11 janeiro 2023

Com ótimas credenciais, "I Wanna Dance With Somebody" revive trajetória de Whitney Houston

Produção sobre a icônica cantora recebeu uma brilhante interpretação de Naomi Ackie (Fotos: CTMG/Divulgação)


Patrícia Cassese


Nos últimos anos, várias produções cinematográficas têm se debruçado sobre a trajetória de grandes fenômenos da música, como Freddie Mercury (1946-1991), Elton John (1947 -) e Elvis Presley (1935-1977) - a saber: "Bohemian Rhapsody" (2018), "Rocketman" (2019) e "Elvis" (2022).

Outro título recente que se filia a esse veio foi "Judy: Muito Além do Arco-Íris" (2020), embora, no caso, o foco fosse uma persona que desenvolveu carreira bem sucedida tanto na música quanto no cinema: Judy Garland (1922-1969).

Nesta quinta-feira (12), dia em que "I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston" adentra os cinemas de todo o país, é hora de o espectador saber um pouco mais sobre a história da cantora norte-americana Whitney Elizabeth Houston, falecida precocemente em 11 de fevereiro de 2012, aos 48 anos.


Para quem não se lembra, a cantora foi encontrada afogada na banheira de um hotel (Beverly Hilton) em Los Angeles. O laudo pericial apontou que, além de uma cardiopatia, Whitney havia consumido cocaína e outras drogas (algumas legalizadas, que ela utilizava inclusive com prescrição médica).

Tal como nos exemplos de filmes citados anteriormente (evidentemente, há dezenas de outras produções da sétima arte dedicadas a ícones da música, mas estamos fazendo um recorte entre alguns dos mais recentes), Whitney Houston teve uma carreira de sucesso não só em seu país de origem, mas no mundo todo.


Canções de seu repertório, como "I Will Always Love You", seguem sendo bastante executadas nas rádios. Aliás, sobre o hit, "I Wanna Dance" revela um fato que nem todos os fãs da interpretação da diva conhecem: a canção foi escrita e gravada por Dolly Parton, em 1973, tendo não só alcançado o topo da parada country nos meses seguintes como novamente em 1982, quando a cantora e atriz a regravou para o filme "A Melhor Casa Suspeita do Texas".

Sim, detalhes como esse estão entre os bons chamarizes da nova produção de Kasi Lemmons (de "Harriet", filme de 2019), que, cumpre frisar, tem roteiro do neozelandês Anthony McCarten, o mesmo que escreveu o já citado "Bohemian Rhapsody".


Mas o filme está longe de satisfazer apenas os fãs de Houston. O primeiro acerto a ser mencionado é a escolha da protagonista: Naomi Ackie, que, vale dizer, é britânica. Uma pesquisa na trajetória da moça conta que, apesar dos poucos papéis na sétima arte, a atriz tem feito bonito no que tange a indicações. Certamente não será diferente aqui.

Dona de uma beleza estonteante, Naomi consegue transitar pelas várias fases e estados da cantora (do início da carreira ao final, da pureza do início da carreira ao reconhecimento do declínio da extensão vocal, passando pelo espectro das drogas) com brilhantismo.

Embora as interpretações musicais vistas na tela tragam a voz original de Whitney Houston, Naomi é também cantora e caprichou em suas interpretações (depois sobrepostas) para conferir veracidade às cenas.


O restante do elenco não fica aquém, a começar do excepcional Stanley Tucci envergando as vestes do produtor Clive Davis - que, diga-se de passagem, é um dos produtores do filme. 

Aqui, um pequeno desvio da análise do filme: aos 62 anos, Tucci sempre foi aquele ator que, mesmo não estando no papel de protagonista, dá farta contribuição ao êxito de produções como "O Diabo Veste Prada" (2006) ou "O Terminal" (2004).

Neste momento, ele mostra claramente sua potência na excelente série de suspense "Inside Man" (Netflix), onde dá vida a um preso no corredor da morte que, por sua inteligência e sagacidade, acaba ajudando na elucidação de outros crimes de difícil solução para a polícia. Anote na sua agenda, vale demais.


