15 dezembro 2022

“The White Lotus” escancara a masculinidade tóxica e a hipocrisia do sonho burguês

Série satiriza personagens, especialmente os hóspedes norte-americanos que querem viver o clichê
do "sonho italiano" (Fotos: HBO)


Carol Cassese
Blog no Zint


Matrimônios contraídos com leviandade desencadeiam consequências graves. Essa é uma das principais mensagens da ópera Madame Butterfly, elemento bastante relevante para a segunda temporada de “The White Lotus”, série da HBO Max que chegou ao fim no último domingo (11). 

Não faltam relações levianas nesses novos episódios ambientados na Sicília: podemos mencionar os casais Daphne (Meghann Fahy) e Cameron (Theo James), Tanya (Jennifer Coolidge) e Greg (Jon Gries) e ainda a relação de Dominic (Michael Imperioli) com sua ex-mulher. 


Desde o primeiro episódio, sabe-se que os corpos de vários hóspedes foram encontrados nas cercanias do luxuoso resort. Fica a pergunta: afinal de contas, quem morreu? E a clássica: quem matou?

Dessa vez, vale ressaltar, os personagens não são os mesmos dos da temporada anterior - apenas Tanya e Greg garantiram sua vaga no resort da Sicília. Qualquer semelhança com personagens da última temporada, porém, não é mera coincidência: milionários de fato parecem todos iguais. 


Também vemos hóspedes  (principalmente homens) se aventurando em esportes "da moda" e dizendo que o "mundo está ficando muito chato por conta do politicamente correto". Afinal de contas, eles não podem nem seguir explorando os outros em paz…

Nos últimos anos, foram lançadas muitas narrativas que criticam os super ricos. Alguns exemplos são o filme “Parasita”, a série “Succession” e os bem recentes longas “O Menu” e “Triângulo da Tristeza”. 

Nesses tempos em que milionários brincam de comprar plataformas e querem explorar até mesmo outros planetas, o sonho burguês de fato parece ainda mais digno de ser criticado. 


Além de mostrar as ambições desses turistas fúteis, a série nos faz conhecer um pouco (bem pouco) da realidade siciliana por meio das personagens Lucia (Simona Tabasco) e Mia (Beatrice Gannò). Alguns podem ficar com raiva da maneira que a série estadunidense decide retratar os italianos - obviamente, com muitos estereótipos. 

Há quem aponte que as duas garotas locais são representadas como aproveitadoras, que querem a todo custo "arrancar" dinheiro dos americanos e acabam conseguindo o que querem por meio de seus corpos. 

Já vimos isso em algum lugar? Mulheres estrangeiras (em geral latinas) sendo representadas dessa forma? Provavelmente. E claro: como boa produção estadunidense falando da Itália, não poderiam faltar menções aleatórias à máfia. 


Por outro lado, outros defendem que as duas personagens italianas na verdade são exemplos empoderadores, já que elas arrancam dinheiro dos milionários. 

O conceito de empoderamento parece elástico e simplista demais nos dias de hoje, mas também é muito difícil sentir pena desses homens que enganam e exploram mulheres há décadas (em especial, Cameron e Dominic). 

De qualquer maneira, um possível alento é o fato de que “The White Lotus” satiriza praticamente todos os personagens; os hóspedes que querem viver o clichê do "sonho italiano" - sem saberem muito a respeito da cultura do país - definitivamente não são poupados.


Assim como na primeira temporada, uma das cenas finais mostra a maior parte dos personagens no aeroporto, aparentemente despreocupados e prontos para retornarem. Nem mesmo um assassinato parece perturbar a ordem daqueles que precisam fingir que está tudo bem. 

Outro ponto em comum com a temporada anterior é a frustração que sentimos pelo fato de que alguns personagens permanecem em relacionamentos tóxicos, mesmo que a viagem tenha escancarado a superficialidade dos parceiros. Esse conformismo também é característico de uma classe que vive de sucessivas simulações.

"Você mataria por beleza?", pergunta Quentin (Tom Hollander) a Tanya em uma das cenas mais emblemáticas da temporada. Tal questionamento também pode ser traduzido como: até onde você iria para manter as aparências? Alguns morreriam - outros estariam dispostos a matar. 

Trailer da 1ª Temporada 


ATENÇÃO: A parte a seguir contém spoilers

Apareceram muitas teorias acerca de diferentes pontos da série: será que um dos filhos de Daphne é do tal instrutor de academia? Cameron vai tentar tirar dinheiro de Ethan? Cameron e Ethan dormiram juntos? Harper e Cameron tiveram algo? No final, Albie vai se revelar um cara péssimo?

É interessante reparar que a série também nos mostra que às vezes as coisas são como parecem. O cara bonzinho pode ser só isso mesmo, um inocente que não esconde um plano maquiavélico. 

Já alguém que parece uma "bagunça sexy ambulante" pode acabar... Bom, bagunçando a vida de quem decide cair na tentação. Eles avisaram.


Vale notar ainda o fato de Harper e Ethan só conseguirem se reconciliar depois de (muito provavelmente) terem ficado com outras pessoas. Eles se tornam ainda mais parecidos com Daphne e Cameron: um casal mentiroso e cheio de química. 

A afinidade sexual, portanto, estaria ligada justamente a esse jogo de falsas aparências - parece que a perfeita foto de casal no Instagram esconde uma série de enganações.

