04 julho 2023

"Canção ao Longe" aborda dores e chegada à vida adulta de uma jovem negra

O sentimento de inadequação é o foco do filme de Clarissa Campolina (Fotos: Letícia Marotta)


Eduardo Jr. 


Nas primeiras cenas, uma jovem caminha sem segurança dentro de casa. Só quando essa casa começa a ruir é que a luz ganha o ambiente. Uma metáfora interessante sobre a busca da protagonista Jimena, no filme “Canção ao Longe”, dirigido por Clarissa Campolina.

O longa, produzido pela Anavilhana e distribuído pela Vitrine Filmes, chega aos cinemas na próxima quinta-feira (6). 


Jimena é uma jovem arquiteta, negra, que não se encontrou na vida e no mundo. Em casa, pouco interage com a mãe e a avó. E o ato de fumar um cigarro é mais um elemento a agravar a tensão familiar. 

Enquanto o silêncio se faz presente na vida da jovem, a figura paterna é sinônimo de ausência. A relação com o pai se mantém apenas por meio de troca de cartas. E numa dessas cartas ela o questiona por que ainda mora ali, junto da mãe. 


Angústia, falta de comunicação e ruídos compõem a atmosfera do dia a dia de Jimena. O contraponto é a música. É ouvindo o repertório clássico, acompanhando os ensaios de uma orquestra, que ela parece encontrar algum alívio - e afeto, ao conhecer um dos músicos. 

O desejo de se mudar vai ficando mais evidente quando a protagonista admira a vista do apartamento de uma amiga e também quando experimenta um programa “em família” com o músico e o filho dele. 


O público observa tudo de perto, já que a câmera vai seguindo a atriz Mônica Maria (que faz com que seus silêncios, expressões de tristeza e apatia impactem a experiência do espectador). 

Escolhas de fotografia, com cenas de pouca luminosidade e planos fechados - quase claustrofóbicos - se amarram à interpretação de Mônica. 

Durante uma hora e dez, em sua estreia como diretora solo, a realizadora Clarissa Campolina emoldura na telona questões a respeito do passado, tradições, raça e relações familiares. 


E é a relação com a mãe que inicia o desejado processo de transformação da protagonista. Quando o silêncio sobre o passado é quebrado, Jimena começa romper as barreiras que a aprisionavam. 

Enquanto aguarda por esse desfecho, o público acompanha a trama sendo apresentado a alguns recortes da paisagem, por vezes caótica, da capital mineira, e ao talento da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. 

É um filme sobre busca de identidade e relacionamentos, que não traz arroubos de emoção, já que a vida também pode ser uma busca por serenidade. 

(Foto: Pedro Rena)

A obra é um drama de ficção, que atravessou o circuito de festivais, e agora terá sua estreia na telona. A diretora Clarissa Campolina foi premiada com seu longa de estreia, "Girimunho", em 2011, em Veneza, Mar Del Plata, Nantes e Havana. Ela é sócia da Anavilhana, produtora fundada em 2005, com mais de 30 obras audiovisuais lançadas.  

Distribuído por meio do projeto Sessão Vitrine, “Canção ao Longe” se junta ao rol das mais de 200 obras oferecidas pela Vitrine Filmes. Entre elas estão “Bacurau”, de Kleber Mendonça; “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, e “Druk: Mais Uma Rodada”, de Thomas Vinterberg, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2021.  


Ficha técnica:
Direção: Clarissa Campolina
Produção: Produtora Anavilhana
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h10
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, ficção

03 julho 2023

"Elementos" da natureza se misturam para divertir e emocionar

Faísca e Gota formam o casal da nova animação da Pixar que fala sobre família, relacionamentos e diferenças
(Fotos: Walt Disney Company)


Maristela Bretas


Estou falando da nova animação da Pixar Animation Studios, "Elementos", em cartaz nos cinemas e encantando o público desde a sua estreia. A produção tem história, mensagens fortes e bem atuais, personagens simpáticos, situações engraçadas, e acima de tudo, emociona a ponto de fazer chorar. 

Assim como em outras obras da produtora, como "Divertida Mente" (2015), "Luca" (2021), "Red: Crescer é uma Fera" (2022), além dos curtas "Piper" (2016) e "Bao" (2018), que falam de relacionamentos, família e amadurecimento, "Elementos" foca também nos costumes de outros povos e no preconceito com o imigrante, no caso, o asiático.


Na animação, Bernie Lumen/Brasa (o ator filipino Ronnie del Carmen) e a esposa Cinder/Fagulha (Shila Ommi) deixam sua terra para tentar a sorte em outro lugar, onde pretendem dar uma vida melhor à filha Ember/Faísca (a atriz chino-americana Leah Lewis) que está para nascer. 

Eles chegam à Cidade Elemento, onde vivem diferentes tipos de seres formados por água, terra, ar e fogo. estes últimos, no entanto, não são bem aceitos pelos demais elementos e acabam formando sua própria comunidade, fora da cidade.


Faísca cresce aprendendo com o pai como cuidar da Loja do Fogo, que um dia ele promete que será dela. Pelas características e cultura apresentadas fica claro que a família Lumen é de descendência asiática. 

A jovem nunca sai do bairro e segue à risca a regra principal dos pais: "elementos não podem se misturar". Um bom exemplo do que acontece com muitas comunidades de imigrantes pelo mundo, que não são aceitas por sua cor, raça ou origem diferentes do local. 


Impetuosa e de estopim curto, Faísca tem de conviver com esse preconceito e desconfiança e ainda precisa descobrir o que quer para seu futuro, mesmo que ele tenha sido traçado pelo pai. 

Até que um acidente a coloca frente a frente com Wade/Gota (Mamoudou Athie), que pelo nome já dá para saber que é do elemento água. Ele é um jovem de bem com a vida, muito emotivo que chora a toa e tem uma simpatia contagiante.

Gota vai ajudar Faísca a salvar o negócio do pai e fazê-la repensar seus conceitos, especialmente sobre o amor.


"Elementos" tem várias abordagens numa só história, todas interligadas, que se tornam mais fortes com as cores vibrantes usadas na animação e dos personagens fofos e divertidos, até mesmo quanto têm ataques de fúria, como Faísca (típico da adolescência). Características fortes das produções da Pixar.


Tudo isso é capaz de levar o público a aplaudir de pé ao final do filme e até mesmo chorar de emoção, tanto pelo relacionamento da jovem com Gota quanto com o pai e a mãe. Presenciei isso na sessão que fui em BH, lotada por famílias com crianças.

Somado ao visual temos uma ótima trilha sonora, composta por Thomas Newman ("Procurando Nemo" - 2003 e "Wall-E" - 2008), que conta com 37 músicas, entre elas, "Steal The Show", cantada por Lauv, que toca quando Gota e Faísca estão juntos. Confira abaixo.


Recomendo a versão dublada que está ótima, com vozes de Luiza Porto (Faísca), do mineiro Dláigelles Silva (Gota), Giovanna Antonelli (Sra. Ripple, mãe do Gota), André Mattos (Brasa), Cacau Protásio (Flarietta), Marisa Orth (Fagulha) e muitos outros. A direção de dublagem é de Diego Lima.

"Elementos" é uma animação para todas as idades e merece ser visto em família, com um lencinho na mão. Assim como Gota e sua mãe que choram rios de lágrimas, você também vai deixar escorrer esse elemento por seu rosto sem vergonha de se emocionar.


Ficha técnica:
Direção: Peter Sohn
Produção: Pixar Animation Studios e Walt Disney Company
Distribuição: Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, comédia, família, aventura