12 julho 2023

"A Noite do Dia 12" denuncia a violência presente em diversas esferas da sociedade

Destaque para as ótimas atuações de Bastien Bouillon e Bouli Lanners como os investigadores (Fotos: Fanny de Gouville/Haut et Court)


Carolina Cassese
Blog no Zint


Com estreia exatamente nesta quarta-feira (12) e direção de Dominik Moll, o longa "A Noite do Dia 12" é inspirado numa história real que virou livro pelas mãos da escritora francesa Pauline Guéna. 

Na noite de 12 de outubro de 2016, em Saint-Jean-de-Maurienne (Savoie), uma jovem de 21 anos, Clara Royer (Lula Cotton-Frapier), foi assassinada por um homem encapuzado, quando voltava de uma noite com amigos. 


Sabemos que, infelizmente, esse caso de feminicídio não representa um incidente isolado - no nosso país, por exemplo, há inúmeros registros de mulheres que são assassinadas, especialmente por namorados ou ex-companheiros. 

Diante desse quadro preocupante é primordial que o cinema contemporâneo trate dessa questão e nos faça refletir acerca das muitas dimensões do problema. Desde o começo do filme, que está em cartaz nos cinemas, o espectador está ciente de que o assassinato não será solucionado. 


Tal aviso é bem-vindo, já que, por esse motivo, compreendemos de antemão que o longa não seguirá a cartilha dos clássicos filmes de detetive. O que nos faz ficar com os olhos grudados na tela mesmo sem a iminência de descobrir quem é o assassino? 

A resposta possivelmente diz respeito ao eficiente ritmo do filme e, ainda, às ótimas atuações de Bastien Bouillon (Yohan) e Bouli Lanners (Marceau), que fazem o papel dos investigadores. No César de 2023, principal premiação do cinema francês, o longa foi o grande vencedor da noite, levando inclusive as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Direção. 


Outro mérito do trabalho de Moll é mostrar que, por mais que a autoria daquele episódio seja individual, existe uma responsabilidade coletiva acerca de crimes cometidos contra a mulher. Em determinado momento, o investigador Yohan chega a dizer que todos os homens mataram Clara, inclusive porque ela foi vítima de diferentes tipos de violência. 

Mesmo após o assassinato, um cantor se sente no direito de fazer brincadeiras sobre sua trágica morte. Além disso, sabe-se que, em casos de crimes contra as mulheres, muitos representantes da (suposta) justiça acabam culpabilizando a vítima pelo ocorrido. Nesse sentido, fica evidente que o feminicídio é um problema sistêmico e bastante complexo.


Parte da inventividade de "O Crime É Meu", longa francês em cartaz no Cineart Ponteio e UNA Cine Belas Artes, está justamente na subversão desse cenário, já que, no filme de François Ozon, são as mulheres que matam os pares masculinos por motivos banais, numa espécie de vingança contra abusos naturalizados cotidianamente. 

Na vida real, evidentemente, ninguém deveria ser morto por razão alguma. Mas ao inverter a situação ficcionalmente, Ozon evidencia o absurdo da realidade em que estamos inseridos. 


"A Sindicalista", em cartaz também no UNA Cine Belas Artes, é outro filme que mostra como as engrenagens do sistema muitas vezes são programadas para operarem contra a mulher, transformando a vítima em culpada.

Angustiante e visceral, "A Noite do Dia 12" não é um filme fácil de assistir. No entanto, o novo trabalho de Dominik Moll é muito eficiente em prender a atenção do espectador e em denunciar como a sociedade patriarcal pode ser conivente com crimes cometidos contra a mulher. 


Se, por um lado, às vezes necessitamos apenas de um filme feel good para descansar a cabeça, em outros momentos precisamos encarar nossa realidade e nos movimentar a partir da indignação. Um soco no estômago, portanto, é bem-vindo para nos tirar da inércia.


Ficha técnica:
Direção: Dominik Moll
Roteiro: Gilles Marchand e Dominik Moll
Produção: Haut et Court
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 16 anos
Países: Bélgica, França
Gêneros: drama, suspense, policial

07 julho 2023

"Sobrenatural - A Porta Vermelha" é um terror que assusta sem causar medo

Quinto longa consegue recuperar a qualidade do primeiro filme da franquia (Fotos: Sony Pictures)


Maristela Bretas


Está sendo consenso entre as pessoas que assistiram "Sobrenatural - A Porta Vermelha" ("Insidious - The Red Door") que este filme é tão bom quanto o primeiro da franquia, “Sobrenatural", de 2011. Talvez porque essa quinta produção, que está em cartaz nos cinemas, traga de volta atores do elenco original - como Patrick Wilson, que também é o diretor. 

