21 janeiro 2023

"Aftersun" é um filme pra ser visto pelo menos duas vezes

Frankie Corio e Paul Mescal estão brilhantes, com uma química sem igual (Créditos: Sarah Makharine/Divulgação)


Jean Piter Miranda


No final da década de 1990, Sophie (Frankie Corio), de 11 anos, e seu pai Calum (Paul Mescal) passam férias no litoral da Turquia. Os dois se dão muito bem. São companheiros, amigos. Ele faz de tudo para ser o melhor pai. Ela está em uma fase de descobertas e amadurecimento. 

E há uma câmara entre eles, gravando vários momentos que vão ecoar no futuro. Passados 20 anos, em meio a muitas lembranças, Sophie tenta lidar com tudo o que naquela época não sabia sobre o próprio pai. Esse é "Aftersun", da diretora Charlotte Wells, disponível na plataforma Mubi e ainda em cartaz em salas alternativas de cinema. 


Sophie e Calum estão hospedados em um hotel que não é nada luxuoso. Mas é o suficiente para que eles possam curtir o sol e a piscina. Eles passeiam por vários locais. Fazem piadas, dão risadas e, no meio de tudo isso, a menina sai fazendo perguntas ao pai. Hora sobre a vida deles, hora sobre curiosidades. 


É tudo muito leve, descontraído. Estão curtindo férias em um lugar legal, como planejaram. E a câmera deles vai filmando pequenos momentos dos dois juntos. A partir daí, o filme vai tomando três caminhos. 

Sophie está numa fase de descobertas. É uma pré-adolescente. Ela fica observando as conversas e as brincadeiras dos outros jovens um pouco mais velhos. 


Meninas que aparentam ter 15 ou 16 anos e seus namoradinhos. Todos muito eufóricos. Sophie, mais contida e observadora, fica próxima, buscando ser convidada para participar das brincadeiras no clube com essa turma. 

Ao mesmo tempo, ela se aproxima de um menino de sua idade, com quem passa a interagir mais e mais. 


Calum não está bem. Hora parece que falta a ele paciência, hora ele parece ansioso, preocupado. Presente de corpo e com a cabeça longe. Tentando com todas as forças não transparecer suas aflições. 

Vida pessoal, vida profissional, sonhos, expectativas. E ele segue se esforçando para dar bons momentos a sua filha. Situações que vão sendo percebidas em cada um dos diálogos entre eles. 


Entre uma cena e outra surgem filmagens que foram feitas pela câmera de Sophie e Calum. Imagens tremidas, por vezes sem foco, sem o devido enquadramento, o que dá um ar perfeito de amadorismo, de vídeo caseiro. 

É aí que percebemos que as férias estão no passado. Sophie está adulta, relembrando tudo, revendo as gravações, só que não está feliz. Está angustiada, inquieta, em uma atmosfera que transmite tristeza e incapacidade. 


"Aftersun" passa aquela sensação de nostalgia. Quem viajou em família com uma câmera nos anos 1990 poderá se identificar e se emocionar. Quem é apaixonado por audiovisual e entende essa potência que as filmagens têm de eternizar momentos, também vai se emocionar. Ainda mais quando o filme termina e as peças são ligadas. 

É sobre paternidade, memórias, amizade de pai e filha. É sobre as dores e delícias da vida. É sobre a vontade de voltar no tempo para mudar alguma coisa, pra reviver um abraço, ou pra ficar um pouco mais. 

Charlotte Wells de boné preto

O longa marca a estreia da jovem diretora escocesa Charlotte Wells (35 anos). Filme que foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, vencendo vários prêmios

Entre eles, o British Independent Film Awards, nas categorias de Melhor Filme Independente Britânico, Melhor Direção, Roteiro, Diretor estreante, Fotografia, Edição e Supervisão de música. Charlotte também foi reconhecida na categoria de direção inovadora no Gotham Awards 2022. 

Frankie Corio e Paul Mescal estão brilhantes, com uma química sem igual. "Aftersun" é uma obra de arte agridoce, que a gente vê uma vez e gosta, pede mais, assiste outra vez e multiplica as emoções. 