Como Clive, Tucci está simplesmente perfeito. E uma curiosidade: ao contrário da mítica figura do produtor e/ou empresário que explora o artista até extrair tudo o que ele tinha a oferecer, para então descartá-lo, Clive se mostra um dos mais devotados parceiros de Whitney Houston.

Ele acolheu e acatou seus desejos, ainda que esses, a início, possam soar como caprichos - como quando ela decide que quer porque quer fazer cinema. É ele também que a alerta quanto à necessidade de uma reabilitação, citando o exemplo de Judy Garland (por isso a menção ao filme no início desta matéria).

Hoje com 90 anos, Clive Davis é aquela espécie de Midas da indústria. Responde como descobridor do Aerosmith e de Janis Joplin, além de ter trabalhado, na Arista, gravadora que fundou, com ícones como Patti Smith, Barry Manilow, Aretha Franklin, Dionne Warwick e Annie Lennox, para citar alguns.


Todos os outros atores do elenco se mostram escolhas corretíssimas, mas vale destacar particularmente a atriz Tamara Tunie, como Cissy Houston, a mãe da cantora, que na primeira cena aparece como uma tutora quase implacável, mas que se revela plena de afetos e orgulho da cria.

E, ainda, Nafessa Williams (como Robyn Crawford, a grande parceira - afetiva e na carreira, como assistente-executiva - da cantora); Ashton Sanders (como Bobby Brown, marido de Whitney) e Clarke Peters (dando vida ao pai da diva, John Houston). 

Os dois últimos, os grandes responsáveis pelas maiores dores de cabeça na vida de Whitney Houston - tendo o pai dilapidado uma parte absurda da fortuna da cantora.


Na condução dessa cinebiografia, Kasi Lemmons faz escolhas bem interessantes. Ao falar de "O Guarda-Costas" (1992), filme de Mick Jackson que estourou nos cinemas de todo mundo, o parceiro de tela de Whitney Houston, o astro Kevin Costner, não aparece sendo vivido por nenhum ator: no lugar desse artifício, o espectador vê uma cena do filme.

Idem para a menção à antológica participação da cantora no programa de Oprah Winfrey, em 2009, depois de sete anos sem conceder entrevistas (após a mal sucedida experiência ocorrida em 2002, quando foi entrevistada por Diane Sawyer, da ABC News). 

"A melhor entrevista que já fiz na vida", disse posteriormente a icônica apresentadora. “Para mim, Whitney era a voz. A gente poderia escutar Deus por meio dela cantando. O coração era pesado, mas o espírito era agradecido pelo seu dom”.


Outra decisão é não falar sobre a trágica morte da única filha de Whitney Houston. Bobbi Kristina Brown (no filme interpretada por várias atrizes, como Bria Danielle Singleton) faleceu em 26 de julho de 2015, com apenas 22 anos de idade. 

Em janeiro daquele ano, ela foi encontrada inconsciente na banheira de sua casa, em Atlanta. Bobbi chegou a ser reanimada, mas sua atividade cerebral já havia sido bastante afetada.

Em junho, diante da irreversibilidade do quadro, ela passou a receber cuidados paliativos, vindo a óbito no mês seguinte. A necropsia apontou como causas da morte uma pneumonia e má irrigação de sangue no cérebro, consequências, na verdade, de ter ficado muito tempo imersa na banheira, desacordada - o que, por sua vez, teria sido provocado pelo uso de drogas. O corpo de Bobbi foi enterrado ao lado do de Whitney.


Whitney Houston (Reprodução)

Em tempo: nos últimos anos de vida, Whitney conseguiu pagar suas dívidas e ainda deixou um valor considerável para a filha. Com a morte dessa, o dinheiro acabou ficando para a mãe e os irmãos da cantora, Michael e Gary. 

Hoje aos 89 anos, Cissy - que também se firmou como cantora - é tia materna das intérpretes Dee Dee Warwick e Dionne Warwick. Já a madrinha de Whitney Houston era ninguém menos que Aretha Franklin. 

