05 janeiro 2022

“King's Man: A Origem” abre novas possibilidades para a franquia

Harris Dickinson e Ralph Fiennes integram a agência de espionagem inglesa ultra secreta criada no século passado (Fotos: 20th Century Studios)


Jean Piter Miranda


Como foi apresentado em 2015, Kingsman é o serviço secreto do Reino Unido. Tão secreto que quase ninguém sabe da existência, embora esteja acima das polícias, dos políticos, das forças armadas e das agências de inteligência inglesas. Mas quando a Kingsman foi fundada? Para responder a essa pergunta, chega nesta quinta-feira (06) aos cinemas “King's Man: A Origem” ("The King's Man").  

O primeiro filme da franquia, “Kingsman – Serviço Secreto” (2015), trouxe os agentes especiais que se destacavam por seus ternos elegantes e alinhados. Indivíduos esses que eram dotados de muita inteligência e habilidades de combate. O que eles faziam? Eles salvavam o mundo de terroristas, basicamente. Isso quando a ameaça era perigosa demais para as forças de segurança comuns.  


No segundo filme, “Kingsman: O Círculo Dourado” (2017), a agência é atacada e heróis precisam pedir ajuda à “filial” americana, a “Statesman”. Juntos, eles precisam enfrentar uma grande traficante de drogas. Uma clara manobra da produção para ganhar mais audiência e simpatia nos Estados Unidos.

Agora, em “King's Man: A Origem”, a história se passa no início do século 20. Mais precisamente durante a Primeira Guerra Mundial. O duque Orlando Oxford (Ralph Fiennes - "A Escavação" - 2021) é o protagonista. Um pacifista que tenta de tudo para evitar mortes e destruição pela guerra. 

Ele conta com ajuda com seu guarda-costas Shola (Djimon Hounsou - "Capitã Marvel" - 2019), do filho Conrad Oxford (Harris Dickinson - "Malévola: Dona do Mal" - 2019), e sua assistente Polly (Gemma Arterton). Juntos, eles fazem um trabalho de investigação para saber os interesses por trás da guerra e, principalmente, quem está tramando tudo.   


"King's Man: A Origem" mantém aquela pegada de espionagem. Inclusive, consegue esconder bem os vilões, embora muita coisa seja previsível. Quase tudo que se passa é bem esperado. Especialmente para quem conhece um pouco da história das grandes guerras. O filme usa personagens históricos, que existiram na vida real, como o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando. E vários momentos da história também são mencionados.  


Com essas mudanças, "King's Man: A Origem" deixa de ser um filme de ação e espionagem e passa a ser um filme de guerra. Assim, as boas cenas de lutas vistas no primeiro longa dão lugar a trincheiras, tiros, bombas e situações radicais de perigo de fazer inveja à franquia “Missão Impossível”. 

E essa troca é bem ruim. Obras sobre as duas grandes guerras existem aos montes - boas, medianas e lamentáveis. A direção optou por ir por esse caminho tão repetido e saturado e isso certamente vai desagradar a muitos fãs da franquia.  


Quem viu e gostou do primeiro "Kingsman" vai sentir falta das cenas de luta. As referências históricas são muitas. Mas, pra quem não está ligado nisso, não vai fazer muito sentido. Muita coisa legal pode passar despercebida. 

É praticamente um caminhão de história derramado em duas horas de filme. E ao que parece, foi feito para o público europeu, especialmente os britânicos. É difícil imaginar que o mundo inteiro vai pegar todas as indicações.


As atuações são muito boas. Destaque para Tom Hollander ("Bohemian Rhapsody" - 2018) que interpreta os três primos: o Rei George da Inglaterra, o Czar da Rússia e o Kaiser da Alemanha, personagens reais da época. Rhys Ifans ("Homem-Aranha Sem Volta para Casa"- 2021) está ótimo e irreconhecível como o monge russo Rasputin. 

