02 setembro 2022

"Marte Um" entra na disputa para representar o Brasil no Oscar 2023

Produção mineira é dirigida por Gabriel Martins e trata de sonhos e realidades (Fotos: Embaúba Filmes)


Da Redação


Na próxima segunda-feira (5) será selecionada uma das seis produções nacionais escolhidas para disputar a vaga de representante do Brasil no Oscar 2023 como Melhor Filme de Língua Estrangeira. "Marte Um", do cineasta, roteirista, montador e diretor de fotografia Gabriel Martins está nessa disputa. 

O anúncio foi feito pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais. Os demais concorrentes são "Carvão", "Pacificado", "Paloma" , "A Viagem de Pedro" e "A Mãe". Os seis foram pré-selecionados de uma lista de 28 filmes inscritos no processo.

Cineasta Gabriel Martins

"Marte Um" teve sua estreia mundial no Festival de Sundance, em janeiro deste ano, e sua primeira sessão no Brasil aconteceu no dia 17/08, na Mostra Competitiva do Festival de Gramado, onde foi bem recebido pelo público. 

Ainda foi exibido em 35 festivais internacionais, ganhando prêmios de melhor longa no OutFest, no Black Star e no San Francisco Film Festival. "Marte Um" tem produção assinada pela Filmes de Plástico e coprodução do Canal Brasil, com distribuição da Embaúba Filmes. 


Este é o segundo longa do diretor (o primeiro solo, sem a parceria de Maurílio Martins, com quem fez o belo “No Coração do Mundo” - 2019), e tem, como um de seus temas centrais, a realização de um sonho infantil. O filme traz o cotidiano de uma família da periferia de um grande centro urbano nos últimos meses de 2018, pouco depois das eleições presidenciais. 

O garoto Deivid (Cícero Lucas), caçula da família Martins, sonha em ser astrofísico e participar de uma missão que em 2030 irá colonizar Marte. Ele sabe que, por suas condições, não há muitas chances para isso acontecer, mas mesmo assim, não desiste. Passa horas assistindo vídeos e palestras sobre astronomia na internet.


O pai, Wellington (Carlos Francisco, de “Bacurau” - 2019, e da Companhia do Latão de teatro), é porteiro em um prédio de elite, e há um bom tempo está sem beber, uma informação que compartilha com orgulho em sessões do AA. Ele quer ver o filho virar jogador de futebol profissional. 

Tércia (Rejane Faria, da série “Segunda Chamada”) é a mãe que, depois de um incidente envolvendo uma pegadinha de televisão, acredita que está sofrendo de uma maldição. Por fim, a filha mais velha é Eunice (Camilla Damião), que pretende se mudar para um apartamento com sua namorada (Ana Hilário), mas não tem coragem de contar aos pais.


O diretor conta que o filme foi desenvolvido entre 2015 e 2018. "Foi um período de muitas mudanças abruptas nos campos social e político do país. Vários movimentos nos fizeram confrontar com o que pensávamos sobre raça, gênero, economia e muitos aspectos da sociedade". 

"Produzimos o filme graças a um fundo para diretores negros, e isso sempre me trouxe um senso de responsabilidade muito grande, com honestidade e compreensão de que esse filme pode ser uma forte representação de uma cultura da qual faço parte”, explica Gabriel Martins.


De acordo com o produtor do filme, Thiago Macêdo Correia, da Filmes de Plástico, ele foi procurado por Gabriel o procurou com a ideia para "Marte Um" quando o país ainda estava sob o comando de Dilma Rousseff, um período de prosperidade, e incentivo e investimentos na cultura. 

“O filme foi produzido graças a um fundo público de 2016 voltado para diretores negros e narrativas de temática negra com o intuito de levar às telas cineastas de grupos minoritários. Obviamente, esse fundo não existe mais. Rodamos o longa em outubro de 2018, durante as eleições, o que acabou influenciando também a narrativa. Não tínhamos ideia do que viria depois.”


“Embora se passe num contexto político turbulento – sendo a eleição de Bolsonaro um ponto baixo para nós –, esse não é um filme que tenta chegar a um veredito sobre o estado político do país. Por outro lado, é inevitável que o público o intérprete como um chamado para não nos deixarmos abater pelas agitações sociais que estamos enfrentando.”

"Marte Um" é assinado pela produtora mineira Filmes de Plástico, fundada por Gabriel, Thiago, André Novais Oliveira e Maurilio Martins, em 2009, e que tem em sua filmografia longas premiados como “Temporada”, “Ela Volta na Quinta”, “No Coração do Mundo” e “Contagem”. Suas produções também foram destaque em festivais como Cannes, Roterdã, Brasília e Tiradentes.


