30 janeiro 2023

"Gemini: O Planeta Sombrio" é o "Alien" fake de 2023

Longa russo recheado de clichês aborda a exploração de um planeta onde vive uma criatura desconhecida (Fotos: Condor Distribution)


Marcos Tadeu 
Blog Narrativa Cinematográfica


Um longa russo sem força nem para se tornar, em 2023, o novo "Alien: O 8º Passageiro" (1979). Este é "Gemini: O Planeta Sombrio", que chega aos cinemas, nesta quinta-feira (2), distribuído pela Paris Filmes, com direção de Serik Beyseu e roteiro de Dmitriy Zhigalov.


Na história somos apresentados a uma Terra completamente devastada de seus recursos. A última chance da humanidade exige mudança para um lar totalmente novo, no espaço sideral. 

Um grupo é enviado para explorar um novo planeta, mas acabam descobrindo que não estão sozinhos.


A frase do pôster "Não deixe que o medo se apodere de você" é a prova de que a obra não se leva a sério. Não passa nenhuma tensão ou medo ao público. 

O cenário, as atuações e até a tal criatura que povoa o planeta é jogada quase para escanteio, fazendo com que a experiência seja rasa como um pires. 


O drama que ele tenta colocar para provocar alguma simpatia pelo casal principal é extremamente vergonhoso e apelativo. O diretor usa recorrentes flashbacks para justificar suas escolhas, dando a impressão de que não sabe para onde deve ir.


Sem dúvida, a obra quis se inspirar e até homenagear "Alien: O Oitavo Passageiro", mas todos os elementos soam totalmente batidos e clichês. 

Um filme arroz com feijão, tão básico e tão ruim que nem faz com que o público se interesse pelo enredo. E que no fim, entrega apenas um "Alien versão barata" e completamente esquecível.


"Gemini: O Planeta Sombrio" sem dúvida, já pode ser aquele filme para entrar na lista dos "piores do ano" de 2023. Assim como "Moonfall: Ameaça Lunar" ganhou várias avaliações negativas em 2022, esse longa russo tem tudo para ganhar também uma posição no ranking. É um filme para ser assistido em casa, não vale o ingresso do cinema.


Ficha técnica:
Direção: Serik Beyseu
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 14 anos
País: Rússia
Gêneros: ficção, suspense

28 janeiro 2023

Cate Blanchett coloca “TÁR” na lista de indicados ao Oscar

Filme de Todd Field é bem editado, mas exige calma para lidar com as tensões da protagonista
(Fotos: Focus Features)


Eduardo Jr.


A chegada de “TÁR” aos cinemas brasileiros promete encantar e também incomodar. Durante as duas horas e 40 minutos do novo filme do diretor norte-americano Todd Field, o espectador experimenta o encanto, por meio da atuação de Cate Blanchett.

E também o incômodo, por conta da construção de uma personagem tão difícil - que carrega doses de genialidade, mas não se explica pelo clichê dos gênios excêntricos; que se masculiniza e ainda assim consegue expressar feminilidade; que poderia ser militante de uma causa, mas apresenta uma complexidade ainda maior. 


Tudo começa com a apresentação (‘beeem’ longa) da personagem central, Lydia Tár. Mas prepare-se para ser hipnotizado por Blanchett. É este o momento que nos permite conhecer a inteligência - e a agressividade - de uma mulher lésbica, que gosta de ser chamada de maestro, e que está à frente de uma das maiores orquestras do mundo. 


Quando Lydia fala, tudo é silêncio. E, se o que escuta não a convence, ela age, com força, e sem pestanejar. Mas além do silêncio, a edição do filme, que costura a música a momentos determinados para anunciar novas camadas (e, consequentemente, mexer com os sentimentos do público), só engrandece a produção.   


Lydia controla. É ela quem figura como organizadora da casa onde mora com a mulher e a filha. No mundo da música clássica, dominado por homens, ela é quem rege. Mas a mulher forte, no ápice da carreira, tem esqueletos no armário. E pra quem está no topo, só resta a queda. 


O diretor nos coloca dentro do ambiente para assistir como uma pessoa é capaz de certas atitudes em relação àqueles ao seu redor. O que nos deixa tensos e apreensivos sobre o que virá a seguir. Cada ameaça à projeção de Lydia vai dando mais força para o desfecho do filme.  


Ainda assim, vemos na protagonista não só um lado ‘monstro’, mas também um ser humano que erra. Imersa no universo da música clássica, Lydia tem dificuldades em aceitar a modernidade. 

Acostumada às obras requintadas, criadas por homens brancos forjados pelo machismo de décadas e décadas, autoridades oriundas do Youtube e julgamentos que viralizam nas redes sociais se tornam o inferno para a regente. 


Julgamentos morais parecem ser uma especialidade de Todd Field. É ele a mente por trás de “Pecados íntimos” (PlayArte, 2007). Mas agora, em “TÁR”, o diretor vai além e propõe um filme ‘de personagem’. 

A construção do roteiro associada à criação da personagem de Blanchett é impecável! Principalmente pelo final apresentado. 


Filme de arte! Um adjetivo que pode ser prejudicial na luta pela principal categoria do Oscar. Embora ainda concorra com outras indicações (melhor direção, melhor atriz, melhor roteiro original, melhor edição e melhor fotografia), “TÁR” e Cate Blanchett merecem passar à história como um exemplo do que é cinema de qualidade.  


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Todd Field
Produção: Focus Features / Standard Films
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h38
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: drama / musical