Daniel Brühl é um oficial alemão. Papel discreto, mas que chama a atenção por ter uma aparência quase idêntica a do Barão Zemo, que ele interpretou em "Capitão América - Guerra Civil" (2016) e na série “Falcão Negro e o Soldado Invernal” (2021). Aaron Taylor-Johnson ("Animais Noturnos" - 2016), também está no elenco. Participa pouco, mas com grande importância para a trama.  


Ao que tudo indica, “King's Man: A Origem” poderia ter ido para o lado dos filmes de espionagem e competir com a franquia 007, o que seria um embate difícil de vencer. Mas preferiram ir para o lado histórico das grandes guerras, onde é pouco provável que consigam fazer algo novo, que surpreenda, que seja marcante. Tem possibilidades para continuações, mas se seguir nessa linha deverá ser mais do mesmo. Só entretenimento. De boa qualidade, mas não vai passar disso.  


Ficha técnica:
Direção: Matthew Vaughn
Produção: 20th Century Studios / Marv Film / Marvel Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h11
Classificação: 14 anos
Países: Reino Unido / EUA
Gêneros: Ação / Espionagem

30 dezembro 2021

"O Festival do Amor" - uma apologia ao cinema do genial Woody Allen

San Sebastian, na Espanha, é o palco desta produção que trata de arte, família, casamento, traições e ciúmes (Fotos: Victor Michels)

Mirtes Helena Scalioni


Primeiro, é preciso dizer que, talvez com mais veemência do que os demais, o filme "O Festival do Amor" (“Rifkin’s Festival”) é uma apologia ao cinema. Mais do que uma homenagem, uma apologia. E como são muitas as citações e referências a clássicos, principalmente europeus, cada um vai encontrar os seus preferidos. 

De “Um Homem, Uma Mulher” (1966) a “Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois” (1962), passando por “O Anjo Exterminador” (1962), está tudo lá para quem se dispuser a descobrir. O filme estreia dia 06 de janeiro nos cinemas, mas a partir desta quinta-feira (30/12) acontecem várias pré-estreias, inclusive em salas de Belo Horizonte.


Mas não se engane. Não é preciso ser cinéfilo de carteirinha para apreciar o sempre genial Woody Allen, que desta vez usa o protagonista Mort Rifkin, seu alter-ego, para viajar numa história que junta arte, família, casamento, traições e ciúmes. A mistura, balanceada com maestria, promete e insinua, desde o início, uma boa história que, claro, só podia sair da cabeça de Allen. 


Inseguro em relação à fidelidade de sua bela mulher, a publicitária Sue, o crítico e professor de cinema Mort Rifkin (Wallace Shawn), desconfia que ela, interpretada por Gina Gershon, está tendo um caso com o charmoso diretor Philippe (Louis Garrel). 

Afinal, eles estão num “San Sebastian Film Festival”, na encantadora cidade litorânea espanhola que faz fronteira com a França. O cenário paradisíaco, com suas praias, ilhas e construções históricas, é um convite constante à paixão.


Enquanto defende com unhas e dentes a supremacia artística do cinema europeu com seus Godard, Truffaut, Fellini, Bergman, Buñel e demais, Mort usa sua eloquência intelectual – às vezes carregada de prepotência – para humilhar os ignorantes ou os que pensam diferentemente dele. E enquanto lida com seus sonhos e pesadelos em preto e branco – como convém a um legítimo Woody Allen – visita e tenta prestar contas com o passado.


Não por acaso, acontece que Mort é levemente hipocondríaco e acaba se apaixonando pela médica Jo Rojas, vivida pela bela Elena Anaya, que ele procura por causa de uma dor no peito. Ela, por sua vez, vive um casamento confuso e sofrido com um artista plástico espanhol, do qual não consegue se desvencilhar. Está armada a rede de desencontros e confusões.

Quem não quiser se arriscar a buscar as referências e citações de “O Festival do Amor”, vai se deliciar da mesma forma com mais um típico e autêntico Woody Allen, com suas eternas questões existenciais e filosóficas sobre a vida e a morte e, principalmente, sobre a sempre questionável transitoriedade do  amor.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Woody Allen
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: Somente nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 14 anos
Países: Espanha / EUA / França
Gêneros: drama, comédia romântica