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Gabriel Martins
Produção: Filmes de Plástico / coprodução Canal Brasil
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: nas salas Cineart Shopping Contagem (sessão 19h35) e UNA Cine Belas Artes (sessões 14h, 16h20, 18h20 e 20h30)
Duração: 1h54
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: drama

01 setembro 2022

"Predestinado" - A história real do médium Zé Arigó que salvou milhares de vidas

Danton Mello entrega ótima interpretação, especialmente nas cenas de cirurgias espirituais
(Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)



Maristela Bretas


Foram dois anos de espera. Mas finalmente, nesta quinta-feira, estreia nos cinemas brasileiros "Predestinado - Arigó e o Espírito do Dr. Fritz", filme que conta a história real de um dos maiores médiuns da história - José Pedro de Freitas, mais conhecido como "Zé Arigó". 

No papel principal temos Danton Mello em excelente interpretação, conseguindo transmitir a doçura do homem comum e o rigor do espírito do Dr. Fritz (James Faulkner) que ele incorporava durante as milhares de cirurgias espirituais que realizou em Congonhas do Campo (MG), sua terra natal, usando apenas um canivete enferrujado. 


A roteirista Jaqueline Vargas usou como base o livro “Arigó e o Espírito do Dr. Fritz”, escrito pelo jornalista e escritor inglês John G. Fuller, para ajudar a construir o roteiro do filme. A obra literária foi reeditada pela Editora Pensamento e seu novo lançamento acompanha a estreia do filme nos cinemas. 

Veja o vídeo com a narração de atores, diretores e produtores sobre o que representou participar dessa emocionante produção.


Arigó sempre foi um homem simples, humilde e de grande coração. Brigou durante boa parte de sua vida com as vozes que escutava em sua cabeça, julgando, assim como as pessoas que o conheciam, que estava ficando louco. 

Somente mais velho conseguiu entender seus dons mediúnicos e a voz que ouvia do espírito do Dr. Fritz, médico alemão falecido durante a Primeira Guerra Mundial. A partir daí, o médium aceita seu compromisso com a espiritualidade e a missão de salvar vidas sem receber nada em troca.


Pacientes vinham de todas as partes em busca da cura de seus males, nem sempre possível. Ambientado entre os anos 1950 e 1970, o filme mostra o médium sendo combatido e criticado pela igreja, entidades médicas e autoridades. Seu maior inimigo foi Padre Anselmo, pároco da igreja local, papel brilhantemente interpretado por Marcos Caruso.

O filme mostra que, durante sua jornada, Arigó foi orientado pelo também mineiro, Chico Xavier (papel de João Signorelli), sobre os caminhos espinhosos que enfrentaria por seu trabalho de cura espiritual. 


Apesar da perseguição, Arigó sempre contou com o apoio da esposa Arlete Freitas (que era sua prima em quarto grau), com quem teve seis filhos. Coube a Juliana Paes interpretar muito bem a personagem - uma mulher forte, que questionou sua fé, mas cujo amor pelo marido foi maior até mesmo nos piores momentos. 

Ele chegou a ser preso duas vezes. Segundo relatos da época, a primeira  detenção foi sob acusação de curandeirismo. Ele recebeu indulto do então presidente Juscelino Kubitscheck (1902-1976) e saiu livre. Tempos depois, JK, não mais presidente, visitou Arigó para agradecer pela cura de sua filha Márcia, que sofria de leucemia. Isso ocorreu 15 dias antes da morte do médium.


"Predestinado" tem ainda em seu elenco  Alexandre Borges (senador Lúcio Bittencourt), Marco Ricca (juiz Barros), Cássio Gabus Mendes (Cícero, diretor da cadeia), Carlos Meceni (Orlandinho), entre outros. O filme foi gravado na histórica cidade mineira de Congonhas, onde ficava o Centro Espírita Jesus Nazareno, local em que o médium realizou a maioria das curas espirituais. 

Muitas das imagens são reproduções fiéis de fotos da época, dando maior autenticidade ao roteiro, que foi aprovado pelos filhos de Arigó e Arlete. A fotografia também é um destaque, em especial nas cenas do médium ainda menino sufocado pelo medo de estar cometendo pecado por suas visões, e as do encontro com Chico Xavier à beira de um rio.


Uma bela e emocionante produção, que respeita o espiritismo e desmente muitas das inverdades contadas sobre o médium à época, por preconceito, medo ou desconhecimento sobre a cura espiritual. Fiel a Deus, Zé Arigó tornou-se esperança de cura para mais de quatro milhões de pessoas que vinham em constantes caravanas. 

Ele chegou a atender mil pessoas por dia e mostrou que era possível fazer o bem sem exigir nada em troca. Recusou entrar para a política e aceitar benesses da indústria farmacêutica, diferente de outros líderes religiosos. "Predestinado - Arigó e o Espírito do Dr. Fritz" é um filme que vale a pena ser conferido.


Ficha técnica:
Direção: Gustavo Fernandez
Roteiro: Jaqueline Vargas
Produção: Moonshot Pictures / Fj Produções / The Calling Production / Paramount Pictures / Camisa Listrada BH
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h49
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: drama