16 julho 2022

"Garota Inflamável" não passa de um filme monótono

Jovem vive uma vida de ostracismo e incêndios provocados para chamar atenção (Fotos: Francesco di Giacomo /Filmproduktion)


Marcos Tadeu
Narrativa cinematográfica 


Poucos filmes entram na minha classificação de ruim e “Garota Inflamável” ("Stillstehen") está fácil nessa categoria. O longa dirigido e roteirizado por Elisa Mishto chegou ao cinema sem muito alarde, com exibição restrita a poucas salas especiais de algumas cidades.

Na história conhecemos Julie (Natalia Belitski), uma jovem perspicaz e mimada que tem seu próprio manifesto: não fazer nada. A protagonista é solitária, não trabalha, não estuda e nem tem amigos. Perdeu o pai vítima de um infarto e a mãe se suicidou. Após essas tragédias, ela, na maior parte do roteiro, não faz mais NADA a não ser atear fogo nas coisas para chamar atenção. 


Como na primeira cena em que ela se envolve com um cara no supermercado e depois incendeia o carro dele e justifica que “o carro mereceu”. Em seguida, liga para a clínica psiquiátrica porque sabe que precisa se tratar.

O fato de a protagonista não fazer nada é justificado por ela com a desculpa de que o trabalho é um meio para um fim, de forma para que as pessoas possam ser recompensadas. É quase uma crítica ao capitalismo, e que ela não se encaixa nessa vida. 

Acho, no entanto, que a questão é que Julie não sabe o que fazer após uma perda; Ela quer ter um sentido para sua vida, um propósito maior e como não consegue, acaba se tornando uma personagem apática e violenta.


Do outro lado temos Agnes (Luisa-Céline Gaffron) que tem um grande problema: ela não consegue amar a própria filha de 3 anos, sendo que seu sonho era ser mãe. 

A enfermeira então começa a se envolver e se encantar pela forma como Julie faz seu protesto. Agnes aqui tem um papel fundamental na narrativa: tentar decifrar Julie. Só que até isso é colocado de forma complicada para o público.


A relação de Agnes e Julie tenta ser um romance LGBTQIA+ mas acho que, da forma como a história foi desenvolvida, soou como se quisessem acabar logo com o filme. Poderia ter sido dado mais tempo para desenvolver a relação das duas. Tornou-se uma experiência cansativa. 

A enfermeira afirma várias vezes que Julie não é doente e sabe muito bem o que quer. O curioso é que, sempre que a jovem tem uma brecha, coloca fogo em sua antiga casa, em uma colega da clínica ou em si própria, como uma necessidade de chamar atenção. “Garota Inflamável” até tenta ser denso, mas cai na esfera de ser um filme raso como um pires, fraco em todos os sentidos.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Elisa Mishto
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h31
Classificação: 16 anos
Países: Alemanha e Itália
Gênero: drama

14 julho 2022

Caótico e frenético, “Elvis” reafirma a força do mítico e verdadeiro Rei do Rock, primeiro e único

Austin Butler no papel do cantor entrega uma interpretação capaz de fazer o público se derreter de emoção (Fotos: Kane Skennar/Warner Bros. Entertainment)


Mirtes Helena Scalioni


Talvez a grande unanimidade de “Elvis” seja mesmo a constatação, mais uma vez, do grande ator que é Tom Hanks, que arrasa no papel do "Coronel" Tom Parker, o principal empresário do cantor, responsável, segundo muitos, pelo seu sucesso. E responsável também, segundo outros, pela morte prematura do artista, aos 42 anos, já no ostracismo e dependente de remédios. 

O filme, dirigido por Baz Luhrmann (“O Grande Gatsby” - 2013), entra hoje em cartaz nos cinemas de todo o Brasil, e promete incendiar o público e emocionar jovens e maduros com o inegável talento e carisma do Rei do Rock.


Impecável como o empresário malandro e enigmático, Hanks revela, sem muito esforço, as artimanhas que o coronel usou, com Elvis Presley e sua família, para convencer o artista a fazer o que ele queria. Cheio de lábia e armações conseguiu, por exemplo, barrar a carreira do roqueiro no exterior.

A performance brilhante do ator, transformado ao final do longa numa quase caricatura de si mesmo, já tem sido apontada como forte candidata ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Merecidamente, diga-se.


Os fãs mais ardorosos de Elvis Presley podem achar, no início, que Austin Butler (da série “O Diário de Carrie" - 2013) não se parece muito com o Rei do Rock, jovem de olhos azuis e beleza estonteante. Mas aos poucos, o trabalho do ator se torna tão convincente que, ao final, o público certamente vai se derreter de emoção, hipnotizado com a semelhança. 

Não são apenas os requebros, gestos vigorosos e trejeitos. A entrega ao papel é total, com nuances que revelam o homem por trás do mito. Quase uma incorporação.


Além do papel político de Elvis, que com sua rebeldia e carisma quebra a rigidez de uma América careta e moralista, o longa revela o lado bom-moço do artista, seu amor incondicional pela mãe Gladys (Helen Thomson), a relação com o pai e também empresário Vernon (Richard Roxburgh), o casamento apaixonado com Priscilla (Olivia DeJonge) e seu jeito quase ingênuo de se deixar explorar até prejudicar a própria saúde.


Quem assistiu ao documentário de dois episódios “Elvis Presley – The Searcher”, no Netflix, vai se lembrar que a infância e adolescência do cantor foram impregnadas da chamada música negra, do gospel ao blues, do country ao jazz. 

E o filme de Luhrmann confirma isso de maneira inquestionável, dando uma conotação quase mística ao menino diante da cantoria fervorosa nas igrejas. 


Elvis preferia estar entre os pretos e era com eles e elas que realimentava sua arte. São dignas de atenção suas conversas com B.B King (Kelvin Harrison Jr). O longa deixa claro também que o artista pagou caro por isso, ao desobedecer às leis de segregação vigentes nos Estados unidos.


Que ninguém se engane: “Elvis” não é exatamente uma cinebiografia tradicional. Segundo tem definido o diretor, é uma história de super-herói. Trata-se de um filme frenético, caótico e pop, como os escandalosos movimentos de quadris do roqueiro, magistralmente repetidos por Butler. Impossível não aplaudir no final.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Baz Luhrmann
Produção: Bazmark Films / Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h39
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: musical, biografia, drama