28 março 2022

"No Ritmo do Coração" vence como Melhor Filme" no Oscar e "Duna" fatura seis estatuetas técnicas

Divulgação


Maristela Bretas


Para surpresa geral, "No Ritmo do Coração" ("Coda") foi escolhido o melhor Filme do Oscar 2022, conquistando também as estatuetas de Melhor Ator Coadjuvante, levado por Troy Kotsur, e Melhor Roteiro Adaptado (uma adaptação da obra francesa "A Família Bélier"). O anúncio do vencedor do principal prêmio da noite foi feito por Liza Minelli, que estava em uma cadeira de rodas, e Lady Gaga.

Muito emocionado, Troy Kotsur é o primeiro ator surdo a receber o prêmio e agradeceu a todos pelo importante prêmio na linguagem de Libras. Mas principalmente ao pai, a quem chamou de seu maior herói. Como era previsto, "Duna" foi quem faturou seis estatuetas técnicas na premiação: Melhor Som, Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Design de Produção, Melhor Edição e Melhor Trilha Sonora. 

"No Ritmo do Coração"

A 94ª edição do Oscar realizada na noite desse domingo no Teatro Dolby, na cidade de Los Angeles, contou com a apresentação de três mulheres - Amy Schumer, Wanda Sykes e Regina Hall. A apresentação externa de Beyoncé, lindamente vestida de verde para a canção "Be Alive", do filme "King Richard: Criando Campeãs" foi um dos pontos altos na abertura da cerimônia. 

Mas foi um homem, que deveria ser a estrela da noite, quem causou o maior constrangimento à solenidade. Após um comentário infeliz do apresentador Chris Rock sobre a falta de cabelo de Jada Pinkett Smith, que sofre de uma doença autoimune que provoca perda de cabelo, Will Smith levantou da plateia e deu um tapa no rosto de Chris Rock no palco. 

"King Richard: Criando Campeãs"

Voltou a seu lugar e gritou para o apresentador para não falar o nome da esposa dele de novo. Ficou um clima estranho. E logo depois Rock apresentou o vencedor de Melhor Documentário: "Summer of Soul". Pouco depois, Will Smith foi escolhido Melhor Ator por seu papel em "King Richard: Criando Campeãs". Chorando, agradeceu a oportunidade de proteger as atrizes que interpretaram a mulher e as filhas dele no filme. E justificou a agressão como uma postura que Richard Williams tomaria na criação das filhas. Depois pediu desculpas à Academia e aos colegas.

O primeiro prêmio a ser entregue foi o de Melhor Atriz Coadjuvante e foi conquistado por Ariana DeBose, por seu papel de Anita, em "Amor, Sublime Amor", adaptação do musical de 1961, interpretada à época por Rita Moreno, que também ganhou o Oscar. O remake foi dirigido por Steven Spielberg, presente no evento. Ariana é a primeira atriz negra assumidamente queer, a ser vencedora e agradeceu muito a premiação.

"Amor, Sublime Amor"

Um clipe sobre os 60 anos de James Bond foi exibido em homenagem à famosa franquia do espião 007 com licença para matar. Também o diretor Francis Ford Coppola, acompanhado dos atores Robert De Niro e Al Pacino, foi homenageado pelos 50 anos de "O Poderoso Chefão" e agradeceu pela oportunidade de fazer esta obra.

"Encanto" levou a estatueta de Melhor Animação, anunciada por três princesas de live-actions da Disney - Lily James ("Cinderella"), Halle Bailey (que vai viver em breve Ariel em "A Pequena Sereia") e Naomi Scott (a Jasmine, de "Alladin"). Pouco antes do anúncio, a música tema de "Encanto" - “Dos Oruguitas” - foi apresentada ao público. A equipe agradeceu à Disney, às famílias e à Colômbia, onde se passa a história.

"Drive My Car"

Um momento absurdo foi terem cortado o discurso de Ryûsuke Hamaguchi, diretor de "Drive My Car", após ele receber a estatueta de Melhor Filme Internacional. Firme, o diretor japonês pediu para ficar no palco e continuar seus agradecimentos, ao lado da atriz sul-coreana Youn Yuh-jung (de "Minari: Em Busca da Felicidade"), que lhe entregou a estatueta, Foi um dos momentos mais emocionantes do Oscar.

Neste ano, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação, mudou seus critérios (com a desculpa de reduzir o tempo e atrais público) e entregou a premiação de oito das 23 categorias fora da cerimônia. As categorias anunciadas apenas para o público presente, antes do evento ao vivo, foram: Melhor documentário de Curta-Metragem; Melhor Edição; Melhor Cabelo e Maquiagem; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Design de Produção; Melhor Curta-Metragem de Animação; Melhor Curta-Metragem e Melhor Som.

