05 julho 2023

Comédia leve e despretensiosa, "Um Dia Cinco Estrelas" tem elenco de peso que garante diversão

Estevam Nabote marca sua estreia na telona como protagonista (Fotos: Reprodução)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica 


A semana se encerra em clima leve de sessão da tarde com a estreia, nesta quinta-feira (6) nos cinemas, da divertida comédia "Um Dia Cinco Estrelas". Dirigida por Hsu Chien Hsin (“Desapega!” - 2023 e “Quem Vai Ficar com Mário“ - 2021), a produção marca a estreia  de Estevam Nabote como protagonista de um filme. 

Ele vem acompanhado de um elenco de famosos, como Nany People, Danielle Winits, Aline Campos, Marcos Breda, Clemente Viscaino e Felipe Kannenberg.


Na história conhecemos Pedro Paulo (Estevam Nabote), que após se ver endividado e cheio de problemas domésticos, decide colocar seu amado Opala dos anos 70 para rodar pelas ruas, se tornando motorista de aplicativo.

Ele faz de tudo para ajudar sua família a sair do sufoco e, principalmente, honrar a mãe Dona Nilda (Nany People), dando a ela uma viagem para Buenos Aires. Já a esposa Manuela (Aline Campos) disputa o cargo de gerente em uma loja com Oswaldo (Marcos Breda), um rival ambicioso e sem escrúpulos.


A graça do filme está justamente em ser simples, com uma história leve e de fácil identificação. Pedro Paulo entrega uma boa interpretação de um cara que vive apertado, mas que precisa amadurecer e mudar de postura para que as coisas melhorem. 

Sua relação com o carro do pai, o Opala que ele carinhosamente chama de "Mozão", é bem engraçada e simpática. Estevam Nabote faz um personagem carismático, engraçado até nas piadas e sons que remetem ao veículo. 


Quando o protagonista decide se tornar motorista de aplicativo, vemos os apuros que ele enfrenta no dia a dia do trânsito e com passageiros. 

Na outra parte da família temos personagens femininas incríveis, como Dona Nilda. O mais legal é como ela mostra seu empoderamento ao juntar as economias para ir à Argentina assistir a um espetáculo de tango. 

Esse poder se saber o que quer e como vai realizar é algo que fica muito claro durante todo o longa. Ela ainda consegue ser uma ótima sogra, mãe e avó, com equilíbrio e sabedoria. 


Aline Campos dá um show de atuação com uma mulher simples e batalhadora, que se esforça para se destacar no trabalho. Ainda que entre em algumas confusões para concorrer ao cargo de gerente.

Temos algumas participações especiais como Ed Gama e Carol Bresolin, que tiveram pouco tempo de tela, mas que ajudam a definir o rumo do nosso protagonista.


Talvez o ponto que deixe a desejar é a personagem de Danielle Winits, uma ótima atriz que foi desperdiçada como a detetive Betina. 

Caricata ao extremo, parece que fica fora do tom proposto pelo filme, especialmente se comparada com outros personagens. Talvez se fosse um pouco menos forçada, o resultado poderia ser melhor.

"Um Dia Cinco Estrelas" cumpre o papel como uma comédia para e sobre família. Um típico filme de sessão da tarde, que não aprofunda em nenhuma temática, mas encerra como uma boa e divertida produção.


Ficha técnica:
Direção: Hsu Chien Hsin
Produção: Paris Filmes, Accorde Filmes
Distribuição: Paris Entretenimento
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h30
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: Comédia

04 julho 2023

"Canção ao Longe" aborda dores e chegada à vida adulta de uma jovem negra

O sentimento de inadequação é o foco do filme de Clarissa Campolina (Fotos: Letícia Marotta)


Eduardo Jr. 


Nas primeiras cenas, uma jovem caminha sem segurança dentro de casa. Só quando essa casa começa a ruir é que a luz ganha o ambiente. Uma metáfora interessante sobre a busca da protagonista Jimena, no filme “Canção ao Longe”, dirigido por Clarissa Campolina.

O longa, produzido pela Anavilhana e distribuído pela Vitrine Filmes, chega aos cinemas na próxima quinta-feira (6). 


Jimena é uma jovem arquiteta, negra, que não se encontrou na vida e no mundo. Em casa, pouco interage com a mãe e a avó. E o ato de fumar um cigarro é mais um elemento a agravar a tensão familiar. 

Enquanto o silêncio se faz presente na vida da jovem, a figura paterna é sinônimo de ausência. A relação com o pai se mantém apenas por meio de troca de cartas. E numa dessas cartas ela o questiona por que ainda mora ali, junto da mãe. 


Angústia, falta de comunicação e ruídos compõem a atmosfera do dia a dia de Jimena. O contraponto é a música. É ouvindo o repertório clássico, acompanhando os ensaios de uma orquestra, que ela parece encontrar algum alívio - e afeto, ao conhecer um dos músicos. 

O desejo de se mudar vai ficando mais evidente quando a protagonista admira a vista do apartamento de uma amiga e também quando experimenta um programa “em família” com o músico e o filho dele. 


O público observa tudo de perto, já que a câmera vai seguindo a atriz Mônica Maria (que faz com que seus silêncios, expressões de tristeza e apatia impactem a experiência do espectador). 

Escolhas de fotografia, com cenas de pouca luminosidade e planos fechados - quase claustrofóbicos - se amarram à interpretação de Mônica. 

Durante uma hora e dez, em sua estreia como diretora solo, a realizadora Clarissa Campolina emoldura na telona questões a respeito do passado, tradições, raça e relações familiares. 


E é a relação com a mãe que inicia o desejado processo de transformação da protagonista. Quando o silêncio sobre o passado é quebrado, Jimena começa romper as barreiras que a aprisionavam. 

Enquanto aguarda por esse desfecho, o público acompanha a trama sendo apresentado a alguns recortes da paisagem, por vezes caótica, da capital mineira, e ao talento da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. 

É um filme sobre busca de identidade e relacionamentos, que não traz arroubos de emoção, já que a vida também pode ser uma busca por serenidade. 

(Foto: Pedro Rena)

A obra é um drama de ficção, que atravessou o circuito de festivais, e agora terá sua estreia na telona. A diretora Clarissa Campolina foi premiada com seu longa de estreia, "Girimunho", em 2011, em Veneza, Mar Del Plata, Nantes e Havana. Ela é sócia da Anavilhana, produtora fundada em 2005, com mais de 30 obras audiovisuais lançadas.  

Distribuído por meio do projeto Sessão Vitrine, “Canção ao Longe” se junta ao rol das mais de 200 obras oferecidas pela Vitrine Filmes. Entre elas estão “Bacurau”, de Kleber Mendonça; “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, e “Druk: Mais Uma Rodada”, de Thomas Vinterberg, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2021.  


Ficha técnica:
Direção: Clarissa Campolina
Produção: Produtora Anavilhana
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h10
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, ficção