04 junho 2023

"Boogeyman - Seu Medo é Real" é bom, mas demora a entregar o terror esperado

Baseado na obra de Stephen King, produção foca especialmente nas irmãs ameaçadas pelo bicho-papão 
(Fotos: 20th Century Studios)


Maristela Bretas


Baseado no conto "The Boogeyman", de Stephen King, está em cartaz nos cinemas o suspense/terror "Boogeyman - Seu Medo é Real", produção dirigida por Rob Savage que fica um pouco a desejar por ser originado da obra de um dos maiores escritores do gênero.

O filme se arrasta muito até começar a deixar público tenso. Passa muito tempo tentando explicar o drama da família Harper que vive o luto da perda da mãe. O pai, Will, interpretado por Chris Messina, não convence muito como psiquiatra. 


Já as filhas, a adolescente Sadie (Sophie Thatcher) e a pequena Sawyer (Vivien Lyra Blair), dão conta do recado, especialmente a mais nova. No restante do elenco, destaque para David Dastmalchian, que faz o misterioso Lester. 

É claro que o filme tem terror e quando acontece, cumpre sua proposta. Mas o roteiro é muito clichê nas aparições da figura monstruosa. Elas começam lentamente, como se ele estivesse absorvendo o medo e a fragilidade da família em luto. Para, no final, se mostrar quase que por completo. 


O longa explora mais o suspense, deixando nas mãos das duas irmãs o trabalho pesado de garantir as boas cenas. Uma dessas cenas, protagonizada por Sawyer, chega a lembrar a versão de "Poltergeist – O Fenômeno" (1982), produzida e roteirizada por Steven Spielberg. 

Bem feita também a caracterização da casa onde o tal "bicho-papão" habita, com iluminação à luz de velas e paredes cobertas por teias. O monstro tem semelhança com o da série "Stranger Things", sucesso da Netflix. 


A abordagem do luto gerando interpretações diferentes em cada personagem ficou interessante. Em "Boogeyman - Seu Medo é Real", Sadie está tentando lidar com a perda da mãe, ao mesmo tempo tendo que enfrentar uma presença maligna e bem assustadora que atormenta ela e Sawyer. 


Elas tentam convencer o pai de que um monstro saindo do armário com poderes sobrenaturais está tentando matá-las, mas ele não acredita nas filhas. Tudo começou após Wil receber a visita do estranho Lester, que teria matado os filhos e estaria possuído por esta entidade.


O filme se torna melhor da metade para o final, apesar de ser previsível. Conseguiu mesclar drama, suspense e terror, gêneros que o roteirista Scott Beck sabe conduzir bem, como mostrou no excelente "Um Lugar Silencioso" trabalho dividido com Bryan Woods em 2018.


Ficha técnica:
Direção:
Rob Savage
Produção: 20th Century Studios, 21 Laps Entertainment / Hulu / Madhouse Entertainment
Distribuição: 20th Century Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h39
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense

30 maio 2023

“O Último Ônibus” é um road movie cativante que aborda velhice, nostalgia, amor e empatia

Levando apenas uma maleta, Timothy Spall embarca em uma jornada inesperada até o fim do mundo
(Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Nos primeiros minutos do filme, uma mulher convoca o marido para irem embora pra longe. Eles vão. E este é o ponto de partida para a história da longa viagem de volta deste homem, décadas depois. Em "O Último Ônibus", o protagonista é Tom Harper, vivido por Timothy Spall (“Harry Potter e as Relíquias da Morte” - 2010). 


No longa do diretor escocês Gillies MacKinnon, que estreia nesta quinta-feira (1º de junho) nos cinemas brasileiros, distribuído pela Pandora Filmes, Spall (66 anos), volta às telonas com uma maquiagem que o transforma em um aposentado de 90 anos. 

Tom é um viúvo que atravessa o país de ônibus para cumprir uma promessa feita à esposa Mary (Phyllis Logan) antes de ela morrer. A história se inicia como um romance, com as cenas do cotidiano ilustrando a rotina que o casal construiu e manteve ao longo de décadas. 


Essa sutileza também está na forma de mostrar que Tom ficou viúvo e fará uma viagem de 1.400 quilômetros sozinho - mesmo que o personagem diga “nosso destino”, no plural. 

Com apenas duas coisas - um passe-livre de ônibus e um objetivo - Tom se apega ao mapa e às coordenadas do trajeto. E aí o filme começa a flertar com o gênero drama. 


A princípio pode parecer um filme “sessão da tarde”, mas é uma obra tocante. Na cena em que Tom está deixando sua casa no nordeste da Escócia pra chegar ao extremo sul da Inglaterra, é bonita e delicada a metáfora que o diretor propõe. 

Crianças chegando para aprender na escola, enquanto um velho está indo embora. Uma representação sensível do fluxo da vida. 


A viagem para atravessar o país é também um passeio entre memórias. As camadas do protagonista vão sendo reveladas nos flashbacks, que instigam o telespectador e vão ajudando a desvendar o motivo dessa viagem e o que espera Tom em seu destino, a cidade de Land’s End (Fim das Terras). 

Nas diversas paradas e nos ônibus em que embarca, Tom vai atravessando as vidas de outras pessoas e também sendo impactado por elas. Embora carregue um semblante amargurado, ele consegue sorrir e despertar empatia. 


O nonagenário acaba se tornando uma celebridade ao ser filmado por câmeras de celulares em algumas situações em que se envolve - cenas que chegam a cansar um pouco, de tão repetitivas. 

No trajeto, Tom compartilha aquilo que tem: sabedoria. Nessas interações, vai se intensificando no telespectador (em mim, pelo menos) a ideia de que pessoas vêm e vão, mas as marcas que deixamos em cada uma delas podem ser transformadoras. 

Com isso, “O Último Ônibus” se apresenta como um filme rico em reflexões. Se não é perfeito, consegue durante seus quase 90 minutos ser divertido e cativante.


Uma curiosidade: O longa foi filmado em Glasgow (Escócia) e seus arredores e boa parte da trama se passa no Glasgow Vintage Vehicle Trust, um museu dedicado a meios de transportes escoceses. 

O exterior foi usado para a construção de diversos pontos de ônibus, enquanto o interior serviu de estúdio para a arquitetura de cenários.


Ficha técnica:
Direção: Gillies MacKinnon
Roteiro: Joe Ainsworth
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h26
Classificação: 12 anos
Países: Reino Unido e Emirados Árabes Unidos
Gênero: drama