13 agosto 2022

"O Telefone Preto" só deixa ocupado o público em um suspense mediano

Ethan Hawke é um sequestrador de crianças que aterroriza uma pequena cidade (Fotos: Universal Studios)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica

 
Recebendo uma nota de 87% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo 101 críticas positivas e 15 negativas, "O Telefone Preto" ("The Black Phone"), dirigido e roteirizado por Scott Derrickson, chegou aos cinemas fazendo barulho por ser um terror psicológico que foge do óbvio. Mas decepciona no quesito susto e abusa nos clichês do gênero.


Em Colorado, 1978, conhecemos Finney Shaw (Mason Thames), um garoto de 13 anos tímido mas muito inteligente, que é raptado pelo Sequestrador (Ethan Hawke) que o coloca em um quarto à prova de som. Existe na cela um telefone preto que começa a tocar e a passar recomendações para ajudar o protagonista a sair daquele lugar.


Parte do enredo busca mostrar a temática da nostalgia e da infância, por se passar em uma cidade com poucos habitantes. Vemos como aquelas crianças dali se divertem em sua comunidade e como é a relação com os seus pais. 

Somos apresentados ao núcleo do nosso protagonista, que sofre com problemas de consumo de álcool e acaba se tornando muito violento. Quando Gwen (Madeleine McGraw), irmã mais nova de Finney, começa a ter visões sobre a questão dos sequestros, seu pai muito ríspido, proíbe que a menina veja e tenha acesso ao que está ocorrendo.


Em questão do terror, "O Telefone Preto" até funciona, colocando alguns jump scare que até provocam sustos no espectador. Mas achei que iam explorar mais esta parte.

Precisamos falar de Ethan Hawke como o Sequestrador: ele está à vontade no papel e assusta até com máscara cobrindo o rosto. A atuação dele chama a atenção. 


Um grande problema aqui é a falta de profundidade do vilão. Sabemos que ele sequestra algumas crianças e mata outras, mas qual a motivação? Será que ele teve um pai abusivo? O que o levou a planejar esses sequestros? Tudo isso fica numa camada rasa e em nenhum momento se propõe a resolver.


O maior defeito do filme, sem dúvida, são as saídas clichês para o protagonista. Ele recebeu orientações de outras crianças e tudo estava muito fácil, não consegue sentir emoção e adrenalina. Se do outro lado do telefone preto já tinha um time de crianças orientando, tudo isso fica em uma camada superficial e de fácil solução. Senti que isso atrapalha até os personagens secundários, como os policiais que não serviam de nada.

O que se pode concluir é que "O Telefone Preto" é um filme que só faz ocupar o público com uma história mediana. Apesar das grandes notas, faltou uma continuação ou um prequel para explicar as motivações do sequestrador.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Scott Derrickson
Produção: Blumhouse Productions / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h43
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense 

10 agosto 2022

"Thor: Amor e Trovão" - herói volta às origens em uma jornada de autoconhecimento e diversão

A química entre Chris Hemsworth e Natalie Portman é um dos pontos que agrada no filme (Fotos: Marvel Studios)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Amor e Vingança, sem dúvida são as palavras que traduzem o sentimento de "Thor: Amor e Trovão" ("Thor: Love And Thunder"). Nessa nova história, temos o filho de Odin cansado de todas as suas perdas. Isso pode justificar, logo no início da narrativa, o motivo de ele ter se tornando um bêbado (ainda em "Vingadores: Ultimato"- 2019) e a maneira como tenta esconder tudo com o seu humor, criando uma casca para se proteger dos traumas que já passou. 

Mas logo isso é deixado de lado e Thor (Chris Hemsworth) quer dar a volta por cima se unindo aos Guardiões da Galáxia para ajudar a salvar reinos de ameaças intergalácticas. Porém, quando Gorr, o Carniceiro dos Deuses (Christian Bale) aparece, o asgardiano precisa buscar reforços para esta batalha, que ele não vai conseguir apenas com o fiel amigo Korg (Taika Waititi).


Um desses reforços é Jane Foster (Natalie Portman), seu grande amor, que enfrenta uma batalha terrível e dura contra o câncer e ainda assim construiu um legado como cientista. Apesar do estágio avançado, ela ainda busca uma cura rápida para a doença. 

Talvez o ponto que mais me incomodou foi justamente a conveniência de roteiro. A solução para Jane é justamente o martelo de Thor, o Mjolnir, que mesmo despedaçado consegue se restaurar e a transforma na Poderosa Thor. 


A partir daí, o ritmo do filme é acelerado ao colocá-la junto ao protagonista. Achei bem apressada a forma usada no roteiro para chegar nesse caminho. A entrada da Poderosa Thor é triunfal, com certeza, mas sem um respiro e completamente previsível. 

Talvez quem mais tenha se surpreendido com ela foi Thor. Jane demonstra aquelas inseguranças do que fazer após se tornar heroína e as dúvidas de enfrentar o primeiro vilão, mas isso ela vai aprender com Thor e a rainha Valquíria (Tessa Thompson).


O humor nessa produção é equilibrado, há algumas piadas fora do tom, mas no todo é um filme que busca ser menos engraçado que o anterior. "Thor: Amor e Trovão" usa do humor, mas não é a base do todo, como em "Thor: Ragnarok" (2017), que decidiu ser humor do inicio ao fim. 

Por isso acho que aqui o filme consegue o equilíbrio em quase toda duração. Exemplo disso são os bodes: eles não são tão engraçados, mas sem dúvida fazem o público dar boas risadas quando aparecem na tela.



Quando Thor e sua equipe vão buscar ajuda dos deuses, existe aquela famosa desconstrução dos personagens, Thor suplica a Zeus (Russell Crowe), um exército de deuses, tipo Vingadores, para combater Gorr. 

Mas ai vemos o deus do Raio e de todos os deuses em uma atitude covarde e egoísta, que se preocupa mais com ele mesmo do que com os próprios deuses e até a humanidade. Crowe dá um show de atuação, apesar de caricata, que cabe muito bem com a proposta. 


É preciso falar de Christian Bale como Gorr. As motivações do vilão são até funcionais e por isso ele parte para a vingança quando pede ajuda aos deuses que ele idolatra e eles deixam sua filha morrer. Gorr parte para a vingança e o desejo de exterminar todos eles. O crescimento do vilão é interessante, ele não aparece tanto, mas quando surge na tela consegue trazer medo e horror ao público. 


O visual ficou condizente e acho que ele tinha mesmo que ser esse vilão. O que deixa a desejar é sua conclusão que acho muito parecida com a de Wanda em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" (2022). As cenas de ação acrescentadas com os efeitos visuais funcionam bem, tirando no inicio. As cenas de guerra com crianças, apesar de ser a única alternativa naquele momento, foram meio exageradas e forçadas.

"Thor: Amor e Trovão" é uma aventura engraçada e dramática sobre a busca do herói de Asgard por um propósito para sua vida, que pode estar na volta as suas origens e às pessoas que amou. 

Não podemos esquecer da excelente trilha sonora do filme, sob o comando do excelente Michael Giacchino, que conta também com sucessos do Guns N'Roses, Enya, ABBA, entre outros. Até o momento, o filme arrecadou nas bilheterias mundiais quase US$ 850 milhões, superando "Thor: Ragnarok". 


Ficha técnica:
Direção: Taika Waititi
Produção: Marvel Studios / Walt Disney Company
Distribuição: Walt Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h59
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, ação, ficção