17 janeiro 2023

Longa “Garoto dos Céus” é ousada trama dentro da cultura islâmica

Produção sueca busca indicação de melhor filme internacional no Oscar (Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Premiado no Festival de Cannes como “Melhor Roteiro”, o longa “Garoto dos Céus” ("Cairo Conspiracy") está entre os pré-selecionados ao Oscar de melhor filme internacional. A estreia nas salas brasileiras será nesta quinta-feira (19), e o pôster de divulgação já desafia o espectador, ao exibir um jovem na contramão de todos os outros fotografados (afinal, como um muçulmano ousaria ser diferente do seu rebanho?). 


E o verbo "desafiar" parece ter sido a motivação do diretor Tarik Saleh. Filho de mãe sueca e pai egípcio, Saleh se aproxima da cultura muçulmana do Egito. 

Mas não para ensinar como as coisas funcionam por lá, e sim nos provocar sobre dogmas e a importância do conhecimento. É como se perguntasse “quem sabe o que é melhor para um povo: a religião ou o Estado?”. 


Na trama, o jovem Adam (Tawfeek Barhom) ganha uma bolsa de estudos na melhor universidade do Cairo. Filho de pescadores, ele vai atrás da grande oportunidade que se apresenta. Porém, o Grande Imã da universidade, maior autoridade religiosa do Egito, morre. É quando começa a escolha de um novo nome para o cargo. 


O jogo político se estabelece a partir das intenções do Estado de que o novo Imã siga a mesma linha de pensamento do governo. Nessa disputa entre religião e Estado, o plano do governo é ter um informante dentro da universidade. E o jovem Adam é o escolhido para repassar informações secretamente. 


A tensão do filme fica a cargo dos silêncios - e de algumas ameaças. Aspectos da cultura islâmica que não são questionados, verbalizados, vão criando uma atmosfera de apreensão, dispensando a necessidade de música para guiar o espectador - ponto para o diretor. 

No entanto, ainda na questão sonora, alguns diálogos em certos momentos parecem não ter o volume adequado, interferindo na experiência do espectador.    


Para os ocidentais, que desconhecem ou estranham alguns pontos da cultura islâmica, o filme consegue criar incômodo por dois motivos: pela representação do machismo, já que não há mulheres com papéis de destaque na trama. 

E pela ousadia de abordar um falso moralismo de líderes muçulmanos, a disputa de poder encoberta pela orientação religiosa. 


Mas além da ousadia, a jornada do herói também está lá (mesmo que parcialmente). O protagonista tem seus estágios de partida e de enfrentamento de desafios. Mas seu triunfo não é apresentado ao espectador de forma mastigada. 

Cabe ao público assistir e decidir se o longa merece ou não a estatueta dourada. Mas isso é outra história, já que a lista definitiva de indicados está prevista para ser divulgada no dia 24 de janeiro. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Tarik Saleh
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h06
Classificação: 14 anos
Países: Suécia, França, Finlândia e Dinamarca
Gêneros: suspense, drama político

16 janeiro 2023

"O Mundo Atrás de Nós" fala da urgência de uma geração

Aurélien Gabrieli e Louise Chevillote formam o casal apaixonado ameaçado pela mentira (Divulgação)


Da Redação 


Uma obra sensível e melancólica que aborda o início da carreira de um escritor sem recursos, que deseja atingir o sucesso rápido, como muitos de sua geração. 

Esta é a história de "O Mundo Atrás de Nós" ("Le Monde Après Nous"), produção dirigida por Louda Ben Salah-Cazanas (seu primeiro longa-metragem), que integra a programação do My French Film Festival.


No longa, Labidi (Aurélien Gabrieli) vive em Paris e quer ser escritor. Mas a capital francesa não é uma festa e ele não vive um sonho: falido, divide um quarto de empregada com seu único amigo. 

O jovem não consegue fechar as contas, recebe dinheiro dos pais (que são humildes) e, diariamente, concorre com a discrepância do estilo de vida de seus colegas de faculdade.


Labidi conhece Elisa (Louise Chevillote) numa cafeteria. Sete anos mais nova, a estudante mora com o pai. No início, parece esperta demais para se envolver com um rapaz ingênuo como ele, chega a intimidá-lo. Mas é Elisa o lado mais frágil dessa relação que se constrói com mais expectativas que honestidade. 

O escritor quer uma vida melhor para si e para Elisa e está nitidamente mais apaixonado por ela, do que ela por ele. Labidi aluga um apartamento maior e melhor, sem ter noção de como vai pagar e sem consultar a amada sobre a localização e a escolha da mobília. 


Tem um agente literário e até consegue contrato com a promessa de entregar um rascunho original em seis meses, mas o livro não segue adiante. 

Labidi faz entregas por aplicativos de refeição, aprende no Youtube os cuidados que deve tomar ao forjar acidente em busca do dinheiro do seguro e vai trabalhar numa ótica, onde furta dinheiro do caixa. Sonha mais do que pode realizar e enfia os pés pelas mãos.


Elisa, cansada e pressentindo o perigo dessa convivência, vai embora. E Labidi, após sofrer uma grande perda, senta e escreve sua estreia literária, intimista e relatora de seu próprio tempo. Mostrando que, talvez, uma ruptura seja necessária e inspiradora. 


"O Mundo Atrás de Nós" está disponível online e gratuito até o dia 13 de fevereiro de 2023 no site. Esta e outras produções do pacote de longas-metragens da 13ª edição do festival de cinema francês poderão ser alugadas de graça por 30 dias, em qualidade HD, pelo site https://www.myfrenchfilmfestival.com/ ou nas plataformas parceiras.


Ficha técnica:
Direção: Louda Ben Salah-Cazanas
Exibição: myfrenchfilmfestival.com
Duração: 1h25
Classificação: 12 anos
País: França
Gênero: drama