19 janeiro 2023

"M3gan" - aquele parente que é melhor não ter na família

A atriz-mirim Amie Donald interpreta a boneca robô com cara de assassina que tem vida infinita (Fotos: Universal Pictures)


Maristela Bretas


A roupa lembra uma professora primária, mas não se engane com esse novo brinquedo de 10 mil dólares que entrou em cartaz nos cinemas. Ela é "M3gan", uma boneca desenvolvida para ter vida infinita e ser a melhor amiga e protetora de sua dona. O que sua criadora não esperava é que ela também se tornasse seu maior pesadelo.

A produção não chega a ser um terror pesado. Os ataques da boneca começam mesmo a acontecer do meio do filme para frente. Antes disso, o roteiro é comum e segue explicando os dramas da criança amiga da boneca e sua relação com a família e o brinquedo. 


Só a cara e o olhar macabro de M3gan já causam pânico em qualquer um. Tudo indica que coisa boa não vai sair dali. A mesma sensação provocada por outros brinquedos do mal. 

Como Chucky (2019), na nova versão robotizada, ao contrário do original em pano e resina de 1998, como Annabelle (2014). Ambos assustam pela aparência. Não é normal um pai querer que algo bizarro assim passe longas horas com o filho.


Mas é exatamente isso o que acontece. Mesmo sendo um filme de terror, o roteiro tenta mostrar que a pequena órfã Cady (Violet McGraw, de "Doutor Sono" - 2019) só se liga na boneca porque a tia Gemma (Allison Williams, de "Corra" - 2017), roboticista de uma empresa high-tech de brinquedos para crianças, não lhe dá a atenção necessária. 


M3gan (com excelente interpretação da atriz-mirim, dublê e dançarina Amie Donald) é um protótipo de boneca realista, ainda em fase experimental, que usa Inteligência Artificial. 

No vídeo com conteúdos especiais, divulgado dia 18 nas redes sociais da Universal Pictures Brasil, elenco e produtores afirmam que a companheira de Cady é "a melhor amiga", "radiante como um raio de luz', até surtar. 


Programada para ser uma aliada dos pais e a maior companheira das crianças, ela é dada por Gemma à sobrinha Cady como teste para que aprenda a interagir com os humanos. Só que M3gan passa a assumir responsabilidades que deveriam ser da tia e suprir a carência da menina.

Mas a boneca vai além e se torna independente e possessiva com relação à Cady, não permitindo que nada nem ninguém lhe cause dor ou sofrimento. A partir daí, o pânico e as mortes passam a fazer parte da vida de Gemma e daqueles ao seu redor. 


M3gan não tem dó em usar um martelo, uma chave de fenda, ácido ou sua própria força para eliminar aqueles que ela não gosta ou que tentam afastá-la de Cady. 

As cenas de ataques não são explícitas, não se vê cabeças cortadas e corpos mutilados, mas o suspense é conduzido de maneira satisfatória e o sangue corre pela parede. 


Uma das melhores cenas é a "dancinha" que ela faz no corredor. Outro ponto positivo é a ótima trilha sonora de Anthony Willis, escolhida a dedo para compor as ações da personagem do mal. Destaque para “Titanium”, de Rihanna, interpretada por Jenna Davis, que também faz a voz da boneca. Clique aqui para conferir. 


O longa foi criado a partir do roteiro de Akela Cooper, com história de James Wan, que também é um dos produtores e tem em sua filmografia sucessos do terror como "Maligno" (2021), "Invocação do Mal 2" (2016), "Invocação do Mal "(2013), "Gritos Mortais" (2007) e "Jogos Mortais" (2004).


Apesar de ser um terror mediano, "M3gan" agrada e o público não sai insatisfeito do cinema. A boneca, apesar de ter uma cara que provoca arrepios, é com certeza a estrela do filme, sem passar uma aspecto fake

Pelo contrário, parece bem real e pode tirar o sono de muita criancinha. Entra para a minha lista dos bonecos assassinos que cumprem o que prometem. 