Confira, a seguir, alguns dos marcos da carreira de Whitney, listados pela Wikipedia, a partir de várias fontes:

* Seu álbum de estreia, Whitney Houston, foi o primeiro de uma cantora a vender 25 milhões de unidades, com as vendas dos discos certificadas. 

* "Whitney", seu segundo disco, tornou-se o primeiro a estrear no topo dos mais vendidos nos EUA e Reino Unido simultaneamente.

* Única artista com sete singles consecutivos a atingirem a primeira posição nas paradas de sucessos dos EUA, o recorde mantém-se até hoje.

* Whitney foi a primeira artista feminina a ter 3 singles número #1 de um álbum (Whitney Houston - 1985).

* Whitney foi a primeira artista feminina a ter 4 singles número #1 de um álbum (Whitney - 1987).

* "The Star Spangled Banner" foi a única versão do hino nacional norte-americanos a ser certificada platina, vendendo mais de 1 milhão de cópias.

* A maior certificação inicial de qualquer álbum pela RIAA foi para "The Bodyguard", cuja primeira certificação foi para as vendas de mais de seis milhões de cópias.

* "The Bodyguard" foi o segundo álbum mais vendido por uma artista feminina estrangeira no Brasil, mais de 1 milhão de cópias.

* "The BodyGuard" foi o 4º álbum mais vendido de todos os tempos.

* "The Bodyguard" foi a maior trilha-sonora do mundo vendendo mais de trinta e três milhões de exemplares de 1992 a 1999.

* "The Bodyguard" foi a trilha-sonora mais vendida da história, totalizando mais de quarenta e quatro milhões de cópias vendidas em todo o mundo.

* "The Bodyguard" foi a primeira trilha-sonora a vender mais de 1 milhão de cópias em apenas uma semana.

* "The BodyGuard" foi o álbum mais vendido da década de 1990.

* "I Will Always Love You", segundo single mais vendido da década de 1990, com 10 milhões de cópias em todo o mundo.

* "I Will Always Love You" foi a 2° música de maior sucesso da história.

* "I Will Always Love You" foi a música mais executada entre 1992 e 1993.

* "The Bodyguard" foi o primeiro álbum pop a vender um milhão de cópias na Coreia.


* "The BodyGuard" foi o filme que mais fez sucesso tendo uma cantora como protagonista.

* Whitney ganhou um recorde de oito American Music Awards em 1994. Ela está empatada somente com Michael Jackson, que ganhou oito da AMA em 1984.

* Artista feminina com mais American Music Awards ganhos de todos os tempos, num total de vinte e dois.

* Whitney ganhou um recorde cinco World Music Awards na cerimônia em 1994, apenas igualada por Michael Jackson em 1996.

* Whitney foi a única artista com três álbuns a permanecer no topo do Top 200 da Billboard por mais de dez semanas "Whitney Houston" (14 semanas), "Whitney" (11 semanas) e "The Bodyguard" (20 semanas).

* Whitney tem a mais longa estadia no número um da Billboard Top Gospel Albuns Chart, quando "The Preacher's Wife" permaneceu 26 semanas.

* Recorde de 25 Billboard Music Awards vencidos.

* 20 Singles de Ouro e 7 Singles de Platina.

* Álbum Gospel mais vendido da história: "The Precher’s Wife".

* 32 canções no Top 10 da Billboard.

* 19 singles #1 mundialmente.

* Artista Feminina mais premiada da história certificada pelo 
Livro Guinness dos Recordes (Guinness World Record) em 2006.

* Artista que mais músicas teve interpretadas no American Idol, com mais de 1.150 das 70.000 audições durante o show da terceira temporada. A canção "I Have Nothing" foi interpretada na final 6 vezes, mais do que qualquer outra.



