28 fevereiro 2023

"Duas Bruxas: A Herança Diabólica” não passa de um terror fraco com narrativa confusa

Produção conquistou diversos prêmios em festivais internacionais (Divulgação)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


O que faz um filme de terror fraco, com narrativa confusa, repleto de clichês conquistar vários prêmios em festivais internacionais e ganhar tanta visibilidade? 

Essa é a pergunta que não quer calar sobre "Duas Bruxas: A Herança Diabólica” ("Two Witches"), que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (2 de Março).

Dirigido por Pierre Tsigaridis, o longa, que pode ser enquadrado na categoria de Filme B de terror, fez barulhos nos festivais FilmQuest, Freak Show Horror Film Festival e Grimmfest. 

E saiu vitorioso com os prêmios Best Editing, Best FX Makeup e Best Scare Award. 


Dividido em três capítulos - "Sarah", "Masha" e "Epílogo",  o longa deixa o espectador confuso do início ao fim. As atuações são exageradas, grotescas e sem graça, além de recheadas de jump scare. 

O filme não provoca reação ou faz o público se conectar com as tramas nem se identificar com os personagens. Até os efeitos visuais nas cenas das bruxas e toda questão mística são muito fracos, não passam nenhuma emoção.


Primeiro capítulo

Na primeira história conhecemos Sarah (Belle Adams), que está grávida e acredita piamente que está sendo perseguida por uma bruxa. Enquanto Simon (Ian Michaels), seu marido cético, faz piadas com isso, pedindo ajuda a um casal místico de amigos. 

Essa primeira parte mostra quantos clichês existem no roteiro. Além do desenvolvimento lento, a condução errada da história e as situações exageradas.


Segundo capítulo

Já no segundo capítulo conhecemos Rachel (Kristina Kleber), uma mulher estável que divide o apartamento com Masha (Rebekah Kennedy). 

De personalidade duvidosa, agressiva e sem sorte nos relacionamentos, diferente da primeira história, Masha espera que irá herdar os poderes de uma bruxa. 

A direção do filme até tenta passar mais personalidade e ritmo, mas mesmo assim, não sabe onde quer chegar com o espectador. 


A forma como o roteiro coloca Masha como a vilã e grande manipuladora é uma tentativa desesperada de fazer o filme andar rápido. Mas isso não passa de uma impressão.

O curioso é que as histórias tentam se vender como conectadas, mas só ganham força se forem observadas separadamente. 

Os únicos personagens que participam de dois episódios, fazendo um grande esforço para se conectarem, são Dustin (Tim Fox) e Melissa (Dina Silva).


Epílogo: a maldição

O problema mais grave é que, em nenhum momento, a maldição, ponto-chave da trama, é explicada. Não fica claro como ela aconteceu e como está sendo repassada. 

Tudo soa muito desconexo, as peças do quebra-cabeça não combinam. O público fica à espera de algo que faça sentido, mas isso não acontece.

E pior: o filme tem cenas pós-créditos que tentam puxar algum fôlego para uma possível continuação e uma explicação sobre a maldição. Mas nem esse "adicional" consegue ser positivo.


Talvez os únicos pontos válidos sejam a fotografia e a estética do filme, que tentam melhorar alguma coisa no resultado final . Mas é apenas isso.

Cadê o terror bom?

Antes de encerrar, gostaria de fazer uma colocação: o que será que está acontecendo com o terror em 2023? No ano passado, tivemos uma ótima safra de filmes do gênero. 

Como exemplos temos "X: A Marca da Morte", "Sorria", "Halloween Ends - O Acerto de Contas Final", "Noites Brutais", "Não! Não Olhe!" que, de fato, causaram reações e agradaram ao público. 


Sobre os deste ano, a maioria parece filme B e de baixo orçamento, que não se preocupa com as histórias. Não são objetivos e até agora, me causaram mais sono do que medo.

"Duas Bruxas: A Herança Diabólica" não cumpre o que promete. Só consegue ser mais um terror fraco e sem graça. É mais do mesmo no gênero, sem nenhuma inovação.


Ficha técnica:
Direção: Pierre Tsigaridis
Produção: The Rancon Company / Incubo Films
Distribuição: Synapse Distribution
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gênero: terror

27 fevereiro 2023

Documentário “Muribeca” mostra a destruição de uma comunidade

Filme distribuído pela Descoloniza Filmes chega às telas após rodar por festivais nacionais e internacionais (Foto: Alcione Ferreira)



Eduardo Jr.


“Muribeca é memória; porque não volta, não existe mais”. A definição na voz de uma das pessoas ouvidas no documentário de mesmo nome não é exagero. O bairro, localizado em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, vive um processo de apagamento e resistência.

Este é o ponto de partida da produção encabeçada por Alcione Ferreira e Camilo Soares, que chega às telonas no dia 2 de março. 

(Foto: Alcione Ferreira)

O espectador não precisa esperar imagens exuberantes. As cenas do grande conjunto habitacional deteriorado dialoga com a tristeza dos depoimentos. E a essa combinação se somam gravações antigas de uma comunidade festiva. 

Está posto o contraponto e o incômodo: como um bairro de periferia, em que as pessoas se reuniam nas ruas para curtir o carnaval e jogos de copa do mundo, se transforma em uma cidade fantasma?       

(Foto: Alcione Ferreira)

Momentos significativos

A produção de 1 hora e 18 minutos responde a essa questão, mas não sem antes colocar na tela momentos significativos. Como a cena de um céu com nuvens anunciando tempo ruim, enquanto, ao fundo, um berimbau chama para a luta. 

E também a saudade de pessoas pobres que foram forçadas a abandonar amigos, seus lares, toda uma vida construída ao longo de décadas.   

(Foto: Alcione Ferreira)

Entre os depoimentos, colhidos em 2018, estão os do quadrinista Flavão, que também atuou como produtor local no documentário, e de outros moradores. 

Com a demolição de um dos prédios, caem também as lágrimas e vem à tona o desespero de quem viu a vida ruir e de quem tenta, melancolicamente, resistir em um cenário de problemas estruturais, especulação imobiliária e insegurança jurídica. 

Camilo Soares e Alcione Ferreira (Foto: Rafael Cabral)

Contadores de histórias

Se aproximar de pessoas e contar histórias junto delas não é novidade para os diretores. A jornalista Alcione Ferreira foi fotojornalista e videorrepórter do Diário de Pernambuco, onde conquistou o prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Camilo Soares é um dos fundadores da produtora de cinema Senda, e participa do coletivo de fotógrafos CRIA. 

(Foto: Shilton Araújo)  

“Muribeca” foi realizado com poucos recursos, mas ainda assim conquistou espaço em diversos festivais, como o Toronto Lift-Off (Canadá), Fidba (Argentina), Cine Del Mar (Uruguai), Aubervilliers (França), GBiennale (Austrália), Metrópolis (Itália), Cine PE, Festival de Santos, Mostra de Ouro Preto e Cine Sesc. 

A distribuição é da Descoloniza Filmes, que nasceu com o propósito de equiparar a distribuição de filmes dirigidos por mulheres, e que já codistribuiu, com a Vitrine Filmes, a produção “Carta Para Além dos Muros”. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Alcione Ferreira e Camilo Soares
Produção: Senda Produções
Distribuição: Descoloniza Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h18
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário