26 abril 2023

“Deixa que Digam” mostra que Jair Rodrigues era a alegria de um país

Documentário do diretor Rubens Rewald consegue colocar o sorriso do cantor no rosto de quem assiste
(Fotos: Elo Studios)



Eduardo Jr.


Prestes a ser lançado nos cinemas, mais precisamente nesta quinta-feira (27), o documentário “Jair Rodrigues: Deixa que Digam”, sobre o cantor, apresenta a trajetória daquele que talvez tenha sido o artista mais alegre do país. O filme pode ser conferido no Una Cine Belas Artes.

Embora o próprio biografado diga que alcançou o sucesso graças a uma canção que ganhou as paradas, parece que Jair estourou porque ele mesmo já era um estouro. Esta é a impressão que fica da obra do diretor Rubens Rewald, distribuída pela Elo Studios. 


O documentário vem enfileirando depoimentos, que são unânimes ao afirmar que Jair não tinha tristezas ou amarguras. Músicos, familiares e pesquisadores vão descrevendo a personalidade do artista agitado, cuja marca registrada era o sorriso largo. Assim como sua parceira em muitas apresentações, Elis Regina.


A estas falas são costurados registros em vídeo e fonográficos. As gravações soam um pouco óbvias na construção da obra, mas funcionam por exemplificar e validar as impressões dos entrevistados. 

A variedade de pessoas ouvidas e o farto arquivo de imagens eliminam qualquer vestígio de monotonia.


Mesmo que, em síntese, todos estejam falando da mesma pessoa, o público pode se divertir com as tentativas de explicar aquele fenômeno que não parava quieto, que tinha uma ginga natural e muita brasilidade. 

E também nos faz entender que cantar samba e depois migrar para o sertanejo é sinônimo de coerência. Afinal, Jair nasceu no campo, negro, de família humilde. Por que não cantar as raízes do Brasil? 

O filho, Jair Oliveira, interpretando o pai numa das cenas

No filme, além dos filhos Jair Oliveira (que interpreta o pai em algumas cenas) e Luciana Mello e da esposa Claudine Rodrigues, temos depoimentos de muitos famosos que conviveram com o artista. 

Armando Pittigliani, Bruno Baronetti, Carlinhos Creck, Cristiane Paoli Quito, Giba Favery, Hermeto Pascoal, Jairo Rodrigues, Marcelo Maita, Mister Sam, Moisés Da Rocha, Paulinho Daflin, Pedro Mello, Rappin’ Hood, Raul Gil, Roberta Miranda, Salloma Salomão, Solano Ribeiro, Théo De Barros, Wilson Simoninha, Zuza Homem de Mello estão entre os que deram depoimentos.


O filme “Deixa que Digam” expõe a versatilidade de Jair, aquele que talvez tenha feito o primeiro rap do Brasil e também foi apresentador de TV. 

Em um dos festivais da canção, o de 1966, Jair Rodrigues vestiu a seriedade que a canção “Disparada” pedia. E emocionou o público. No registro da época é possível ver pessoas na plateia enxugando as lágrimas. 

Luciana Mello, filha de Jair Rodrigues

O documentário se aproxima inclusive de uma questão atual: a cobrança por posicionamento político. A insistência para que um negro que conquistou sucesso e teve voz em plena ditadura se manifestasse também é abordada na obra. 

Didaticamente, e sem ser professoral. E ainda assim uma lição para muitos de nós, que nos definimos como frutos do país do futebol, um jogo em que o improviso encanta e decide. 


Talvez não tenhamos olhado atentamente para um músico de repertório focado em suas raízes, que improvisava e despertava sorrisos. Será que valorizamos esse artista como ele merecia? 

Se ele era símbolo de um país alegre e otimista, onde nos perdemos desse país? Onde nos perdemos de Jair Rodrigues?     


Ficha técnica:
Direção: Rubens Rewald
Roteiro: Rubens Rewald e Rodolfo C Moreno
Produção: Confeitaria de Cinema e FT Estratégias
Distribuição: Elo Studios
Exibição: Una Cine Belas Artes - sala 2, sessão das 18h40
Duração: 1h30
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

24 abril 2023

“Nintendo e Eu” é uma comédia dramática de amizade, amadurecimento e videogame

Produção filipina é uma viagem no tempo que serve de referência para gerações futuras (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Eduardo Jr.


