28 abril 2023

“O Chamado 4” falha do início ao fim com o legado de Samara

Filme japonês dirigido por Hisashi Kimura tem pouca ligação com a famosa franquia norte-americana iniciada em 1998 (Fotos: Paris Filmes)


Larissa Figueiredo 


A franquia “O Chamado”, iniciada em 1998, está entre os novos clássicos do terror e não é segredo para nenhum millennial, ou seja, os nascidos entre 1985 e 1995, o impacto dos filmes para o gênero e para esta geração.  

Mas “O Chamado 4 – Samara Ressurge”, que estreou nesta semana nos cinemas brasileiros, não faz parte da franquia norte-americana, apesar de utilizar da consagrada entidade para emplacar a narrativa. 

Com o título original “Sadako DX”, o longa japonês pertence, na verdade, ao subgênero comédia de horror. 


A primeira aparição de Samara foi há 20 anos. Originalmente, quem assistia a amaldiçoada fita cassete era visitado por ela e levado ao fundo do poço em sete dias. 

Porém, em “O Chamado 4 – Samara Ressurge”, as vítimas só têm 24 horas para tentar escapar da entidade. 

Apoiado no uso indiscriminado das redes sociais pelos jovens e no compartilhamento de informações em massa, o roteiro de Kôji Susuki e Yuga Takahashi foi pensado para atrair a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010). 


O filme apresenta a trama da cética Ayaka Ichijo (Fuka Koshiba), uma estudante de pós-graduação que não acredita na maldição até sua irmã mais nova assistir ao vídeo. 

Paralelamente, diversas mortes acontecem sem explicação e rumores de que cópias da fita estariam sendo vendidas começam a viralizar nas redes sociais. 


Por falar em viral, Ayaka tenta provar a todo custo que os eventos se tratam de um efeito placebo pela crença da população na maldição. 

Ainda que sua família esteja destinada à visita de Samara em poucas horas, a protagonista parece não descer do pedestal intelectual e continua racionalizando os acontecimentos sobrenaturais. 


Quando finalmente Ayaka está inserida no enredo do filme, o roteiro começa a dar voltas desnecessárias e cansativas. Diálogos longos e complexos demais sobram, enquanto faltam cenas de suspense e tensão.

Em todo (bom) filme de terror, o protagonista precisa enfrentar seus medos e encarar a entidade. É aí que está o grande erro de “O Chamado 4 – Samara Ressurge” não sente medo, não confronta a si mesma nem as próprias crenças. 


Uma “final girl” que derrota Samara com conceitos básicos de biologia e associações frágeis sobre o comportamento humano na internet não cativa o público e deixa de fazer sentido. 

Os demais personagens parecem deslocados, não são construídos adequadamente e permanecem na sombra da protagonista. 

No auge do filme, começa uma tentativa de romance entre Ayaka e Bunka e os sentimentos do rapaz causam mais medo na mocinha que a própria Samara. 


A crítica satírica à geração Z é pontual, mas fica deslocada no enredo e não é trabalhada depois. O roteiro justifica a “atualização” da maldição com a difusão da informação e as cópias das fitas. 

Tenta falar sobre internet e tecnologia, mas é incoerente e beira o desleixo, principalmente porque continua utilizando a aposentada fita cassete para invocar Samara. 

Conclusão: mudar a receita de um clássico é, quase sempre, fadar o filme ao fracasso. 


Ficha técnica:
Direção: Hisashi Kimura
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h40
Exibição: nos cinemas
Classificação: 14 anos
Gênero: Terror
Nota: 1 (0 a 5)

27 abril 2023

"Renfield" acaba com o estoque de sangue de Hollywood

Nicolas Cage e Nicholas Hoult dividem as atenções como o conde Drácula e seu assistente comedor de insetos (Fotos: Universal Studios)


Maristela Bretas


Um banho de sangue e violência do início ao fim. E apesar de ser um filme de terror que cumpre o que propõe, "Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" é também uma boa comédia com muita ação que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. 

O diretor Chris McKay ("Lego Batman: O Filme" - 2017) entrega uma boa produção para os apreciadores do gênero e a carnificina é tanta que vai faltar tinta vermelha para os próximos filmes do gênero. 


Membros decepados, cabeças cortadas, paredes tingidas com os corpos das vítimas do vilão. Ninguém menos que o famoso Conde Drácula (interpretado pelo vencedor do Oscar, Nicolas Cage) que conta com a ajuda de seu assistente Renfield (Nicholas Hoult, de "X-Men: Apocalipse" - 2016). 


Cage arrasa no papel e conta com um trabalho de maquiagem perfeito, acompanhando a transformação do famoso vampiro, de um quase cidadão de roupas e comportamento estranhos para o monstro assassino.

Hoult também tem seus momentos de mudança, do jovem com aparência "quase inocente" para o serviçal sanguinário que escolhe as vítimas a serem servidas como um banquete para seu chefe. 


A história é contada a partir dessa relação de dependência tóxica e poder. Renfield é o narrador e desabafa sobre seus problemas durante uma sessão coletiva com pessoas que querem deixar seus parceiros ou chefes abusivos.

O longa mostra como Renfield se torna um assistente e, ao mesmo tempo, dependente de Drácula. Como um viciado, ele precisa se alimentar de insetos para adquirir poderes especiais e força descomunal. Mas a vida de assassino e delivery de corpos começa a desagradar o jovem. 


Durante uma de suas caçadas noturnas pelo banquete humano, Renfield conhece a incorruptível policial Rebecca Quincy (interpretada por Awkwafina, de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" - 2021). 

Ele a ajuda a combater uma família de traficantes chefiada por Teddy Lobo (Ben Schwartz) e a mãe dele, Eita (Shohreh Aghdashloo) que matou o pai de Rebecca e domina a cidade e a polícia. 

O jovem passa a questionar os desejos e a insanidade daquele que chama de mestre e descobre que existe uma vida "normal" entre os humanos. 


Renfield decide deixar de ser um vilão e Drácula não fica nada satisfeito. Para puni-lo, vai deixando um rastro de mortes de pessoas ligadas a seu agora ex-ajudante.

O diretor Chris McKay soube usar bem o sarcasmo e a comicidade para mostrar o que seria um relacionamento abusivo entre um chefe e seu subordinado (quem nunca passou por isso?).


Toda essa matança conta com efeitos visuais excelentes, um ponto forte do filme, além das ótimas interpretações de Cage, Hoult e Awkwafina. O ritmo ágil do filme não deixa o expectador se sentir confortável por muito tempo na cadeira do cinema.

"Renfield - Dando Sangue Pelo Chefe" é um filme para pessoas de estômago forte, mesmo tendo um lado cômico. Mas vale a pena conferir, especialmente por Nicolas Cage, que durante entrevista classificou o enredo como algo “corajoso, original e peculiar”.


Ficha técnica:
Direção: Chris McKay
Produção: Skybound Entertainment e Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, ação e comédia