20 junho 2023

Cine OP - Mostra de Cinema de Ouro Preto completa a maioridade com programação intensa e gratuita

Evento terá exibições no Centro de Artes e Convenções e na Praça Tiradentes, como aconteceu na edição passada (Fotos: Universo Produção)


Da Redação


De 21 a 26 de junho, Ouro Preto será palco da 18ª edição da CineOP – Mostra de Cinema, evento já consolidado no calendário e circuito de mostras e festivais do Brasil como o único a enfocar o cinema como patrimônio, preservação, história e educação. Com programação intensa, presencial e online, totalmente gratuita, as exibições irão ocorrer no Centro de Artes e Convenções e na Praça Tiradentes. 

Durante seis dias de evento, o público terá oportunidade de vivenciar um conteúdo inédito, descobrir novas tendências, assistir aos filmes, curtir atrações artísticas, trocar experiências com importantes nomes da cena cultural, do audiovisual, da preservação e da educação, participar do programa de formação e debates temáticos. 

"Rainha Diaba"

Haverá sessões de cinema, homenagem ao ator Tony Tornado, oficinas, workshops, masterclasses, Mostrinha de Cinema, Mostra Valores, lançamento de livros, exposição e atrações artísticas. Uma seleção de curtas, médias e longas-metragens, conectados com os três eixos curatoriais. 

Serão exibidos 125 filmes em pré-estreias e mostras temáticas (30 longas, nove médias-metragens e 86 curtas-metragens), vindos de cinco países: Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, EUA - e de 14 estados brasileiros (AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, PB, PR, RJ, RN, RS, SC, SP) e distribuídos em nove mostras - Contemporânea, Homenagem, Preservação, Histórica, Educação, Valores, Mostrinha e Cine-Escola. 


A grade ainda será acompanhada de debates, diálogos, rodas de conversa e atividades relacionadas com a experiência dos filmes. Além das sessões presenciais, o público poderá assistir a filmes na plataforma do evento (cineop.com.br), na plataforma do Itaú Cultural Play, na TV UFOP e no Canal Educação, ampliando as janelas de exibição para quem não puder estar em Ouro Preto.

O Sesc Minas e o Senac também parceiros culturais e educacionais do evento, organizaram uma programação artística e educativa de alta qualidade e totalmente gratuita, que contará com a participação de renomados artistas, com abrangência local, regional e nacional.

Um dos grandes destaques é a participação especial do renomado ator e cantor brasileiro, Tony Tornado, que estará presente na cerimônia de abertura, participará de debates e ainda realizará um show memorável ao lado do filho, no dia 23 de junho.

"Quilombo"

Mostra Histórica

Sob o recorte “Imagens da MPB (Música Preta no Brasil)”, temática Histórica enfatiza a presença da criação musical de artistas pretas e pretos nas trilhas sonoras e nos elencos dos mais variados filmes. A curadoria de Cleber Eduardo e Tatiana Carvalho Costa buscou colocar as sonoridades pretas em evidência dentro de contextos históricos e culturais nos séculos XX e XXI como formas de invenção de universos populares. 


A ascensão do soul, a chegada do funk e vários outros momentos importantes dessa trajetória estarão representados numa série de filmes. Entre eles, o de abertura da CineOP, dá o ritmo: “Baile Soul”, de Cavi Borges, documenta um período entre anos 1960 e 1970 quando as equipes de som realizavam bailes blacks em centenas de clubes espalhados pelo subúrbio do Rio de Janeiro, dando origem ao movimento “Black Rio”. 

O fenômeno colaborou para a consolidação do movimento negro em todo o país. Tony Tornado, ator e cantor, homenageado este ano pela Mostra, teve participação fundamental nesse processo e aparece no longa-metragem. Confira a programação completa: https://cineop.com.br/index.php/filmes/mostra-historica/


Mostra Contemporânea

Os filmes da Mostra Contemporânea são assinados pelos curadores Cleber Eduardo (longas e médias), Camila Vieira (longas e médias) e Tatiana Carvalho Costa (curtas). Ainda que não seja essencial, a presença de trabalhos com pensamentos em torno de arquivos ou de reflexões sobre o passado aparecem bem evidentes na Mostra, devido a seu caráter de valorizar a preservação e o debate sobre o presente a partir do olhar para a história. Além disso, a temática também afetou a escolha de alguns títulos, em especial a relação com a música.

"Diálogos com Ruth de Souza"

Também uma programação exclusiva de cinco curtas-metragens foi selecionada para ser exibida na TV UFOP, numa parceira da Mostra com a universidade. Confira a programação completa: 

Mostra Preservação

Os filmes da Mostra Preservação expandem as atividades dos Encontros de Arquivo, que este ano vão debater o Plano Nacional de Preservação. Também serão discutidas questões surgidas a partir da temática “Patrimônio Audiovisual Brasileiro em Rede”, proposta pela curadoria de Fernanda Coelho e Vitor Graize. 

"Gurufim"

Mostra Educação

Na temática “Cinema e educação digital: Deslocamentos”, as curadoras Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga põem em destaque os desafios das redes e da tecnologia no processo de ensino e aprendizado. 

Os filmes, muitos deles produzidos em ambiente de sala de aula ou de ensino, devem ilustrar em detalhes muito do que estará nos debates. Um dos recortes adotados são os processos, educacionais ou de criação com o cinema, que se relacionam a uma aproximação com a terra. 


