21 fevereiro 2022

“A Ilha de Bergman”: filme cabeça e metalinguagem para lembrar a obra do genial diretor sueco

O filme se passa na ilha de Fårö, na Suécia, onde o cineasta passou boa parte de sua vida (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Fårö fica no Mar Báltico, a alguns quilômetros de Gotland, na Suécia. É a segunda maior ilha da província, com 5 quilômetros de comprimento e o nome se escreve assim, com uma estranha acentuação no “a” e trema no “o”.

Mas o que a torna famosa é o fato de ter sido, por muito tempo, o refúgio do angustiado Ingmar Bergman, que realizou ali muitas de suas obras. E hoje o lugar volta à cena, por ter sido motivo e inspiração para “A Ilha de Bergman” (“Bergman Island”), em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira (24).


Não é preciso ser profundo conhecedor de Bergman para assistir ao longa dirigido pela francesa Mia Hansen-Løve (“O Que Está Por Vir” – 2016). Até porque não se trata propriamente de uma homenagem ao diretor, embora se passe na ilha, mostrando e citando ideias dele. Na verdade, trata-se mais de uma reflexão sobre o difícil processo de criação na arte e como ele pode se confundir com a própria vida do artista.

O casal americano Chris (Vicky Krieps) e Tony (Tim Roth) chega à ilha em busca de inspiração para seus próximos trabalhos. Ambos são cineastas – ele, mais velho e reconhecido. Ela, jovem em início de carreira, planejando escrever um roteiro. Pelo que se pode perceber, o relacionamento entre os dois não anda bem, mais entediado do que em crise.


Aos poucos, eles vão descobrindo o lugar que, planejado para fãs de Ingmar Bergman e turistas curiosos, é cheio de referências ao diretor que, aos 42 anos, já havia criado e dirigido 25 filmes. Estão lá a árvore de “Gritos e Sussurros” (1972), o piano da quarta mulher do cineasta, o quarto onde foi filmado “Cenas de um Casamento” (1973)...

Todos falam muito do diretor, do que ele gostava, no que acreditava. Há até um estranho safari de ônibus, com guia, visitando as locações. E uma sala de projeção onde passam os filmes dele.


“A Ilha de Bergman” não é um filme de fácil assimilação, daqueles que contam uma história com começo, meio e fim. Com roteiro da própria diretora, as cenas se arrastam entre passeios de bicicleta, diálogos e paisagens e, a certa altura, o espectador é surpreendido com cenas de “O Vestido Branco”, que está sendo escrito pela jovem Chris, um filme dentro do filme – pura metalinguagem. E, claro, em algum momento, ficção e realidade se misturam e os personagens se confundem. É interessante. Mas não prende muito e demanda certa atenção.


Além do casal, estão no filme, em participações menores, Hampus Nordensen como Hampus, uma espécie de flerte de Chris na ilha; Mia Wasikowska como a Amy, do filme dentro do filme; e Anders Danielsen Lie – ora como Joseph, ora como Anders, dependendo da obra focada no momento.

O final – os finais, melhor dizendo – são reticentes e inconclusos. Pode frustrar, mas há quem goste. E, no fundo, não deixa de ser uma forma de se lembrar das muitas obras-primas do grande Ingmar Bergman.


Ficha técnica:

Direção e roteiro: Mia Hansen-Løve

Distribuição: Pandora Filmes

Exibição: nos cinemas

Duração: 1h52

Classificação: 14 anos

Países: França, Bélgica, Alemanha, Suécia, México

Gênero: drama

18 fevereiro 2022

Em "Uncharted: Fora do Mapa", Tom Holland se dá bem como herói de videogame no estilo Indiana Jones

Produção traz muita ação e abre espaço para outros filmes com o personagem Nathan Drake (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


Cada vez mais versátil, o ator Tom Holland ("Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" - 2021) agora encarna uma versão jovem de Indiana Jones na caçada a um tesouro de US$ 5 bilhões. Ele é Nathan (Nate) Drake, o herói de "Uncharted: Fora do Mapa" ("Uncharted: Drake's Fortune"), em cartaz nos cinemas.

Ao lado de Holland está outro conhecido por filmes de muita ação - Mark Wahlberg (de "Transformers - A Era da Extinção" - 2014 e "Infinito" - 2021). Ele interpreta o canastrão Victor "Sully" Sullivan, um ladrão de antiguidades que está atrás das mesmas relíquias de Drake. Mesmo mantendo o estilo de sempre de outras produções, Wahlberg forma uma boa dupla com o herói e convence. 


A produção tem muita ação e aventura do início ao fim, com Nate despencando de um avião, sem paraquedas, ficando pendurado em castiçais ou perseguindo mocinhas em telhados de prédios. Holland está "bombadinho" e mostra boa forma física e mais segurança na interpretação. 

Graças especialmente ao seu papel de super-herói "amigo da vizinhança" e às participações no Universo Marvel. Além não perder a simpatia e o carisma de outros filmes em que participou e que são características do personagem do game.


Coincidência ou não, há cenas em que o público tem a impressão de que vão sair teias de aranha dos pulsos de Nate. Como era esperado, Holland é o destaque e segura bem o papel, semelhante ao de Harrison Ford na franquia "Indiana Jones". Foi uma ótima escolha do ator para interpretar o Nathan Drake dos jogos que ainda fazem sucesso entre jogadores.

No filme, mesmo sendo um pacato bartender, Nate é descendente do grande explorador Francis Drake e grande conhecedor de história e de antiguidades. 


Ele vai usar o que aprendeu para tentar encontrar o irmão Sam (Rudy Pankow) desaparecido há anos enquanto procurava o cobiçado tesouro perdido de Fernão de Magalhães. Mas para isso terá de se unir ao trambiqueiro e mentiroso Victor Sully e à parceira dele, Chloe Frazer (Sophia Taylor-Ali), numa jornada ao redor do mundo.


Claro que não poderiam faltar os vilões. Ponto falho para Antonio Banderas ("Os 33" - 2015, e "Mercenários 3" - 2014) , que repete a forma caricata de atuar neste gênero de filme. Ele faz o papel de Moncada, um colecionador bilionário espanhol bem previsível e bobo, até nas cenas em que deveria ser cruel. O ator está escalado para integrar o elenco de "Indiana Jones 5", previsto para 2023.

Já sua parceira Braddock (Tati Gabrielle), chefe de um grupo de mercenários e velha conhecida de Sully, garante a vilania raiz, com muitos tiros, brigas e facadas.

Game "Uncharted" (Crédito Naughty Dog/Playstation)

Para quem busca entretenimento, "Uncharted: Fora do Mapa" é uma boa opção e vale ser assistido numa sala Imax pelos efeitos visuais e locações paradisíacas. Baseado na série de games "Uncharted", da Sony para Playstation, o filme abre caminho para outras produções e aventuras com os personagens Nathan Drake e Victor Sully, como foi feita na famosa franquia criada em parceria com a Naughty Dog.

Se os próximos forem tão bons como este, poderá conquistar um público fiel e carente de filmes no estilo de Lara Croft e Indiana Jones, cujo último longa foi exibido em 1989 com "A Última Cruzada", dirigido por Steven Spielberg. Vale a pena conferir. Uma observação: não saia da sala de cinema. Há duas cenas pós-créditos, como nas produções da Marvel.


Ficha técnica:
Direção: Ruben Fleischer
Produção: Columbia Pictures / Sony Pictures / Atlas Entertainment / Arad Productions
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: os cinemas
Duração: 1h56
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: Aventura / Ação