Os entusiastas e saudosistas dos videogames dos anos 1990 provavelmente ficarão curiosos ao se deparar com o título do novo filme do diretor filipino Raya Martin, “Nintendo e Eu” que chega aos cinemas nesta quinta-feira (27), distribuído pela Pandora Filmes.

O console japonês que foi uma febre 30 anos atrás funciona como elemento condutor no longa e provoca resgates afetivos no público. Muito semelhante ao que está acontecendo com "Super Mário Bros - O Filme", que está arrastando pais e filhos aos cinemas. 


O longa filipino é apenas uma metáfora na história de amizade, amor e descobertas. O que de fato se acompanha na telona é a evolução de um grupo de amigos na década de 90, quando começam a deixar a infância pra trás. 

O título original, “Death of Nintendo”, deixa um pouco mais explícita a proposta do roteiro.


Embora seja uma produção das Filipinas, é fácil identificar a cultura norte-americana entranhada na vida desses jovens. Percebe-se o efeito da globalização também na semelhança de “Nintendo e Eu” com outras produções de Hollywood. 

Entre as que estão mais frescas na memória do público vale citar “Stranger Things”, que também apresenta um grupo de adolescentes não muito populares buscando se afirmar no mundo. 


A referência para o diretor vem de outra produção - “Conta Comigo” (1986), que apresenta quatro garotos em busca de aventura e amadurecimento. Assim como no longa dos anos 1980, o filme de Martin também traz na receita amizade, questões familiares e dilemas juvenis. 

A diferença está na composição do grupo. Na produção filipina, uma menina integra o quarteto, e é por meio dessa personagem que a trama ganha "toques" de romance, reflexões sobre desigualdade e questões de gênero. 


Em “Nintendo e Eu”, uma série de terremotos leva à erupção do vulcão Pinatubo, deixando o país sem energia elétrica. Sem o refúgio dos jogos na televisão de tubo, o protagonista Paolo (Noel Comia Jr.) precisa sair de casa. 

É junto dos melhores amigos (e longe da mãe superprotetora) que ele percebe alguns dos dilemas da adolescência e da vida. 

A partir daí, o videogame fica em segundo plano. Apenas as músicas que remetem aos jogos surgem para trazer uma aura de comédia a algumas cenas. 


Assim como em “Conta Comigo”, os personagens de “Nintendo e Eu” também são carentes de uma figura paterna, são filhos de mães solo. Precisam encontrar, sozinhos, respostas sobre sexualidade, coragem e autoconhecimento. 

A leveza do filme está garantida por ser fácil se identificar com as situações vividas pelos adolescentes. 

E também pelos rituais de quem consumiu os games e a cultura dos anos 90, como este que vos fala (atire a primeira pedra quem nunca soprou um cartucho de videogame para que ele funcionasse!). 


Raya Martin nos propõe uma viagem no tempo, tanto pela estética como pelas referências a personalidades e à cultura da época. E vai além, ao mostrar para a geração atual que situações vividas hoje são repetições de décadas atrás, e não mistérios sem solução. 

Em entrevista, o diretor explicou que o visual do filme é, ao mesmo tempo, uma homenagem e um resgate da estética dos anos de 1990, especialmente, dos filmes. "Existe um balanço entre a artificialidade daquela década, mas também a luz natural, muito usada pelo diretor de fotografia Ante Cheng".


“Nintendo e Eu” é uma obra que flerta com o drama e com a comédia, que deixa uma ponta solta no final, mas diverte e tem potencial de fazer o público de +35 lembrar com carinho do passado. 

E refletir que, na vida, o que parece ser "game over" pode ser apenas o "restart" para uma oportunidade de renovação.  


Ficha técnica:
Direção: Raya Martin
Produção: Black Sheep
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h39
Classificação: 12 anos
Países: Filipinas, EUA, Singapura
Gêneros: drama, comédia