Ficha técnica:
Direção: Kasi Lemmons
Produção: TriStar Pictures / Sony Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h26
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: biografia, musical, drama

10 janeiro 2023

"Me Chama Que Eu Vou", um passeio pela vida e carreira de Sidney Magal

Documentário foi premiado em Gramado e conta com entrevista inédita com o cantor (Fotos: Rodrigo West/Divulgação)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Cantor romântico, apaixonado, louco, maravilhoso, narcisista, um misto de Elvis Presley e John Travolta. Esses são os adjetivos que descrevem Sidney Magal e poderão ser conferidos no documentário "Me Chama Que Eu Vou", que chega aos cinemas nesta quinta-feira (12). 

Um ponto bem positivo da produção foi colocar o próprio Sidney Magal para contar casos e momentos especiais durante os anos dourados de sua carreira. 

Premiada no Festival de Gramado, a obra é dirigida por Joana Mariani e mostra curiosidades do cantor, considerado brega por uns e ídolo por muitos. 


Do artista é mostrada sua excentricidade, explorada de maneira bem divertida. Destaque para Sônia Magalhães, sua mãe, uma grande incentivadora para que ele seguisse o sonho de se tornar cantor. 

Entre as curiosidades relatadas por Magal está a escolha do nome artístico. O primeiro foi Sidney Soni (unindo com o de sua mãe), para depois se tornar Sidney Rossi (graças a um laboratório farmacêutico. 

No início dos anos 1970, graças ao dono de uma boate na Europa, o sobrenome foi reduzido para Magal para facilitar a pronúncia em qualquer lugar do mundo. Nascia Sidney Magal.


No documentário também é apresentada a primeira música de sucesso, gravada no primeiro CD - "Se te Agarro Com Outro te Mato", nos anos de 1980. 

A canção foi inicialmente um desastre, até que foi contratado Robert Livi, um argentino que entendia bem do mercado latino-americano. Na época, ele foi responsável por sucessos de artistas brasileiros como Alcione, Peninha e Sidney Magal. 


Falar de Sidney Magal é falar sobre fenômenos musicais como "Me Chama Que Eu Vou" (que dá nome ao documentário), “Amante Latino”, “Meu Sangue Ferve Por Você”, “Tenho”, “A Moça” e muitos outros sucessos.

Especialmente "Sandra Rosa Madalena" ou "Santa Rosa" como alguns brincam. Essa canção foi o estouro na vida do artista, cuja trajetória foi cercada por polêmicas desde cedo, sobre o jeito de se vestir, à questão da sexualidade e seu estilo de música. 


Em uma das cenas mostradas, quando Sidney Magal muda o cabelo e para de dançar, existe certo estranhamento e mais polêmica. Lembra o que Elvis Presley passou por um momento parecido. 

No lado pessoal do artista somos surpreendidos com uma mudança completa na postura e na forma de vestir. O Magalhães gosta de roupas floridas e bem tropicais. 

Já o Magal usa blazers purpurinados e brilhantes. Isso também é contado nos depoimentos da esposa Magali West e do filho Rodrigo em momentos familiares. 


Outro momento bem engraçado é como Magali e Sidney são bem opostos, ela gosta de vermelho, ele de preto, ele é subjetivo, ela é prática. Talvez a única coisa em comum seja o fato de os dois amarem joias, gosto que vem do sucesso da música "Sandra Rosa Madalena".

Cafona ou cult são partes que deram o que falar sobre a relação do público que escuta o artista. Magal era considerado cafona pela classe média e isso de fato fazia parte da personalidade do artista. 


Após uma publicação na revista Trip em 2003, que elevava e respeitava a carreira do cantor, houve uma ruptura neste conceito. Ele passou a ser ouvido e admirado até pela classe alta, o que reforçou suas excentricidades e ajudou a criar histórias pouco faladas.


"Me Chama Que Eu Vou" é um delicioso passeio sobre a vida de Sidney Magal. Para mim valeu muito, não sabia dessas curiosidades. 

Indico assistir a produção no cinema para os fãs de todas as gerações que queiram saber mais sobre este versátil artista, que passou pela música, cinema (inclusive como dublador de animação), teatro e até novelas.


Ficha técnica:
Direção: Joana Mariani
Produção: Mar Filmes e Maya Filmes, em parceria com a Globo News, Canal Brasil e Globo Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h10
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gêneros: documentário, biografia