Ficha técnica:
Direção: Gerard Johnstone
Produção: Blumhouse Productions e Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

18 janeiro 2023

As dores e delícias de Hollywood em “Babilônia”

Diretor Damien Chazelle traz a grandiosidade e a decadência do cinema nos anos de 1920
 (Fotos: Paramount Pictures)


Eduardo Jr.

O novo filme do premiado diretor Damien Chazelle, “Babilônia” ("Babylon"), que estreia nesta quinta-feira (19), parece ter a intenção de representar os dois significados do nome da antiga cidade. Se para alguns quer dizer “Porta de Deus”, para outros, o termo se traduz como “grande confusão”. 


São três horas de duração de uma trama que se apresenta com o esplendor do cinema de verdade. Com música e movimento. Na telona, a mesma divisão social da antiga cidade onde hoje está o Iraque encontra ecos na Hollywood dos anos 1920. Com pessoas de classe alta no topo da pirâmide; abaixo delas, as de casta inferior; e na base, as escravizadas.  

E nesse período da história de Los Angeles, duas figuras sonham passar pela "porta celestial" e fazer parte da festa. Uma confusão que soma ingredientes como excentricidades, música, drogas e luxo. 


Ao tentar entrar de penetra em uma dessas noitadas, a aspirante a atriz Nellie LaRoy (Margot Robbie) é ajudada por Manny (Diego Calva), imigrante mexicano que é um mero faz-tudo do anfitrião, mas sonha em trabalhar num set. 

A sorte sorri para eles, mas começa a dar as costas para Jack (Brad Pitt), um astro do cinema mudo que tem sua capacidade de atuação questionada quando a transição para os filmes falados se apresenta à indústria na década de 1930. 


Embora o filme possa ser visto como uma ode à sétima arte, nada é romanceado. Os podres também estão lá, escancarados. Afinal, todos querem fazer parte dessa elite. No entanto, pra chegar lá, o preço é alto. E se manter no topo, mais caro ainda! 


A história de cada personagem parece se apresentar em capítulos, mas no final das contas, fazem parte da mesma construção. Racismo, trapaças, discriminação sexual, falsidade e situações desumanas no trabalho são algumas das pautas expostas, e vão se alternando na tela em uma montanha russa de emoções. 

Fazem o espectador prender a respiração, rir, se espantar… oferecem tudo aquilo que o cinema vem provocando há décadas. Tudo em três horas que passam sem sofrimentos para o espectador.  


O filme mostra o que a cidade do cinema, considerada mágica, esconde. Por exemplo: que pra ganhar um personagem, é preciso montar um personagem. Que o amor à arte também é negócio. Que as estrelas de ontem podem ser substituídas amanhã. Que a decadência existe para tudo e todos. E que além do glamour há também o submundo. 


Tobey Maguire (um dos produtores executivos) é responsável por simbolizar esse lado oculto. Fica fácil associar seu personagem James McKay a um nosferatu, que sobrevive de sugar a vida dos desavisados. 

A presença de Maguire, assim como a de Jean Smart (que vive uma jornalista crítica de cinema), são amostras do poder deste filme. 

A ficha técnica conta ainda com Justin Hurwitz, compositor que ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora e de Melhor Canção Original por "La La Land" (2017), outro filme escrito e dirigido por Damien Chazelle. 


Atraindo muitos olhares e expectativas para a cerimônia do Oscar 2023, "Babilônia” venceu a categoria Melhor Trilha Sonora no 80º Globo de Ouro, realizado na semana passada. 

Vale a pena assistir pra apostar se as atuações de Margot Robbie, Brad Pitt e Diego Calvo; se a música de Hurwitz e se o roteiro ou direção de Chazelle merecem a maior premiação do cinema mundial. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Damien Chazelle
Produção: Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures Brasil
Exibição: nos cinemas
Duração: 3h09
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: musical, drama