Ficha técnica:
Direção: Charlotte Wells
Produção: BBC Film, BFI e Screen Scotland, em associação com a Tango
Distribuição: O2 Play Filmes
Exibição: plataforma Mubi e nas salas 3, do Una Cine Belas Artes (sessão das 16h30) e sala 2, do Minas Tênis Clube (sessão das 20h10)
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
Países: Reino Unido e EUA
Gênero: drama

20 janeiro 2023

"Cinema Mutirão" é o destaque da 26ª Mostra de Tiradentes

Evento terá mais de 100 filmes em pré-estreias, mostras temáticas, seminários e debates (Foto: Jackson Romanelli/Universo Produção)


Da Redação


A Sétima Arte toma conta de Minas de hoje ao dia 28 de janeiro com a 26ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes. O evento inaugura o calendário audiovisual brasileiro apresentando ao público a diversidade da produção cinematográfica nacional. 

Serão mais de 100 filmes em pré-estreias, mostras temáticas, promove seminário, debates, a série Encontro com os filmes, oficinas, Mostrinha de Cinema e atrações artísticas. 

Espaço da Mostra (Foto: Leo Lara/
Universo Produção)

Maior evento do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão realizado no país, a Mostra de Cinema Tiradentes terá formatos online e presencial. Toda a programação da Mostra é gratuita. Mais informações www.mostratiradentes.com.br

E o blog Cinema no Escurinho vai acompanhar direto da cidade com a correspondente Larissa Figueiredo. Saiba mais sobre as produções que estão sendo lançadas em nossas redes sociais. 

"Mugunzá", de Glenda Nicácio e Ary Rosa 
- filme de abertura 
(Universo Produção)

A temática adotada pela curadoria, coordenada por Francis Vogner dos Reis, Camila Vieira e Lila Foster, responde aos últimos três anos, quando a pandemia de COVID-19 e os desarranjos anticulturais do governo federal afetaram drasticamente a economia criativa no país. 

Mas a Mostra traz a questão à tona não pelo viés do lamento, e sim da ideia de “Cinema Mutirão” que caracterizou o período e manteve continuidade de produção, ainda que frágil, porém sempre constante. 

Cinema Mutirão (Foto: Jackson Romanelli/
Universo Produção)

O conceito de “Cinema Mutirão” tem por objetivo chamar para o debate todos aqueles e aquelas que queiram colaborar para construir uma base sólida para a construção e reconstrução do audiovisual brasileiro.

O “mutirão” artístico se fez valer intensamente na quantidade de criadores de áreas diversas da cultura que, impossibilitados de suas atividades por conta especialmente da pandemia, encontraram no audiovisual – que se manteve forte em termos de consumo durante o isolamento – algumas novas formas de expressão. 

Troféu Barroco (Foto: Leo Lara/
Universo Produção)

Algumas das questões a serem debatidas durante a 26ª Mostra de Tiradentes serão: como pensar em formas mais sustentáveis para a economia do audiovisual? 

Em qual campo o cinema brasileiro precisa lutar para que o aumento da produção nacional de filmes seja acompanhada da sua real inserção no mercado e no imaginário da população brasileira? “Num mutirão, construir também é ocupar”, resume o curador Francis Vogner. 

"Propriedade", de Daniel Pereira - filme
de encerramento (Divulgação)

Homenagem especial

Para representar a temática desse ano de “Cinema Mutirão”, a dupla Glenda Nicácio e Ary Rosa, escolhida para receber a homenagem nesta edição de 2023 foi essencial. 

Mineiros de nascimento (ela é de Poços de Caldas; ele, de Pouso Alegre), radicaram-se em Cachoeira (BA) em 2010, ao irem estudar cinema no então recente curso da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). 

Eles fundaram a produtora Rocha Filmes e, desde então, fazem alguns dos títulos mais celebrados do cinema brasileiro contemporâneo, construindo uma vasta comunidade local de realizadores, inclusive em projetos de educação audiovisual.

Ary Rosa e Glenda Nicácio (Foto: Leo Lara/
Universo Produção)

Glenda e Ary assinaram a direção conjunta de cinco longas-metragens em cinco anos: “Café com Canela” (2017), “Ilha” (2018), “Até o Fim” (2020), “Voltei!” (2021), “Mugunzá” (2022) e “Na Rédea Curta” (2022). Glenda ainda dirigiu um projeto solo, o média-metragem “Eu não Ando Só” (2021). 

A homenagem a Ary Rosa e Glenda Nicácio é também estendida à Rosza Filmes e resulta dos bons frutos de uma política de descentralização de recursos ao audiovisual promovida na década de 2000 e parte da década de 2010.

"Na Rédea Curta", de Glenda Nicácio
e Ary Rosa (Foto: Universo Produção)
 

Serviço:
26ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Período: entre 20 e 28 de janeiro de 2023
Exibição: em formato online e presencial
Programação: totalmente gratuita
Maiores informações: www.mostratiradentes.com.br