27 abril 2023

"Renfield" acaba com o estoque de sangue de Hollywood

Nicolas Cage e Nicholas Hoult dividem as atenções como o conde Drácula e seu assistente comedor de insetos (Fotos: Universal Studios)


Maristela Bretas


Um banho de sangue e violência do início ao fim. E apesar de ser um filme de terror que cumpre o que propõe, "Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" é também uma boa comédia com muita ação que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. 

O diretor Chris McKay ("Lego Batman: O Filme" - 2017) entrega uma boa produção para os apreciadores do gênero e a carnificina é tanta que vai faltar tinta vermelha para os próximos filmes do gênero. 


Membros decepados, cabeças cortadas, paredes tingidas com os corpos das vítimas do vilão. Ninguém menos que o famoso Conde Drácula (interpretado pelo vencedor do Oscar, Nicolas Cage) que conta com a ajuda de seu assistente Renfield (Nicholas Hoult, de "X-Men: Apocalipse" - 2016). 


Cage arrasa no papel e conta com um trabalho de maquiagem perfeito, acompanhando a transformação do famoso vampiro, de um quase cidadão de roupas e comportamento estranhos para o monstro assassino.

Hoult também tem seus momentos de mudança, do jovem com aparência "quase inocente" para o serviçal sanguinário que escolhe as vítimas a serem servidas como um banquete para seu chefe. 


A história é contada a partir dessa relação de dependência tóxica e poder. Renfield é o narrador e desabafa sobre seus problemas durante uma sessão coletiva com pessoas que querem deixar seus parceiros ou chefes abusivos.

O longa mostra como Renfield se torna um assistente e, ao mesmo tempo, dependente de Drácula. Como um viciado, ele precisa se alimentar de insetos para adquirir poderes especiais e força descomunal. Mas a vida de assassino e delivery de corpos começa a desagradar o jovem. 


Durante uma de suas caçadas noturnas pelo banquete humano, Renfield conhece a incorruptível policial Rebecca Quincy (interpretada por Awkwafina, de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" - 2021). 

Ele a ajuda a combater uma família de traficantes chefiada por Teddy Lobo (Ben Schwartz) e a mãe dele, Eita (Shohreh Aghdashloo) que matou o pai de Rebecca e domina a cidade e a polícia. 

O jovem passa a questionar os desejos e a insanidade daquele que chama de mestre e descobre que existe uma vida "normal" entre os humanos. 


Renfield decide deixar de ser um vilão e Drácula não fica nada satisfeito. Para puni-lo, vai deixando um rastro de mortes de pessoas ligadas a seu agora ex-ajudante.

O diretor Chris McKay soube usar bem o sarcasmo e a comicidade para mostrar o que seria um relacionamento abusivo entre um chefe e seu subordinado (quem nunca passou por isso?).


Toda essa matança conta com efeitos visuais excelentes, um ponto forte do filme, além das ótimas interpretações de Cage, Hoult e Awkwafina. O ritmo ágil do filme não deixa o expectador se sentir confortável por muito tempo na cadeira do cinema.

"Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" é um filme para pessoas de estômago forte, mesmo tendo um lado cômico. Mas vale a pena conferir, especialmente por Nicolas Cage, que durante entrevista classificou o enredo como algo “corajoso, original e peculiar”.


Ficha técnica:
Direção: Chris McKay
Produção: Skybound Entertainment e Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, ação e comédia

26 abril 2023

“Deixa que Digam” mostra que Jair Rodrigues era a alegria de um país

Documentário do diretor Rubens Rewald consegue colocar o sorriso do cantor no rosto de quem assiste
(Fotos: Elo Studios)



Eduardo Jr.


Prestes a ser lançado nos cinemas, mais precisamente nesta quinta-feira (27), o documentário “Jair Rodrigues: Deixa que Digam”, sobre o cantor, apresenta a trajetória daquele que talvez tenha sido o artista mais alegre do país. O filme pode ser conferido no Una Cine Belas Artes.

Embora o próprio biografado diga que alcançou o sucesso graças a uma canção que ganhou as paradas, parece que Jair estourou porque ele mesmo já era um estouro. Esta é a impressão que fica da obra do diretor Rubens Rewald, distribuída pela Elo Studios. 


O documentário vem enfileirando depoimentos, que são unânimes ao afirmar que Jair não tinha tristezas ou amarguras. Músicos, familiares e pesquisadores vão descrevendo a personalidade do artista agitado, cuja marca registrada era o sorriso largo. Assim como sua parceira em muitas apresentações, Elis Regina.


A estas falas são costurados registros em vídeo e fonográficos. As gravações soam um pouco óbvias na construção da obra, mas funcionam por exemplificar e validar as impressões dos entrevistados. 

A variedade de pessoas ouvidas e o farto arquivo de imagens eliminam qualquer vestígio de monotonia.


Mesmo que, em síntese, todos estejam falando da mesma pessoa, o público pode se divertir com as tentativas de explicar aquele fenômeno que não parava quieto, que tinha uma ginga natural e muita brasilidade. 

E também nos faz entender que cantar samba e depois migrar para o sertanejo é sinônimo de coerência. Afinal, Jair nasceu no campo, negro, de família humilde. Por que não cantar as raízes do Brasil? 

O filho, Jair Oliveira, interpretando o pai numa das cenas

No filme, além dos filhos Jair Oliveira (que interpreta o pai em algumas cenas) e Luciana Mello e da esposa Claudine Rodrigues, temos depoimentos de muitos famosos que conviveram com o artista. 

Armando Pittigliani, Bruno Baronetti, Carlinhos Creck, Cristiane Paoli Quito, Giba Favery, Hermeto Pascoal, Jairo Rodrigues, Marcelo Maita, Mister Sam, Moisés Da Rocha, Paulinho Daflin, Pedro Mello, Rappin’ Hood, Raul Gil, Roberta Miranda, Salloma Salomão, Solano Ribeiro, Théo De Barros, Wilson Simoninha, Zuza Homem de Mello estão entre os que deram depoimentos.


O filme “Deixa que Digam” expõe a versatilidade de Jair, aquele que talvez tenha feito o primeiro rap do Brasil e também foi apresentador de TV. 

Em um dos festivais da canção, o de 1966, Jair Rodrigues vestiu a seriedade que a canção “Disparada” pedia. E emocionou o público. No registro da época é possível ver pessoas na plateia enxugando as lágrimas. 

Luciana Mello, filha de Jair Rodrigues

O documentário se aproxima inclusive de uma questão atual: a cobrança por posicionamento político. A insistência para que um negro que conquistou sucesso e teve voz em plena ditadura se manifestasse também é abordada na obra. 

Didaticamente, e sem ser professoral. E ainda assim uma lição para muitos de nós, que nos definimos como frutos do país do futebol, um jogo em que o improviso encanta e decide. 


Talvez não tenhamos olhado atentamente para um músico de repertório focado em suas raízes, que improvisava e despertava sorrisos. Será que valorizamos esse artista como ele merecia? 

Se ele era símbolo de um país alegre e otimista, onde nos perdemos desse país? Onde nos perdemos de Jair Rodrigues?     


Ficha técnica:
Direção: Rubens Rewald
Roteiro: Rubens Rewald e Rodolfo C Moreno
Produção: Confeitaria de Cinema e FT Estratégias
Distribuição: Elo Studios
Exibição: Una Cine Belas Artes - sala 2, sessão das 18h40
Duração: 1h30
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gênero: documentário