, no lugar da turma comandada pelo Homem de Ferro e o Capitão América. 

História dos quadrinhos


Os Eternos foram criados por Jack Kirby nos quadrinhos, no ano de 1976. Desenhista arte-finalista, roteirista e editor de histórias em quadrinhos americano de ascendência austríaca, ele criou, em 1940 com Joe Simon, o personagem de HQ, Capitão América. Outro super-herói importante do Universo Marvel, o Pantera Negra, foi desenhado em 1966 por Kirby, com roteiro de Stan Lee.

"Eternos" é o terceiro longa-metragem lançado da Fase 4 do MCU, com uma abordagem bem diferente, contanto histórias dentro de uma história. O roteiro insere várias referências à mitologia greco-romana e de outros povos antigos, com uma linguagem de fácil compreensão. Não é o melhor da Marvel, mas abriu bem a nova fase no cinema e será importante para os próximos filmes.


Ficha técnica:
Direção: Chloé Zhao
Roteiro: Chloé Zhao e os irmãos Matthew e Ryan Firpo
Exibição: nos cinemas
Produção: Marvel Studios
Distribuição: Walt Disney Pictures
Duração: 2h37
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ficção / fantasia / ação
Nota: 4,5 (0 a 5)

31 outubro 2021

História, ação e ideologia fazem de “Marighella” um filme imprescindível

Filme dirigido por Wagner Moura traz o cantor e ator Seu Jorge interpretando um dos maiores inimigos da ditadura militar brasileira (Fotos: Factoria Comunicação/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Pode ser que uns e outros não gostem. Mas fica claro, desde o início, que no filme “Marighella", direção de Wagner Moura, o personagem é apresentado e conduzido como o grande inimigo da ditadura militar, valente defensor da democracia e da liberdade. A posição política do diretor é explícita e talvez venha daí a honestidade do longa que, em 2h35 minutos, narra os últimos cinco anos do líder da ALN – Ação Libertadora Nacional. 


A produção, filmada na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, estreia nos cinemas no próximo dia 4 de novembro, há exatos 52 anos do assassinato de Marighella. Passou por importantes festivais pelo mundo - Berlim, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo, Cairo -, além de cerca de 30 exibições em países dos cinco continentes, e terá pré-estreias a partir do dia 1º de novembro em todo Brasil.


O recorte da biografia do político, escritor e guerrilheiro baiano no filme vai do golpe militar de 1964 até 1969, quando ele foi assassinado numa emboscada nas ruas de São Paulo. Mostrado como aglutinador, inteligente, criativo e corajoso, Carlos Marighella é interpretado na medida por Seu Jorge, que tem se revelado, além de cantor, um ator de talento, sempre expressivo quando seu rosto é explorado em closes.

Carlos Marighella (esquerda) é interpretado por Seu Jorge (direita)

É impossível sair ileso do filme, que entra em cartaz nos cinemas do Brasil com dois anos de atraso, segundo consta, por problemas provocados pela Ancine – Agência Nacional do Cinema – que fez de tudo para barrar a exibição do primeiro trabalho do ator Wagner Moura na direção, mesmo depois dele ter sido aplaudido de pé no Festival de Berlim, em 2019. 


“Marighella” é essencialmente didático e nitidamente popular, capaz de prender e emocionar pessoas das mais diferentes idades e - quem sabe - ideologias. E pode até agradar os que apreciam filmes de ação e tiroteios. Veja o vídeo especial sobre quem foi Marighella clicando aqui.


Baseado na biografia escrita por Mário Magalhães em 2012, o roteiro do longa - de Felipe Braga e Wagner Moura - é enriquecido com uma sacada inteligente: como eram muitos os guerrilheiros liderados por Marighella, os atores que os interpretam no filme aparecem com seus próprios nomes, como se representassem todos eles. 

Assim, Humberto Carrão, por exemplo, é o jovem guerrilheiro Humberto; Bella Carneiro simboliza a presença feminina como Bella, Henrique Vieira marca a atuação da igreja no movimento como frei Henrique e assim por diante.


Estão também no elenco artistas experientes e brilhantes como Bruno Gagliasso, convencendo satisfatoriamente como o desprezível Lúcio, delegado e torturador; Herson Capri como o empresário de imprensa Jorge Salles, Luiz Carlos Vasconcelos como o militante maduro Branco, e Adriana Esteves (em papel pequeno, mas marcante) como Clara, a mulher de Marighella.


É preciso destacar ainda a perfeita reconstituição de época do filme. Impossível não perceber que todos se locomovem de Fusca ou de Rural Willys, por mais perigosa que seja a ação. Outro destaque é a trilha sonora que, desde o início, mostra a que veio com hip hops de letras engajadas.


Mesmo que pareça parcial, mesmo que seja uma homenagem a um homem que nem todos admiram e aplaudem, “Marighella” é um filme imprescindível por colocar nas conversas o nome de alguém que não entrou nos livros de História do Brasil, apesar de ter lutado e morrido pelo que acreditava. Não dá para desprezar a trajetória de alguém que vivia repetindo: “Não tenho tempo para ter medo”.


Ficha técnica:
Direção: Wagner Moura
Exibição: nos cinemas
Produção: O2 Filmes / Globo Filmes / Maria da Fé
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Duração: 2h35
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Biografia