22 outubro 2022

Com muita pancadaria e boas cenas de ação, Dwayne Johnson apresentar o anti-herói "Adão Negro"

Produção volta cinco mil anos no tempo para explicar origem de novos vilões do Universo DC (Fotos: Warner Bros.)


Maristela Bretas


Quase cinco mil anos se passaram e foi preciso o Universo Estendido da DC trazer Dwayne Johnson para tentar recuperar o público que ficou um pouco decepcionado após "Batman VS Superman - A Origem da Justiça" (2016) e "Liga da Justiça" (2017), que acabou ganhando uma versão mais atraente - "Liga da Justiça - Snyder Cut" (2021). 

Mas será que conseguiu? É o que pode ser conferido em "Adão Negro" ("Black Adam"), novo longa-metragem em cartaz nos cinemas brasileiros que tem o grandalhão carismático dos filmes de ação e aventura como protagonista e produtor executivo. Além de ótimos efeitos visuais, especialmente para quem for assistir no formato Imax.


Claro que Johnson não iria apostar tão alto no papel de um super-herói se não fosse para dar certo. Mesmo representando um quase vilão, o que foge do perfil da maioria de seus papéis do "cara fortão", que bate muito, mas é sempre o protetor dos fracos e oprimidos. "The Rock" consegue fazer com que o público torça por ele, mesmo sendo inimigo dos heróis da Sociedade da Justiça. 


Mas quem é Adão Negro? Que Sociedade da Justiça é essa? Se você não é um amante dos quadrinhos, como a maioria que vai ao cinema para assistir filmes desse gênero só pela diversão, vai ficar boiando em muitas coisas. 

O filme dá respostas para algumas dessas dúvidas, como a origem desse anti-herói. Quanto à Sociedade da Justiça, trata-se do grupo da DC Comics que foi a base do que viria a se tornar a Liga da Justiça. 


Não é necessário ter assistido todos os filmes ou lido HQs da DC para entender a história de "Adão Negro". Como falei antes, tudo começa há quase 5.000 anos, quando o escravo Teth-Adam/Adão Negro recebe poderes dos deuses. Por vingança contra aqueles que escravizavam seu povo e destruíram sua família na antiga cidade de Kahndaq, ele resolve usar esses poderes numa destruição geral. 


Por causa disso é aprisionado pelos deuses numa tumba terrena até os dias de hoje, quando é libertado. Sem entender o novo mundo e sendo reverenciado pela população de Kahndaq como salvador, ele se une ao jovem Amon (Bodhi Sabongui) e à mãe dele, Adrianna (Sarah Shahi) para colocar um fim à ditadura da Intergangue, que domina a cidade. 


No entanto, a aparição do Adão Negro em Kahndaq chama a atenção da Sociedade da Justiça, que envia um quarteto de heróis à cidade para detê-lo. 

Liderados por Gavião Negro (Aldis Hodge, de "O Homem Invisível" - 2020), temos no grupo o Senhor Destino (Pierce Brosnan, um dos inesquecíveis e charmosos James Bond, muito bem no papel) e os quase desconhecidos Ciclone (Quintessa Swindell) e Esmaga-Átomo (Noah Centineo).


O que o quarteto de heróis não contava era com a revolta da população contra eles, que pela primeira vez tinha um salvador para defender o povo. Mesmo que os métodos de Teth-Adam sejam questionáveis. Para ele, só a morte dos inimigos resolve o problema.

Ao ser convidado para dirigir o longa, Jaume Collet-Serra afirmou que achou empolgante mostrar na telona um mundo dos super-heróis com "personagens que andam na linha tênue entre fazer a coisa certa e fazer o que precisa ser feito quando o sistema falha, de personagens que são capazes de fazer justiça da maneira que outras pessoas não conseguiram".


"Adão Negro" não foge aos critérios de um filme de super-heróis - muito tiro, porrada e bomba, com um ator renomado no gênero de ação dominando, juntamente com Aldis Hodge (outro destaque da produção) e Pierce Brosnan fazendo a parte pensante e ponderada. O verdadeiro vilão novamente tem uma presença frustrante, como outros do Universo DC, apesar de ser interpretado pelo conhecido ator Marwan Kenzari, de "Aladdin" (2019).

O longa também mantém o padrão de outras produções da DC, como a prevalência do tom escuro nas cenas e nos trajes dos personagens. As asas do Gavião Negro são um espetáculo a parte quando abertas. Já o Senhor Destino brilha com sua roupa azul e o maravilhoso capacete dourado. 


Os mais "fracos" na trama são Ciclone, que acrescenta um arco-íris de cores quando entra na briga e Esmaga-Átomo. Este usa um traje semelhante ao do Homem-Formiga (filme de 2015)e tem o mesmo superpoder de se tornar um gigante, além de ser um herói atrapalhado, como seu rival da Marvel.