Projetos de educação audiovisual, de mídia e de comunicação que colocam as formas de produção em relação com outros seres vivos e com a política estarão no centro de algumas conversas e sessões. Confira a programação completa: https://cineop.com.br/index.php/filmes/mostra-educacao/

Mostra Valores

Este é o espaço da programação da 18ª CineOP planejado para valorizar e destacar filmes, projetos, ações e personalidades de Ouro Preto que fazem a diferença na cena da cidade, em Minas Gerais e no Brasil. 

Foi escolhido para integrar o recorte de programação desta edição o filme mineiro “As Linhas da Minha Mão”, de João Dumans, título vencedor de melhor longa-metragem da Mostra Aurora na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes realizada em janeiro de 2023. Um documentário sensível, que aposta no corpo, na voz e no carisma de sua personagem para falar de afetos, vivências, saúde e relações urbanas.


Cine-Escola e Mostrinha

Espaço de confraternização e aprendizado entre estudantes a partir do cinema, o Cine-Escola segue no objetivo de formação de novos públicos e olhares para a produção. 

As sessões, agendadas diretamente pelas escolas da região de Ouro Preto, contêm curtas adequados para cada uma das faixas etárias montadas na seleção: entre 5 e 7 anos; de 8 a 10 anos; e entre 11 e 13 anos. 


A sessão Mostrinha tem objetivo similar, incluindo pais e familiares que estejam em Ouro Preto para poderem acompanhar a programação com os pequenos. Esse ano será a animação “A Ilha dos Ilus”, de Paulo G. C. Miranda, uma produção de Goiás.

Serviço:
18ª CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto
Data: 21 a 26 de junho
Locais: Centro de Artes e Convenções e na Praça Tiradentes
Formatos: presencial e online
Entrada: gratuita
Informações: www.cineop.com.br


Confira a programação do Sesc em Minas:
22/6 - 19h30 -  Abertura oficial na Praça Tiradentes.
24/6 - concentração às 10h30 - Cortejo das Artes na Praça Tiradentes, com apresentações dos grupos: Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, Maracatrupe, Bloco Queimando o Filme e Marcelino Xibil e pernaltas.
25/6 - 18h - Festa Junina - Arraiá da CineOP no Centro de Convenções da UFOP, com a presença das animadas quadrilhas Pé de Moleque e Xorey Largadu.


De 22 a 26/6
Das 22h às 2h - Sesc Cine Lounge no Centro de Convenções da UFOP. Programação:
22/6 - DJ Pátrida e Banda Diplomattas convida Maurício Tizumba
23/6 - DJ Pátrida e Tony Tornado
24/6 - DJ Pátrida, DJAHI e Rincon Sapiência
25/6 - DJAHI e Leci Brandão
26/6 - DJAHI e Samba Preto Choro Jazz

16 junho 2023

Curioso e diferente, "A História de Minha Mulher" vale pelo estranhamento e sensualidade

Romance com Léa Seydoux e Gijs Naber concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes
(Fotos: Pandora Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


Estranho. Muito estranho. Talvez seja essa a melhor definição para "A História de Minha Mulher", produção francesa baseada no livro homônimo do escritor húngaro Milán Füst que está em cartaz no UNA Cine Belas Artes. A começar pela direção, da pouco conhecida cineasta húngara – pelo menos no Brasil - Ildikó Enyedi, que também cuidou do roteiro. 

O filme é repleto de situações improváveis e, às vezes, inverossímeis. E causa tanto estranhamento que pode estar aí, na curiosidade que acaba provocando no espectador, seu mérito maior.


Jacob Störr (Gijs Naber) é um capitão do mar de nacionalidade até certo ponto indefinida que, até onde se sabe, é competente e corajoso, mas tem problemas estomacais, embora o chef de cozinha da embarcação lhe sirva as mais apetitosas e caprichadas refeições. “Para os males do estômago, o melhor é o casamento”, orienta o cozinheiro. A partir daí, começa a estranha trama.

Como o espectador não sabe nada sobre a história de vida de Jacob Störr, o estranhamento continua quando ele decide pedir em casamento a primeira mulher que lhe aparece pela frente: a francesa Lizzy, interpretada por Léa Seydoux (“007 - Contra Spectre" - 2015; “007 - Sem Tempo para Morrer” – 2021 e “A Bela e a Fera” – 2014 ), que esbanja sensualidade, mas de quem também não se sabe nada.


A sedução, aliás, está o tempo todo no filme, cheio de jogos, olhares, sorrisos, poses. Gijs Naber, o ator holandês que interpreta o capitão, é belo, viril, charmoso e enigmático. O casal, enfim, é mesmo irresistível, embora as cenas de sexo sejam às vezes lentas e excessivamente coreografadas. Chama a atenção uma dança do casal em uma festa, verdadeiro show de sensualidade e beleza.

Para completar o estranhamento, o longa é dividido em capítulos. São sete, cada um com um nome específico. Outro detalhe: em nenhum momento o espectador é informado sobre a época em que se passa a trama. Presume-se, pelo figurino impecável e lindo, os carros e o excesso de cigarros, que tudo se passa nos anos de 1920. 


Além de Gijs Naber e Léa Seydoux, estão no filme, em papeis que apenas servem de escada para o casal, Luna Weder como Grete, e Louis Garret como Dedin, entre outros.

Como nada é óbvio e há sempre interrogações sobre a fidelidade de Lizzy quando o marido está no mar, "A História de Minha Mulher" vale pela dúvida, pelas belas imagens (foi filmado em Budapeste) e por uma ou outra reflexão sobre a vida, a obsessão, o mar, o casamento. O filme, enfim, vale por ser curiosamente estranho.


Ficha técnica
Direção e roteiro:
Ildikó Enyedi
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 2h49
Classificação: 14 anos
Países: Alemanha, França, Hungria e Itália
Gênero: drama romântico