No que diz respeito ao mistério principal (quem morreu e quem matou), a narrativa nos proporciona vários elementos para que possamos montar o quebra cabeça: há a ordem de mandar Portia embora, o sumiço abrupto de Greg, as cartas de tarô, a fotografia do porta-retrato. As demais subtramas, porém, nos deixam entretidos e, consequentemente, desviam a atenção da história "principal". 


Isso não é um demérito da série: considerando que há um mistério a ser desvendado, é mais do que desejável que o espectador não saiba em que focar. Já que estamos muito ocupados observando as investidas absurdas de Cameron, não necessariamente damos atenção ao desaparecimento de Greg, por exemplo.

Num diálogo com Portia, Tanya conta que sempre se comportou como uma boneca, esperando que os outros brincassem com ela. Percebemos que, mesmo num momento decisivo do último episódio, ela parece apegada a um detalhe supérfluo: "Greg estava ou não com outra mulher?". 


Mais uma vez, vale a pena lembrar da pergunta de Quentin: "Você morreria pela beleza?". Em determinado momento, é possível que nos perguntemos: Tanya realmente demora a juntar as peças do quebra cabeça ou apenas decide privilegiar a beleza?

É triste nos darmos conta de que a personagem foi realmente manipulada por vários homens ao longo de sua vida. Figuras do sexo masculino que, como bem pontuou a personagem Daphne, "acham que estão fazendo algo muito importante, mas, por serem tão competitivos, na verdade estão apenas vagando sozinhos". Como um elefante macho. Que venha o próximo destino - e mais uma porção de relações levianas. 

Trailer da 2ª Temporada


Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção executiva: Mike White
Produção e distribuição: HBO
Exibição: HBO Max
Duração: 2 temporadas = 6 episódios cada
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: comédia / drama

12 dezembro 2022

Projeto mineiro vence maior prêmio nacional de promoção do Patrimônio Cultural

Lançamento da exposição na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte (Foto: Marcus Desimoni/Nitro)


Da Redação


“Uma cidade só é viva é tem alma quando contamos nossas histórias.” Esse é o lema do Projeto "Moradores – A Humanidade do Patrimônio", da produtora mineira Nitro Histórias Visuais, que acabou de ser o grande vencedor do Prêmio Rodrigo Melo Franco 2022. 

O Projeto Moradores é uma ação de ocupação do espaço público pelas artes integradas (Fotografia, Audiovisual e Literatura) e suporte à Educação Patrimonial. 

Lançamento da exposição na Fazenda Boa
Esperança- Belo Vale (Foto: Gustavo Baxter/Nitro)

Um movimento que visa o reconhecimento e a valorização da Memória e da História Oral das pessoas - sejam elas anônimas, populares ou mestres do saber - como sendo o maior patrimônio que um território pode ter. 

Criado em 2012, pelos quatro autores da produtora - o fotógrafo Marcus Desimoni, o escritor Gustavo Nolasco e os diretores Bruno Magalhães e Alexandre Baxter -, o projeto já passou por Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco e 27 cidades/territórios. 

Morador de Juazeiro (BA) com integrantes do Projeto
Moradores (Foto: Marcus Desimoni/Nitro)
 
Fotografou e registrou memórias afetivas, histórias orais e reflexões sobre os territórios e seus bens culturais - materiais e imateriais - de aproximadamente 4 mil pessoas.

Exposições gigantes e documentários

Tudo começa com uma tenda branca montada numa praça de uma cidade e um convite. Nesse instante, mais do que o ato de se deixar fotografar, cada morador é chamado a contar a sua história e a falar sobre suas memórias em relação à cidade/território onde vive. 

Exposição em S. Gonçalo do Rio das Pedras-MG
(Foto: Bruno Magalhaes/Nitro)

Todos esses registros passam por uma edição de conteúdo (fotográfico, audiovisual e literário) e devolvidos à comunidade em formato de produtos culturais e educativos - no sentido da Educação Patrimonial. 

São exposições de retratos em grande formato (painéis gigantes de 4m x 2m), varais fotográficos, filmes documentários, catálogos de histórias, rodas de conversa sobre “Memória e Patrimônio”, entre outros. 

A agenda da temporada 2023 do Projeto Moradores está com duas cidades confirmadas (Paracatu e Cordisburgo, ambas em Minas Gerais). Para contratação do projeto: atendimento@nitroimagens.com.br

Projeto Moradores (Foto: Marcus Desimoni/Nitro)

Premiação

Trata-se da maior premiação nacional referente a ações, projetos e programas voltados para o fomento, preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural do Brasil e que envolvam temas relacionados à memória, gestão do patrimônio, difusão e valorização do saber popular.

Personagem de Feira de Santana-BA
(Foto: Júlia Braga/Nitro)

Essa é a 35ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco. Ele premia ações, projetos e programas voltados para o fomento, preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural do Brasil e que envolvam temas relacionados à memória, gestão do patrimônio, difusão e valorização do saber popular. São duas categorias: pessoas físicas e pessoas jurídicas. 

Viaduto Santa Tereza - BH
(Foto: Marcus Desimoni/Nitro)

Neste ano, 268 projetos disputaram a premiação, que se trata de uma forma de reconhecimento e estímulo ao trabalho desempenhado pelos proponentes. 

Após as etapas de homologação das inscrições, análise das Comissões Regionais e deliberação por parte da Comissão Nacional de avaliação foram declaradas vencedoras do Prêmio Rodrigo Melo Franco 2022: 

- Categoria Pessoa Jurídica: "Moradores – A Humanidade do Patrimônio" - Belo Horizonte/MG
- Categoria Pessoa Física: "Sabedorias Compartilhadas" - Catarina Guató - Corumbá/MS