"Os Olhos de Tammy Faye"

Veja os vencedores

MELHOR FILME - "No Ritmo do Coração"

MELHOR DIREÇÃO - Jane Campion - "Ataque dos Cães"

MELHOR ATOR - Will Smith - "King Richard: Criando Campeãs"

MELHOR ATRIZ - Jessica Chastain - "Os Olhos de Tammy Faye"

MELHOR ATOR COADJUVANTE - Troy Kotsur - "No Ritmo do Coração" 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE - Ariana DeBose - "Amor, Sublime Amor"

MELHOR FILME INTERNACIONAL - "Drive My Car" - Japão

"Cruella"

MELHOR FIGURINO - Jenny Beaven - "Cruella

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO - Siân Heder - “No Ritmo do Coração”

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL - Kenneth Branagh - "Belfast"

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL - “No Time To Die” (do filme "007 - Sem Tempo Para Morrer"), de Billie Eilish

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL - Hans Zimmer - "Duna"

MELHOR ANIMAÇÃO - "Encanto"

MELHOR FOTOGRAFIA - Greig Fraser - "Duna"

MELHOR CURTA METRAGEM - "The Long Goodbye"

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO - "The Windshield Wiper"

MELHOR DOCUMENTÁRIO - "Summer of Soul"



MELHOR SOM - "Duna"

MELHOR EDIÇÃO - "Duna"

MELHOR CABELO E MAQUIAGEM - "Os Olhos de Tammy Faye"

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO - "Duna"

MELHORES EFEITOS VISUAIS - "Duna"

MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM - “The Queen of Basketball”




23 março 2022

Sensibilidade e luto são os pontos de destaque de "Drive My Car"

O carro é uma peça importante na rotina dos personagens de Hidetoshi Nishijima e Tôko Miura (Fotos: Rapid Eyes Movies)


Marcos Tadeu


Concorrendo a uma vaga na categoria "Melhor Filme" para o Oscar, "Drive My Car" ("Doraibu mai kâ") é baseado no conto de Haruki Murakami publicado no livro “Onna No Inai Otoko Tachi". O longa, dirigido por Ryûsuke Hamaguchi, conta a história de Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) casado com Oto (Reika Kirishima) uma importante roteirista.

No primeiro ato do filme vemos com é a relação de Yûsuke e Oto, porém é ela quem esconde mais segredos e mentiras. Enquanto o marido recebe propostas do mundo da atuação e direção, a esposa o trai com um ator de TV em seu próprio apartamento. Após descobrir a traição, o protagonista esconde seu sentimento pelo ocorrido. 


Mas há algo mais envolvendo o casal. Eles vivem a dor do luto causado pela morte da filha, vítima de uma pneumonia. Isso tudo faz com que o Yûsuke sempre se desvie do problema, seja ele literal ou simbólico. 

A finitude da vida, no entanto vai levar o casal a outros dramas e sofrimentos. O enredo começa a virar quando Yûsuke não consegue mais lidar com o seu personagem na peça em que atua. Os problemas se tornam maiores com o luto e as frustrações de não poder conseguir encará-los de frente e superar os conflitos internos.


Outro ponto de virada do roteiro acontece dois anos depois, quando o protagonista recebe uma proposta para dirigir a peça multilinguagem "A Gaivota", de Anton Tchekhov. O maior desafio de Yûsuke é o de se comunicar idiomas diferentes, como japonês, mandarim, coreano e até a linguagem de sinais coreana. 

Enfrentar uma falta de diálogo é o que faz a sensibilidade do filme ser tão profunda. O protagonista precisa ser líder e aprender a tratar com cada tipo de pessoa em sua linguagem e a enfrentar sua insegurança. Uma alusão a sua vida de não comunicação com a esposa.


É válido destacar também a importância filosófica do carro na obra. Yûsuke, que sempre dirigiu o próprio carro para todo e qualquer canto, precisa ceder e deixar que a motorista Misaki Watari (Tôko Miura) assuma a direção. 

Assim como no carro, dirigir é um processo de confiança, de lidar com o medo e de colocar a segurança do outro como prioridade. O veículo tem uma função primordial na narrativa para os personagens Yûsuke, Misaki, Kôji Takatsuki (Masaki Okada). O veículo, de alguma forma, faz com que seus ocupantes se sintam a vontade para conversarem e contarem suas histórias. 

O que talvez a obra deixe a desejar é o fato de não explorar as personagens Oto e a motorista Misaki. Pouco se sabe do passado dessas duas mulheres que são figuras importantes, mas que não receberam o tempo de tela merecido. Apesar de ser um belo filme, a longa duração - quase 3 horas de uma lenta narração - pode deixar o telespectador cansado.


De toda forma, "Drive My Car" aborda com muita sensibilidade a dor e o luto. E também como nossas diferenças podem nos unir em meio às tragédias da vida. O longa de Hamaguchi chega com muita força no cenário do Oscar. Se ele se tornará um novo "Parasita" (2019), com chances de levar as estatuetas de Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Filme Internacional (já faturou o Globo de Ouro 2022), somente no dia 23 de março saberemos. O certo é que o cinema asiático foi chegando, conquistando espaço e fazendo bonito. As chances são muito boas.


Ficha técnica:
Direção: Ryûsuke Hamaguchi
Produção: Bitters End
Distribuição: 02 Play
Exibição: Nos cinemas // catálogo do Mubi (a partir de 2 de abril)
Duração: 2h57
Classificação: 14 anos
País: Japão