05 fevereiro 2023

Tom Hanks emociona e faz rir como "O Pior Vizinho do Mundo"

Comédia dramática envolve o público pelo roteiro bem conduzido e ótimas atuações do elenco
(Fotos: Sony Pictures)


Maristela Bretas


Poderia ser mais uma comédia dramática comum, daquelas que a gente vê em sessão da tarde. Mas "O Pior Vizinho do Mundo" ("A Man Called Otto") entrega muito mais que isso e, além de tudo, tem Tom Hanks como protagonista. 

Ele interpreta um homem rabugento e antipático, capaz de fazer o público ter birra dele no início e se encantar no final, graças à ótima performance do tarimbado ator.


A produção ainda tem um agravante: é preciso levar um lencinho, pois é quase certo sair do cinema com os olhos bem vermelhos. O roteiro, apesar de lento e previsível no início, entrega um desfecho que prende e emociona. 

Especialmente pelas atuações de Hanks como Otto, o vizinho ranzinza, e de Mariana Treviño, como a nova vizinha Marisol, que valem cada centavo do ingresso.


A história se passa, basicamente, num condomínio fechado, que um dia teve Otto como administrador (tipo um síndico). Apesar de não ocupar mais o cargo, ele continua vigiando todas as coisas erradas dos demais moradores, visitantes e entregadores. 

Mas seu principal alvo é a incorporadora que insiste em tirar os antigos proprietários para derrubar seus imóveis e iniciar um novo empreendimento.


Tudo seguia bem na rotina de resmungos de Otto, sem dar conversa a ninguém ou cumprimentar as pessoas. Até uma nova família se mudar como inquilina para uma das casas. 

Marisol, uma mulher cheia de vida e de bom astral, é casada com Tommy (Manuel Garcia-Rulfo), mãe de duas simpáticas meninas e está grávida do terceiro filho. 

Apesar das grosserias e do mau humor do vizinho, ela resolve mostrar a ele que ninguém pode viver sozinho no mundo.


"Entre tapas e beijos", nasce uma grande amizade entre eles, capaz de transformar a vida do ermitão e de toda a comunidade. Apesar do comportamento arredio e chato, Otto sempre ajuda os demais vizinhos, especialmente Marisol.

Um dos pontos que chama a atenção é o fato de Otto não aceitar a perda da esposa, sua única e grande paixão na vida. E por essa razão, só pensa em tirar a própria vida para reencontrá-la. Não são poucas as tentativas sem sucesso, que acabam entregando a parte cômica do longa.


Mesmo sendo uma boa comédia, "O Pior Vizinho do Mundo" tem também um lado dramático que dá um nó na garganta. O filme conta a história de Otto em flashbacks, especialmente a partir do dia em que conheceu e se apaixonou à primeira vista por Sonya (papel de Rachel Keller). 

A personagem tem um papel fundamental na trama, apesar de estar presente apenas na memória do viúvo.


Destaque no elenco também para o simpático Jimmy (Cameron Britton), também morador. Mesmo sempre sendo evitado por Otto, gosta muito do vizinho, com quem convive desde que Sonya era viva. Ele também ajuda a cuidar dos mais velhos do condomínio.

Adaptado do livro "Um Homem Chamado Ove", de Fredrik Backman, que rendeu um filme sueco com o mesmo nome em 2015, "O Pior Vizinho do Mundo" conta com direção de Marc Forster e um roteiro bem conduzido de David Magee. Vale a pena conferir e se emocionar.


Ficha técnica:
Direção: Marc Forster
Produção: Playtone
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h07
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, drama

02 fevereiro 2023

"Batem à Porta" retrata dilema familiar e o apocalipse

Novo longa do diretor M. Night Shyamalan explora as possibilidades de um outro fim de mundo
  (Fotos: Universal Pictures)


Carolina Cassese


Uma família diante de um perigo que pode acabar com a humanidade. É o que retrata o novo longa de M. Night Shyamalan, "Batem à Porta" ("Knock at the Cabin"), que chega aos cinemas nesta quinta-feira (2). 

Não faltam exemplos de produções recentes que se desenrolam a partir dessa problemática. Podemos citar os recentes "Ruído Branco" (2022), "Nós" (2019), "Não! Não Olhe!" (2022) e "Um Lugar Silencioso" (2018). Alguns cenários definitivamente são menos críveis do que outros. 


