16 janeiro 2023

"O Mundo Atrás de Nós" fala da urgência de uma geração

Aurélien Gabrieli e Louise Chevillote formam o casal apaixonado ameaçado pela mentira (Divulgação)


Da Redação 


Uma obra sensível e melancólica que aborda o início da carreira de um escritor sem recursos, que deseja atingir o sucesso rápido, como muitos de sua geração. 

Esta é a história de "O Mundo Atrás de Nós" ("Le Monde Après Nous"), produção dirigida por Louda Ben Salah-Cazanas (seu primeiro longa-metragem), que integra a programação do My French Film Festival.


No longa, Labidi (Aurélien Gabrieli) vive em Paris e quer ser escritor. Mas a capital francesa não é uma festa e ele não vive um sonho: falido, divide um quarto de empregada com seu único amigo. 

O jovem não consegue fechar as contas, recebe dinheiro dos pais (que são humildes) e, diariamente, concorre com a discrepância do estilo de vida de seus colegas de faculdade.


Labidi conhece Elisa (Louise Chevillote) numa cafeteria. Sete anos mais nova, a estudante mora com o pai. No início, parece esperta demais para se envolver com um rapaz ingênuo como ele, chega a intimidá-lo. Mas é Elisa o lado mais frágil dessa relação que se constrói com mais expectativas que honestidade. 

O escritor quer uma vida melhor para si e para Elisa e está nitidamente mais apaixonado por ela, do que ela por ele. Labidi aluga um apartamento maior e melhor, sem ter noção de como vai pagar e sem consultar a amada sobre a localização e a escolha da mobília. 


Tem um agente literário e até consegue contrato com a promessa de entregar um rascunho original em seis meses, mas o livro não segue adiante. 

Labidi faz entregas por aplicativos de refeição, aprende no Youtube os cuidados que deve tomar ao forjar acidente em busca do dinheiro do seguro e vai trabalhar numa ótica, onde furta dinheiro do caixa. Sonha mais do que pode realizar e enfia os pés pelas mãos.


Elisa, cansada e pressentindo o perigo dessa convivência, vai embora. E Labidi, após sofrer uma grande perda, senta e escreve sua estreia literária, intimista e relatora de seu próprio tempo. Mostrando que, talvez, uma ruptura seja necessária e inspiradora. 


"O Mundo Atrás de Nós" está disponível online e gratuito até o dia 13 de fevereiro de 2023 no site. Esta e outras produções do pacote de longas-metragens da 13ª edição do festival de cinema francês poderão ser alugadas de graça por 30 dias, em qualidade HD, pelo site https://www.myfrenchfilmfestival.com/ ou nas plataformas parceiras.


Ficha técnica:
Direção: Louda Ben Salah-Cazanas
Exibição: myfrenchfilmfestival.com
Duração: 1h25
Classificação: 12 anos
País: França
Gênero: drama

14 janeiro 2023

Estreia de "Chef Jack - O Cozinheiro Aventureiro" é o tempero mineiro na animação

Desenho com dublagem de Danton Mello se destaca pela qualidade e o formato 2D (Fotos: Immagini Animation Studios)


Eduardo Jr.


O diretor mineiro Guilherme Fiúza Zenha estreia nesta quinta-feira (19) "Chef Jack - O Cozinheiro Aventureiro", o primeiro longa de animação 100% feito em Minas. A produção se destaca não só por isso, mas também pela qualidade e por ser feito em 2D. Uma ousadia em um momento em que muitas produções apelam - até quando desnecessário - para o formato 3D. 


Na história, Jack é um cozinheiro que se mete em diversas aventuras para conseguir os ingredientes mais raros do mundo e completar suas receitas únicas. 

Dono de um ego bem grande, vê sua reputação ser abalada. E encontra a possibilidade de resgatar o prestígio participando da maior competição de gastronomia do mundo: a Convergência de Sabores. 

Embora domine a culinária, a disputa vai exigir de Jack habilidades de relacionamento - e aí as coisas se complicam. Ele terá que aprender a trabalhar em equipe com o novato pouco confiante, o sonhador Leonard.


O filme é uma produção da mineira Immagini Animation Studios Brasil e Cineart Filmes. A codistribuição fica a cargo da Sony Pictures e da Cineart. A dublagem do protagonista ficou a cargo do experiente Danton Mello (nascido em Passos, interior de Minas). 

O ator já emprestou sua voz a Leonardo DiCaprio em filmes como “Titanic” (1997) e produções como “Os Goonies” (1985) e a franquia “Indiana Jones” (1981 a 2008). Além das animações "Pets - A Vida Secreta dos Bichos" (2016) e "Pets 2" (2019). 


O diretor Guilherme Fiúza (conhecido por trabalhos como “O Menino no Espelho”, baseado na obra do escritor Fernando Sabino) faz sua estreia na animação. E empresta de Sabino um elemento importante para essa história: a amizade. 

Em conversa com a equipe do Cinema no Escurinho, o diretor disse que um traço forte dos mineiros é valorizar as relações com os amigos: “a gente cultua muito a amizade, que está no Clube da Esquina, está na obra de Fernando Sabino, e tem também a cozinha, que é onde a gente se reúne, se sente melhor, é acolhido”. 


Já Danton revelou detalhes técnicos da produção, ao dizer que este trabalho foi diferente de outros realizados. “Às vezes o filme já vem pronto, e aqui não. Eu pude entrar no estúdio e criar, porque não tava colorido, não tinha som… e aí desenharam a boca do Jack em cima da minha voz”, conta. Confira a entrevista abaixo, feita na pré-estreia em BH.


O desenho também se diferencia pela grande quantidade de personagens femininas e de pele parda ou preta. Entre os poucos de pele branca estão a apresentadora do reality de culinária e o vilão, que tenta unir a vitória no jogo a uma vingança particular. 

Além de parecer antenado à crescente abordagem da pauta racial, o filme parece surfar também a onda de programas de gastronomia das TV’s a cabo e aberta. 


"Chef Jack” consegue dialogar com o público jovem por meio de referências a memes e à construção de um gestual que reforça o que a dublagem diz. Nas palavras do diretor, “não é um filme pra você trazer seu filho pra assistir, é pra você vir assistir junto com seu filho, com a família toda”. 

De fato, a obra cumpre esse papel. Mas vale a pena deixar o alerta para os adultos, que podem estranhar cenas mais longas e cenários com desenhos de baixa complexidade. 


No geral, vale destacar o bom trabalho realizado pela equipe enxuta. Nos créditos é fácil ver que o espírito de colaboração (ou o orçamento) fez com que alguns integrantes tivessem até três funções na produção. 

Destaque para o roteiro, criado pelo Arthur Costa, com pós-roteiro e pós-produção de Carlos Daniel Costa, ambos da UFMG, onde nasceu o projeto, desenvolvido ao longo de três anos.

Como o cenário do audiovisual mineiro está distante do que é feito em Hollywood, fica ainda mais evidente o quanto estamos evoluindo e o bom resultado de “Chef Jack”, que diverte, emociona e faz crianças vibrarem.  


Ficha técnica:
Direção: Guilherme Fiúza Zenha
Produção: Immagini Animation Studios e coprodução Pixel Produções e Ciclus Produções
Distribuição: Sony Pictures e Cineart Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h20
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: animação, aventura, culinária