Apesar da presença de Dwayne Johnson, o longa não consegue fugir da comparação entre a DC e a Marvel, mas a primeira ainda está um passo atrás da concorrente. Em "Adão Negro", no entanto, já é possível perceber uma evolução nas cenas de ação, mesmo com a insistência de usar a câmera lenta nas batalhas.


Não se surpreenda se ao longo do filme ouvir a palavra "Shazam!". A origem dos poderes de Adão Negro (o cara violento e meio vilão) e Shazam (o super-herói bobão e bonzinho do filme de 2019) é a mesma e explicada, superficialmente, justificando uma continuação, dependendo da bilheteria da produção em cartaz nos cinemas. E também tem relação com outro integrante da Liga da Justiça. Fica a dica: não saia do cinema antes da única e especial cena pós-crédito.


Ficha técnica
Direção: Jaume Collet-Serra
Produção: New Line Cinema e DC Entertainment
Distribuição: Warner Bros.
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h05
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: ação, fantasia, aventura

19 outubro 2022

Repleto de boas atuações, "Noites de Paris" é um sensível estudo de personagem

Ambientado nos anos 1980, longa-metragem francês é um verdadeiro mosaico do cotidiano (Fotos Vitrine Filmes)


Carolina Cassese
Blog no Zint


“Noites de Paris” (“Les Passagers de la Nuit”), dirigido por Mikhaël Hers, longa que chega nesta quinta-feira (20) na sala 2 do Una Cine Belas Artes, é um verdadeiro mosaico do cotidiano. O ponto de partida do filme é a reconstrução da vida de Elisabeth (Charlotte Gainsbourg), que acaba de passar por um divórcio e atravessa dificuldades financeiras. 

Para se adaptar ao novo estilo de vida, a personagem começa a trabalhar em um programa de rádio noturno, chamado "Passageiros da Noite". 

É nessa circunstância que ela conhece Talulah (Noée Abita), uma adolescente problemática que conta sua história para a apresentadora Vanda (Emanuelle Béart). 

A personagem principal não consegue deixar de se comover com o depoimento da garota, que vive sem domicílio fixo, e decide convidá-la para passar uns dias em sua casa, onde também moram os filhos Judith e Mathias (Megan Northam e Quito Rayon-Richter).


Apesar de abordar temas como divórcio, maternidade, dependência química e ativismo (a história tem início na noite da eleição de 1981, quando o socialista François Mitterrand se tornou presidente), o filme não é de fato centrado em alguma dessas pautas. 

Tampouco é melodramático ou panfletário. Como pontuou o veículo Variety, o longa trata de "pedaços de vida", primordialmente por meio da visão de Elizabeth. 

A presença de Gainsbourg na tela realmente é a alma do filme: a atuação da atriz é impecável e exala sensibilidade. Acreditamos na força e também nas vulnerabilidades de Elisabeth, que acaba se tornando uma mãe para Talulah, já que a garota é dependente química e tem pais relapsos.


O trabalho da protagonista combina bastante com o próprio "Noites de Paris", considerando que é um exercício de escuta. Os convidados do programa "Passageiros da Noite" não necessariamente contam casos extraordinários: são divagações típicas da madrugada, focadas primordialmente no cotidiano, na história de pessoas comuns. 

Se a cineasta Agnès Varda considerava que o artista é um "catador de histórias da vida real", o filme cumpre muito bem essa função de reunir narrativas simples numa obra cheia de significado. O uso de diferentes lentes e de imagens de arquivo granuladas enriquecem visualmente a produção, que de fato "é a cara" dos anos 80. 


A excelente trilha sonora nos ajuda a voltar no tempo e garante a carga emotiva de algumas cenas. Além de acompanhar a história da família, o longa homenageia o próprio cinema. 

A jovem Talulah é a mais fascinada com os filmes e faz da sétima arte uma forma de escapismo, já que consegue esquecer da vida (e de todos os seus consideráveis problemas) quando está numa sala de cinema. 


A própria performance de Abita dialoga com o trabalho da atriz francesa Pascale Ogier, que morreu tragicamente em 1984. O filme "Noites de Lua Cheia", um dos principais trabalhos estrelados por Ogier, é bastante citado na produção. 

Ao falar sobre o longa de Éric Rohmer, Talulah diz que conseguimos apreciar melhor alguns filmes depois de certo tempo ou quando os vemos duas vezes. 


Possivelmente influenciada por essa reflexão, a pessoa que vos escreve assistiu à "Noites de Paris" duas vezes. Se a obra é tocante e significativa logo "de primeira", da segunda vez nos deixamos levar ainda mais pela sensibilidade da narrativa e conseguimos apreciar melhor os respiros do filme. 

Nesse trabalho de Mikhaël Hers, muitas cenas não cumprem uma função narrativa pragmática - basta a vida como ela é, sem grandes acontecimentos em cada tomada.


Ficha técnica:
Direção: Mikhaël Hers
Produção: Nord-Ouest Films / Arte France Cinéma
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: Una Cine Belas Artes (sala 2, sessões 16 horas e 18h15)
Duração: 1h51
Classificação: 16 anos
País: França
Gênero: drama