Mas levando em conta que atualmente precisamos lidar com as severas consequências de uma pandemia e da mudança climática (tristes eventos que, diga-se de passagem, estão associados), é mais do que natural que estejamos pensando sobre o fim do mundo. 

Exemplo disso é uma das séries mais comentadas do momento - "The Last of Us" -, que retrata uma sociedade pós-apocalíptica. Agora chegou a vez de M. Night Shyamalan explorar essa temática. O flerte com o sobrenatural, característico de muitos longas do diretor, também está presente nesse novo trabalho. 


Em "Batem à Porta", uma família pode impedir o fim do mundo caso faça um sacrifício. O destino de toda a humanidade, portanto, está nas mãos de Eric (Jonathan Groff), Andrew (Ben Aldridge) e Wen (Kristen Cui), um jovem casal e sua filha. 

Pelo menos é isso que anuncia Leonard (Dave Bautista), um grandalhão que invade a cabana onde a família passa férias. Outros três desconhecidos (Rupert Grint, Abby Quinn e Nikki Amuka-Bird) se juntam a ele e fazem os personagens principais de reféns. 

Fica a pergunta: é verdade que a família pode impedir o apocalipse ou os quatro invasores não passam de lunáticos?


Para convencer o casal de que o mundo está de fato acabando, Leonard constantemente mostra as terríveis notícias: vírus que se propagam numa velocidade absurda, acidentes de avião por toda a parte, tsunamis de grandes dimensões. 

Uma das discussões relevantes que podem emergir a partir do filme é justamente essa, a respeito da quantidade de (más) notícias que temos acesso nos dias de hoje. 


Com o advento das plataformas digitais, nossa atenção está cada vez mais dividida e ainda nos deparamos com uma enxurrada constante de notícias falsas. Além disso, muitas vezes naturalizamos tragédias e tratamos crimes ambientais como “acidentes”. 

A partir dessa visão, não é de se admirar que o personagem Andrew custe a acreditar na real necessidade de tomar uma decisão tão difícil para impedir o suposto apocalipse. Afinal, o que está acontecendo é o fim do mundo ou apenas mais uma terça-feira?


Além de uma premissa intrigante (adaptada do livro "O Chalé no Fim do Mundo", de Paul Tremblay), o filme é eficiente em gerar tensão no espectador e conta com boas atuações. Vale destacar a performance de Dave Bautista, que mais uma vez prova seu talento para cenas dramáticas. 

Talvez um dos principais pontos negativos seja o fato de que o dilema da decisão familiar não consegue ganhar complexidade moral. Em nenhum momento os personagens de fato se reúnem para pensar se devem ou não cometer um sacrifício pessoal em nome da humanidade. 


Nesse sentido, fica a sensação de que uma das mais relevantes premissas do longa é “desperdiçada”. No que diz respeito à recepção, vale dizer que Shyamalan definitivamente é um diretor que divide opiniões.

Se por um lado as primeiras exibições de "Batem à Porta" geraram ótimas repercussões no Twitter, parte da crítica especializada agora publica opiniões duras - o britânico The Guardian, por exemplo, disse que “Shyamalan fez de novo, do pior jeito possível”. 


Tal divisão pôde ser observada até mesmo no fim da sessão de cinema em que estive presente: enquanto alguns saíram satisfeitos com o desenrolar da história, outros não hesitaram em demonstrar descontentamento.

É compreensível que uma parcela do público se sinta decepcionada, já que o diretor de "Sexto Sentido" (1999) nos condicionou a esperar por uma grande reviravolta.  

Os ávidos por um bom plot twist provavelmente terminarão o filme insatisfeitos, já que as principais surpresas de "Batem à Porta" estão concentradas no início do longa.


O filme, portanto, é sobre a jornada. Com expectativas ajustadas, se torna possível permanecer envolvido na história e apreciar as qualidades da mesma. 

O apocalipse segundo Shyamalan pode não ser surpreendente, mas prende a atenção e, em conjunto com as outras tantas narrativas sobre o fim do mundo, tem o potencial de gerar muita discussão.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: M. Night Shyamalan
Produção: Blinding Edge Pictures / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, terror