09 fevereiro 2023

"As Histórias de Meu Pai", mais drama do que comédia, chama atenção para a responsabilidade do pai herói

Atuações do jovem Jules Lefebvre  e do experiente Benoit Poelvoordesão destaques desta produção francesa
(Fotos: Caroline Bottaro)


Mirtes Helena Scalioni


Para início de conversa, é difícil entender por que "As Histórias de Meu Pai" ("Profession du Pére") é classificado, inicialmente, como comédia. Não é. Embora o espectador possa até rir ao longo do filme, dirigido por Jean-Pierre Améris (“A Linguagem do Coração”- 2014), na maior parte do tempo, a produção francesa que entra em cartaz nesta quinta-feira (9) transmite mesmo é espanto diante da estranha relação entre pai e filho, intermediada por uma silenciosa omissão da mãe.


Logo no início, fica claro que André Choulans, magistralmente interpretado por Benoit Poelvoorde (“Mentiras Secretas” -2021), é um mentiroso compulsivo, um típico e perigoso mitômano que, com sua autoridade de pai, vai envolvendo o pequeno Emile, de 11 anos, em seus delírios e bizarrices. 

Inocente, o menino parece ter adoração por aquele pai herói que diz já ter sido paraquedista, campeão de judô, amigo de Édith Piaf e até conselheiro do general Charles De Gaulle.


A história se passa em Lyon, na década de 1960, quando André, dizendo-se traído pelo presidente, envolve o filho num projeto para matar De Gaulle. 

Afirmando ser membro de uma OAS, espécie de organização clandestina que se opõe à independência da Argélia, ele vai transformando o filho num agente secreto, a quem são dadas missões perigosas como colocar cartas anônimas nas caixas de correio de autoridades ou pichar muros da cidade.


Mas o grande trunfo do longa francês é, sem dúvida, a atuação de Jules Lefebvre como Emile. Inacreditável e encantadora a expressão do pequeno ator diante do “heroísmo” do pai, sua alegria e determinação diante das missões que tenta cumprir e até a aceitação submissa dos castigos que recebe quando o pai acha que ele não foi eficiente. 

Chama atenção também a graça com que ele, fazendo ar de mistério, tenta cooptar seu colega de sala, Lucas (Tom Levy) para a organização secreta com o objetivo de eliminar o presidente da França. 


Em seu papel de mãe que nada pode fazer para estancar as loucuras do marido, Audrey Dana, como Denise Choulans tem interpretação correta e na medida. 

Ao final, quando a história dá um salto de cerca de 20 anos, o público pode, inclusive, compreender melhor sua omissão diante dos exageros do marido.


Mesmo não sendo comédia – talvez exatamente por isso – "As Histórias de Meu Pai" vale a pena ser visto, até para que se entenda o poder e a responsabilidade de um pai em sua relação com os filhos. 

Também pode levar a alguma reflexão sobre os perigos que chegam a representar as ideias e ideologias extremistas, tão em voga no mundo de hoje.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jean-Pierre Améris
Produção: France 3 Cinéma
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: comédia, drama

08 fevereiro 2023

Com um roteiro genérico, "Oferenda ao Demônio" falha ao se apoiar na mitologia judaica

Terror sobre um espírito maligno que atormenta a esposa grávida do filho de um agente funerário
(Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Larissa Figueiredo


Enquanto a comunidade judaica busca por uma criança desaparecida, o filho de um agente funerário retorna para casa com a esposa na reta final de uma gravidez. Cheio de dívidas, Art (Nick Blood) pretende convencer o pai (Allan Corduner) a hipotecar a casa da família. 

As tramas, que se desenvolvem individualmente, sem muita conexão entre si, se unem no clímax de "Oferenda ao Demônio" ("The Offering"), filme que estreia nesta quinta-feira (9) nos cinemas. 


É nesse cenário que os roteiristas Hank Hoffman e Jonathan Yunger tentam se apoiar à mitologia judaica com o mito de Abyzou, um demônio responsável por causar abortos e mortalidade infantil. 

Ele assume a forma de um “monstro” semelhante a uma cabra gigante, causando confusão mental nos personagens e os levando a fazer sacrifícios.


Contudo, o texto não esclarece nem aprofunda os aspectos culturais que abarcam os comportamentos dos personagens. O roteiro apresenta um desenvolvimento confuso, lento, previsível e cansativo para o espectador, tornando o pano de fundo do filme apenas uma boa ideia mal executada. 


A fotografia é simplória e pouco atrativa. Pouquíssimos elementos audiovisuais são empregados para enriquecer a experiência do público. A sonoplastia e a trilha sonora também não se destacam e não colaboram para o suspense necessário ao gênero. 


O final chega perto de surpreender quando utiliza das ilusões provocadas por Abyzou para confundir quem está do outro lado da tela. Após mais de uma hora de informações desconexas, o desaparecimento de Sarah Scheindal (Sofia Weldon) é esclarecido.

E se mescla à gravidez de Claire (Emily Wiseman) e aos mistérios envolvendo a funerária. Entretanto, não responde questões importantes, como os imbróglios que envolvem a família de Art e os conhecimentos esotéricos do núcleo principal. 


Ficha técnica:
Direção: Oliver Park
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: Terror
Avaliação: 2/5