15 junho 2022

“Um Broto Legal” não explica por que um estúpido cupido pode mais do que uma carreira promissora

Marianna Alexandre e Murilo Armacollo estão bem como Celly e o irmão Tony Campello (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Não é preciso ir muito longe para chegar à conclusão de que o diretor Luiz Alberto Pereira tem fortes ligações com a sua cidade, Taubaté, no interior de São Paulo. Afinal, “Um Broto Legal” sobre a trajetória de Celly Campello, que entra em cartaz nesta quinta-feira (16), é o segundo filme dele sobre celebridades da sua terra. 

O outro, de 2006, é “Tapete Vermelho”, belo tributo ao ator Mazzaropi, que lotava as salas de cinema nas décadas de 1950 e 1960, com atuação antológica de Matheus Nachtergaele como o caipira que queria, a qualquer custo, apresentar o comediante ao filho adolescente.


Mas, se em "Tapete Vermelho", Luiz Alberto foi brilhante e criativo, inventando uma história na qual Mazzaropi era apenas um alvo a ser alcançado por uma família interiorana, em “Um Broto Legal”, ele e o roteirista Dimas Oliveira Júnior parecem ter optado pelo óbvio. A trajetória da taubateana Célia Benelli Campello é mostrada de forma quase burocrática, sem charme, sem brilho, sem dramas.

Quem acompanhou a época, ou já se interessou pela música daquele tempo (final dos anos 50 e início dos 60), sabe que o rock brasileiro passou a existir a partir de versões de sucessos de conjuntos e cantores americanos. E que Celly Campello foi a primeira mulher pop star do rock’n’roll nacional. Até então, quem dominava as rádios eram os boleros e sambas-canções entoados pelos vozeirões de  Ângela Maria, Nora Ney e afins. 

Celly e Tony Campello (Divulgação)

Foi um arraso quando aquela menina apareceu cantando “Estúpido Cupido”, “Banho de Lua” e “Broto Legal”. Há quem diga que, antes de Celly Campello e seus rocks, a juventude brasileira não existia. Portanto, até pelo pioneirismo, a meiga e delicada cantora de voz pequena e afinada talvez merecesse um filme mais arrojado, por mais que sua trajetória pareça singela e linear. 

Com atores praticamente desconhecidos e roteiro previsível, o que fica no final é uma espécie de obrigação cumprida, uma cinebiografia morna. Não se pode dizer que o elenco é fraco. Nada disso. São muito gracinhas a novata Marianna Alexandre como Celly e Murilo Armacollo como Tony Campello. Corretos estão também o casal que interpreta os pais dos dois artistas - Paulo Goulart Filho e Martha Meola, como o sim e o não - sem falar de Danilo Franccesco, como Eduardo, o namorado da estrela. 


Há que se elogiar ainda o esforço da equipe para recriar cenários de um tempo em que não havia vídeos, apenas fotos. Celly morreu em 2003, mas o filme conta com uma consultoria muito especial: o irmão mais velho Tony, que, aos 85 anos, se envolveu com o projeto e partilhou várias histórias que serviram de base no roteiro, além de fotografias, discos, prêmios dela e dele, que acabaram sendo alguns dos objetos utilizados no filme. 


Uma curiosidade: o roteirista Dimas Oliveira Júnior lançou em 2012 o documentário longa-metragem "Celly e Tony Campello - Os Brotos Legais" com entrevistas de Renato Teixeira; Agnaldo Rayol, que era amigo da família; depoimentos do irmão Tony e de Wanderléia falando sobre a influência da cantora, precursora do rock no Brasil, na geração dela e na Jovem Guarda; e uma entrevista com Celly feita em 1999 (ela morreria de câncer em 2003). Este filme está em exibição no Canal Brasil (confira o canal em sua operadora), com reprises nos dias 18 e 24 de junho e 1º de julho.

