01 abril 2023

“A Garota Radiante” retrata dilemas típicos da juventude durante a ocupação nazista

A trama acompanha a transformação de Irène e sua família na França, em meio a um tenebroso contexto histórico (Fotos: Pandora Filmes)


Carolina Cassese
Blog Carolina Cassese


Somando mais de três décadas de bons serviços prestados ao cinema à frente das câmeras, a atriz Sandrine Kiberlain decidiu migrar para o outro lado, se arriscando no ofício de roteirista e diretora. 

O resultado pode ser apreciado em "A Garota Radiante” ("Une jeune fille qui va bien"), em cartaz na sala 2 do Minas Tênis Clube Cinema, sessão das 18h10.

A trama se passa em 1942, quando a França vivenciava a ocupação nazista. A protagonista é Irène (Rebecca Marder), uma jovem que mora com a avó Marceline (Françoise Widhoff), o pai André (André Marcon) e o irmão Igor (Anthony Bajon), com quem divide o quarto. 


Eles vivem numa Paris onde medidas de discriminação contra os judeus vão ganhando força - em uma das cenas, eles têm que entregar telefones, assim como outros itens que facilitem o contato como os outros, e até bicicletas.

A medida que mais atinge a família, porém, é o carimbo da palavra "judeu" nos documentos de cada membro. Em dado momento do filme, vemos Irène com uma identificação amarela em seu próprio blazer. 


Em entrevistas, Sandrine comentou que, propositadamente, não quis mostrar, de modo muito explícito, sinais da ocupação nazista nas ruas e lugares pelos quais Irène transita. A ideia era de que o espectador fosse se inteirando da ameaça pelos olhos da própria personagem. 

É possível se manter alheio a um contexto tão violento? Essa é uma pergunta que permeia o longa, já que a protagonista parece evitar pensar nas ameaças que a rodeiam. 


Uma questão relevante para a obra é a da encenação: a personagem principal é atriz, dentro e fora dos palcos. Simula desmaios, ensaia cenas com os familiares, finge precisar de óculos apenas para reencontrar um oftalmologista que despertou seu interesse.

E o que os olhos de Irène mais refletem no início é o "joie de vivre" da juventude. O brilho da descoberta do primeiro amor e o êxtase de poder vivenciá-lo, ao ser correspondida. As brincadeiras que ainda a ligam à infância, mas que, pouco a pouco, vão perdendo espaço. 


A paixão pela carreira com a qual se identifica. O encanto pela avó, que, como ela mesma ressalta, fuma e tem um ar moderno. O futuro parece ser um horizonte repleto de possibilidades, e, para alcançá-lo, ela conta com o afeto dos colegas, a maioria, não judeus, e o amor de seu círculo.

A estrada está ali, se descortinando à sua frente, e tudo conspira a favor. Bem, não tudo. Pouco a pouco, Irène vai se dando conta da nuvem carregada que se aproxima, e da qual não há muito como fugir.


A iluminação do filme dialoga bem com a gravidade das situações retratadas: em uma das cenas, a paisagem se escurece assim que o pai da protagonista começa a falar sobre perseguições. 

Em determinado momento, a avó e uma companheira judia procuram o conceito de medo no dicionário: “Sentimento de angústia, vivenciado na presença ou pensamento de um perigo, real ou suposto. Por exemplo, uma ameaça”. 

Entretanto, não há definição formal que alcance a intensidade do pavor que acomete as duas. 


Com boas atuações e uma trilha sonora de primeira (que inclui Tom Waits e Charles Trenet), Sandrine entrega um filme comovente, que dá a sua contribuição para que esse período tão maculoso da humanidade não seja esquecido ou mesmo minimizado. 

Mesmo porque, não há mais tempo para inocência. Outros perigos pairam entre nós.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Sandrine Kiberlain
Produção: France 3 Cinéma
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: sala 2 do Minas Tênis Clube Cinema, sessão das 18h10
Duração: 1h38
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: drama / histórico

30 março 2023

"A Primeira Comunhão" - quando uma criança e uma boneca são o pior de seus pesadelos

Terror espanhol apresenta brinquedo amaldiçoado de uma menina desaparecida que persegue quatro jovens (Fotos: Wild Side)


Maristela Bretas


Usando efeitos especiais que causam sustos convincentes, mas esperados, “A Primeira Comunhão” ("La Niña de la Comunión") é um terror espanhol que pode agradar. Apesar de dar indicações do que virá no final, o filme é bem conduzido pelo diretor Victor Garcia. 

A produção apresenta uma entidade do mal incorporada em uma boneca, que não é tão assustadora como Annabelle, apresentada na franquia "Invocação do Mal" e protagonista de dois filmes - "Annabelle" (2014) e "Annabelle 2 - A Criação do Mal" (2017). 
 

A boneca de “A Primeira Comunhão” é bonitinha, do tipo que muita criança deve tem na prateleira do quarto. 

Mas o que o brinquedo, que um dia foi de uma menina, é capaz de fazer vai deixar muita gente de cabelo em pé. E pior, pode levar à morte aqueles que têm contato com ela.


O filme se passa no final dos anos 1980. A recém-chegada Sara (Carla Campra) tenta se entrosar com os outros adolescentes de uma pequena cidade na província de Tarragona, na Espanha. 

Sua única amiga, a extrovertida Rebe (Aina Quiñones), é uma das pessoas detestadas pelos moradores, o que não ajuda muito. 


Uma noite, elas vão para uma casa noturna e, na volta, a caminho de casa, de carona com dois conhecidos - Pedro (Marc Soler) e Chivo (Carlos Oviedo) -, encontram uma boneca antiga no meio de uma mata. 

Sara jura para o grupo que viu uma menina, vestida para primeira comunhão, segurando o brinquedo, mas eles não acreditam.


A partir daí, coisas estranhas começam a ocorrer com os quatro - manchas pelo corpo, luzes piscando em casa ou no trabalho, portas batendo e fechando, vozes do além e alucinações com um ser que tenta matá-los. 

A história da boneca e de sua dona, uma menina desaparecida anos atrás, é um mistério que ninguém da cidade gosta de comentar. Do tipo lenda urbana para afastar as crianças da floresta. Mas até mesmo o padre local tem medo da maldição que ela carrega. 


"A Primeira Comunhão" é um filme com cenas de terror e aparições, seguidas de ataques da entidade, muito parecidas com as da freira diabólica Valak, de "Invocação do Mal 2" (2016) e "A Freira" (2018). 

Especialmente  as que a mostram saindo da escuridão. Assusta, mas não tanto quanto os personagens da famosa franquia.


Ficha técnica:
Direção: Víctor Garcia (VI)
Produção: Ikiru Films, Atresmedia Cine, Rebelión Terrestre e La Terraza Films
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 18 anos
País: Espanha
Gênero: Terror