12 dezembro 2022

Projeto mineiro vence maior prêmio nacional de promoção do Patrimônio Cultural

Lançamento da exposição na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte (Foto: Marcus Desimoni/Nitro)


Da Redação


“Uma cidade só é viva é tem alma quando contamos nossas histórias.” Esse é o lema do Projeto "Moradores – A Humanidade do Patrimônio", da produtora mineira Nitro Histórias Visuais, que acabou de ser o grande vencedor do Prêmio Rodrigo Melo Franco 2022. 

O Projeto Moradores é uma ação de ocupação do espaço público pelas artes integradas (Fotografia, Audiovisual e Literatura) e suporte à Educação Patrimonial. 

Lançamento da exposição na Fazenda Boa
Esperança- Belo Vale (Foto: Gustavo Baxter/Nitro)

Um movimento que visa o reconhecimento e a valorização da Memória e da História Oral das pessoas - sejam elas anônimas, populares ou mestres do saber - como sendo o maior patrimônio que um território pode ter. 

Criado em 2012, pelos quatro autores da produtora - o fotógrafo Marcus Desimoni, o escritor Gustavo Nolasco e os diretores Bruno Magalhães e Alexandre Baxter -, o projeto já passou por Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco e 27 cidades/territórios. 

Morador de Juazeiro (BA) com integrantes do Projeto
Moradores (Foto: Marcus Desimoni/Nitro)
 
Fotografou e registrou memórias afetivas, histórias orais e reflexões sobre os territórios e seus bens culturais - materiais e imateriais - de aproximadamente 4 mil pessoas.

Exposições gigantes e documentários

Tudo começa com uma tenda branca montada numa praça de uma cidade e um convite. Nesse instante, mais do que o ato de se deixar fotografar, cada morador é chamado a contar a sua história e a falar sobre suas memórias em relação à cidade/território onde vive. 

Exposição em S. Gonçalo do Rio das Pedras-MG
(Foto: Bruno Magalhaes/Nitro)

Todos esses registros passam por uma edição de conteúdo (fotográfico, audiovisual e literário) e devolvidos à comunidade em formato de produtos culturais e educativos - no sentido da Educação Patrimonial. 

São exposições de retratos em grande formato (painéis gigantes de 4m x 2m), varais fotográficos, filmes documentários, catálogos de histórias, rodas de conversa sobre “Memória e Patrimônio”, entre outros. 

A agenda da temporada 2023 do Projeto Moradores está com duas cidades confirmadas (Paracatu e Cordisburgo, ambas em Minas Gerais). Para contratação do projeto: atendimento@nitroimagens.com.br

Projeto Moradores (Foto: Marcus Desimoni/Nitro)

Premiação

Trata-se da maior premiação nacional referente a ações, projetos e programas voltados para o fomento, preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural do Brasil e que envolvam temas relacionados à memória, gestão do patrimônio, difusão e valorização do saber popular.

Personagem de Feira de Santana-BA
(Foto: Júlia Braga/Nitro)

Essa é a 35ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco. Ele premia ações, projetos e programas voltados para o fomento, preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural do Brasil e que envolvam temas relacionados à memória, gestão do patrimônio, difusão e valorização do saber popular. São duas categorias: pessoas físicas e pessoas jurídicas. 

Viaduto Santa Tereza - BH
(Foto: Marcus Desimoni/Nitro)

Neste ano, 268 projetos disputaram a premiação, que se trata de uma forma de reconhecimento e estímulo ao trabalho desempenhado pelos proponentes. 

Após as etapas de homologação das inscrições, análise das Comissões Regionais e deliberação por parte da Comissão Nacional de avaliação foram declaradas vencedoras do Prêmio Rodrigo Melo Franco 2022: 

- Categoria Pessoa Jurídica: "Moradores – A Humanidade do Patrimônio" - Belo Horizonte/MG
- Categoria Pessoa Física: "Sabedorias Compartilhadas" - Catarina Guató - Corumbá/MS


09 dezembro 2022

"Ela Disse" quebra o silêncio e escancara o assédio sexual por trás do brilho de Hollywood

Carey Mulligan e Zoe Kazan interpretam as jornalistas que denunciam o produtor de cinema Harvey Weinstein por diversos crimes (Fotos: Universal Pictures)



Maristela Bretas


Duas mulheres fortes e determinadas. Jornalistas, casadas, com filhos pequenos, que resolveram enfrentar e expor uma indústria onde o silêncio, o dinheiro e o poder abafam os piores crimes e pune as vítimas. 

Essa é a história de "Ela Disse" ("She Said"), que estreou nessa quinta-feira nos cinemas e é um soco no estômago por sua abordagem direta que inclui narrações das vítimas e gravações dos diálogos dos crimes.