Pôster do documentário (Divulgação)

Pode até ser que fãs mais ardorosos reconheçam, no longa, o retrato fiel da mocinha certinha, careta e apaixonada que se recusou a ser estrela. O roteiro, portanto, justificaria a vida previsível e sem arroubos da artista. Pode ser. Mas como cinema é arte, não custava dourar a pílula, salpicar purpurina, dramatizar, priorizar conflitos, enfatizar dificuldades, analisar e, principalmente, jogar luz e discutir, de alguma forma, a distância entre talento e vocação. 

Ninguém pergunta, por exemplo, por que ela foi convidada por Roberto Carlos para ser a figura feminina da Jovem Guarda e disse não. “Um Broto Legal” pode até ser um filme correto e razoável. Mas falta tempero.


Ficha técnica:
Direção: Luiz Alberto Pereira
Roteiro: Luiz Alberto Pereira e Dimas Oliveira Jr.
Produção: Lapfilme Produções
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h34
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, biografia, musical

13 junho 2022

"Assassino Sem Rastro" só faz o espectador esquecer da experiência de ver um bom filme

Liam Neeson volta às telas como um assassino de aluguel que está com Alzheimer e quer aposentar (Fotos: Diamond Filmes/Divulgação)



Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Existem filmes incríveis e filmes medianos. "Assassino Sem Rastro" ("Memory"), em cartaz nos cinemas, entra nessa segunda categoria. Confesso que fui conferir porque gosto de Liam Neeson desde "Busca Implacável" (2008), mas do ano desse icônico filme até hoje foram poucas as produções em que o ator entregou algo novo ou diferente.


Na história conhecemos Alex Lewis (Liam Neeson), um assassino de aluguel que quer aposentar sua vida de crimes mas que antes precisa de fazer um último serviço que lhe renderá uma boa grana. Porém, ele descobre que nessa troca de favores com gente do crime terá de executar uma criança. Ao recusar a proposta, passa a ser perseguido por uma rede de corrupção maior do que poderia imaginar.


Nos primeiros minutos do longa, a trama parece ter fôlego suficiente para se sustentar até o final. Principalmente porque o protagonista manda bala e faz justiça com as próprias mãos (apesar de ser clichê, a opção ainda funciona em muitos filmes de ação).

Os carismáticos policiais Vincent Serra (Guy Pearce) e Linda Amistead (Taj Atwal) são o ponto alto da narrativa. Dá para sentir empatia pela dupla, apesar de nosso vilão/protagonista conseguir passá-los para trás.


A trama também aborda a questão do abuso infantil e dos cartéis do narcotráfico. Quem carrega esse papel é Monica Bellucci como a empresária Davana Sealman. Mas na narrativa essas abordagens são tão caricatas que praticamente soam de maneira desconexa perto do restante do filme.

As cenas de ação, a maioria com Alex dando muitos tiros em seus adversários, são até boas. Isso é um dos poucos elementos positivos que Neeson faz e faz bem. O problema maior é na execução do roteiro. Me incomodou as muitas conveniências do roteiro e, principalmente, as atuações.


Quando acrescentamos o ingrediente do Mal de Alzheimer sofrido pelo protagonista, a trama fica em um vai e vem sem fim. Ao mesmo tempo em que Liam Neeson é vilão, a doença o deixa frágil e toda sua construção acaba indo meio que pelos ares.

Algumas vezes, esse artifício do roteiro faz com que o próprio ator soe forçado em seu papel. Existe até uma reviravolta, quase como uma maneira desesperada de fisgar a audiência, mas é tão nos 45 segundos do segundo tempo que faltou um maior desenvolvimento do personagem. "Assassino Sem Rastro" é um filme facilmente esquecível, tanto pelo roteiro fraco quanto por tudo o que o ator tentou entregar.


Ficha técnica:
Direção: Martin Campbell
Produção: Black Bear Pictures, STX Films, Welle Entertainment
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h54
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, ação