E realmente agrada, com bons sustos graças a um ótimo trabalho de maquiagem e boas interpretações do elenco, incluindo a da entidade do mal, chamada pelos personagens de Demônio Vermelho e Demônio do Rosto Vermelho.


Além de Patrick Wilson e Ty Simpkins, “Sobrenatural – A Porta Vermelha” conta com a volta de Rose Byrne (Renai), Andrew Astor (Foster), Barbara Hershey (Lorraine), membros da família Lambert que participaram de “Sobrenatural" (2011) e "Sobrenatural: Capítulo 2" (2013), ambos dirigidos por James Wan. 

Também retornam à franquia Lin Shaye, como a vidente Elise Rainier, e Amgus Sampson, como seu assistente Tucker. 

O destaque do novo elenco é Sinclair Daniel, em ótima interpretação da jovem descolada Chris, colega da quarto de Dalton na faculdade. Participam ainda Juliana Davies, como Kali, filha caçula dos Lambert, e Hiam Abbass, professora de Artes de Dalton. 


Os fatos ocorrem dez anos depois da aparição da entidade ter tentado trazer Dalton (Ty Simpkins) e o pai Josh (Patrick Wilson) para uma dimensão macabra em “Sobrenatural: Capítulo 2” e ter aterrorizado toda a família Lambert. Apesar de terem suas memórias apagadas por decisão da família, ambos vivem atormentados por visões que não sabem explicar. 


O problema se agrava quando Dalton, que não se dá bem com o pai, começa a faculdade e passa a ter visões da assustadora entidade que habita a dimensão astral por trás da porta vermelha (um lugar entre o Céu, a Terra e o Inferno). E precisarão enfrentar seus medos e desavenças do passado para conseguirem ficar livres desse espírito do mal.

Mesmo sendo um filme de terror, "Sobrenatural - A Porta Vermelha" demora a provocar sustos, mas quando eles começam, dá para pular na cadeira. 


O longa foca a abordagem na relação conturbada entre pai e filho. Quase uma reprodução da relação que Josh tinha com o pai que o abandonou quando criança. 

Esses relacionamentos familiares ruins estão interligados com as aparições e a força que a entidade macabra exerce sobre suas vítimas. A forma como esse ponto é conduzido no roteiro é bem clara, dando ao longa um encerramento digno da franquia, que começou muito bem sob a batuta de James Wan, teve seus altos e baixos, e recupera neste quinto filme.

   
O Demônio do Rosto Vermelho (interpretado por Joseph Bishara) é realmente assustador e suas aparições, assim como a outras entidades da dimensão astral, atormentando Dalton, Chris e Josh, provoca no público a reação esperada para um bom filme de terror. O retorno da família foi uma boa ideia, fechando um ciclo interrompido há 10 anos.


Outro ponto que agrada é ter o roteiro de Leigh Whannell (do excelente "O Homem Invisível"- 2020), criador da ideia original e dos personagens de “Sobrenatural”, juntamente com James Wan.

Ele também retoma o papel do caça-fantasmas Specs, que desempenhou no original de 2011, em “Sobrenatural: Capítulo 2” (2013), "Sobrenatural: A Origem" (2015), dirigido por ele, e "Sobrenatural: A Última Chave" (2018).  

James Wan, que dirigiu os dois primeiros filmes, também retorna. Agora como produtor, ao lado de Jason Blum, da Blumhouse, garantindo uma produção de qualidade, que convence como filme de terror que faz o expectador dar pulo na cadeira. 


No gênero terror, Wan tem em sua filmografia a direção de “Invocação do Mal" (2013), “Invocação do Mal 2” (2016) e roteiro nos demais filmes da franquia. 

Para quem quer assistir os outros quatro filmes da franquia, os dois primeiros estão disponíveis na @HBOMax e os dois últimos na @Netflix. Mas não é necessário assistir aos demais. “Sobrenatural – A Porta Vermelha” dá a explicação necessária no início. 


Ficha técnica:
Direção: Patrick Wilson
Produção: Blumhouse Productions
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h47
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: Terror