Inspirado em fatos e depoimentos reais, apresentados durante o trabalho de apuração das jornalistas do The York Times, Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), o filme expõe um dos maiores escândalos de Hollywood ao contar os abusos, agressões e assédios sexuais e o pior, estupros, cometidos por décadas pelo poderoso produtor de cinema Harvey Weinstein.

A excelente matéria investigativa publicada pelo jornal deu origem ao livro homônimo, que serviu de base para a produção. "Ela Disse" contou com a atuação impecável das duas protagonistas e a direção correta e precisa da alemã Maria Schrader para  mostrar, passo a passo, a podridão do mundo criminoso e silencioso do assédio sexual por trás das câmeras. 


Graças a esta reportagem especial, que demorou meses, com pressão sobre o jornal e ameaças de morte contra as jornalistas, o fim de uma era de silêncio e podridão contras as mulheres em Hollywood começou a mudar. 

E abriu caminho para o surgimento do importante movimento "#MeToo", que começou a colocar um basta ao assédio moral e sexual, não só no cinema, mas no mercado de trabalho norte-americano. 


Tanto a matéria para o The New York Times quanto o filme contaram com a participação e depoimentos das atrizes Ashley Judd e Gwyneth Paltrow, que descrevem seus próprios encontros com Weinstein e os assédios sofridos, com ameaças a suas carreiras. 

Mas para chegar a essas duas grandes atrizes, Megan Twohey e Jodi Kantor precisaram percorrer um longo caminho e muitas negativas de outras vítimas do diretor. 


De promissoras candidatas ao estrelato a funcionárias dos estúdios, elas tinham em comum o medo e o silêncio “comprado” com volumosas indenizações. Algumas foram inclusive proibidas de falar sobre os ataques e os acordos com as próprias famílias.

Com mais de duas horas de duração, "Ela Disse"  é bem detalhista, inclusive quando mostra a preocupação da direção do jornal em só publicar as denúncias quando as jornalistas tivessem provas concretas. 

Em alguns momentos, essa busca pela informação pode deixar a narrativa do filme um pouco lenta. Talvez seja essa a intenção da diretora ao querer explicar bem  toda a história e os crimes que culminaram em 2020 na condenação do ex-diretor cinematográfico a 23 anos de prisão.


O público acompanha o dilema das protagonistas que precisam dividir a vida pessoal com o trabalho. Em especial esta matéria do assédio, que exigia maior tempo fora de casa (inclusive com viagens) longe da família, as ameaças por estarem mexendo com gente poderosa, a frustração a cada não recebido. Ao mesmo tempo, a euforia com cada informação confirmada. 

"Ela Disse" mostra que as jornalistas não estão ali somente pelo furo jornalístico. À medida que elas conversam com as vítimas, maior o desejo de expor um crime que era acobertado pelas pessoas ao redor de Westein e também prática de assédio considerada normal pelos homens. Há uma cena envolvendo Megan Twohey e o cliente de um bar que deixa claro essa questão.


A história começa em 2017, a repórter do New York Times Jodi Kantor recebe uma denúncia de que a atriz Rose McGowan foi abusada sexualmente pelo produtor de Indiewood e dono do extinto estúdio Miramax, Harvey Weinstein. 

McGowan inicialmente se recusa a comentar, mas depois liga de volta para Kantor e descreve um encontro em que Weinstein a estuprou quando ela tinha 23 anos. 

Na busca de outros depoimentos, a jornalista chega às duas famosas atrizes que também foram vítimas, mas se recusam a aparecer. Mas para continuar a investigação ela vai precisar contar com a experiência da colega Megan Twohey, que já havia investigado anos antes denúncias semelhantes contra o então candidato à presidência dos EUA, Donald Trump.


Carey Mulligan, Zoe Kazan e Patricia Clarkson, que interpreta Rebecca Corbett, editora do NYT, são os destaques femininos do filme. Além delas, Samantha Morton e Jennifer Ehle entregam ótimas atuações nos papéis das vítimas Zelda Perkins e Laura Madden. Assim como André Braugher, como o editor executivo do NYT que compra a briga das jornalistas por uma boa história.


Um ótimo filme, esclarecedor e bem dirigido, assim como a matéria investigativa que o originou e que garantiu às jornalistas a conquista de um Prêmio Pulitzer (o mais importante concedido ao jornalismo norte-americano). 

O roteiro é digno de ser indicado para disputar o Oscar 2023 nessa categoria. Vale a pena ser conferido tanto por quem acompanhou o caso na época quanto por quem não conhece a história.


Ficha técnica:
Direção: Maria Schrader
Produção: Universal Pictures / Plan B Entertainment / Annapurna Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: drama, biografia