01 agosto 2023

Fotógrafos mineiros registram BH em exposição cinematográfica

Mostra acontece na cervejaria Galpão Flor do Campo, em Santa Efigênia (Foto: Thiago Giardini/Igor Batalha-Coletivo Errante)


Da Redação


Inspirados pelo poder da sétima arte, 16 fotógrafos capturaram imagens de uma Belo Horizonte em que as ruas – e sua gente – se transformaram no cenário principal. A exposição BH Cinematográfica traz registros como se o tempo se congelasse e a tela ganhasse vida em forma de quadros. É como se, assistindo a um filme, a intensidade da cidade se materializasse à medida que pausamos essas cenas.

Dos dramas intimistas no ambiente do Centro às personagens de nossos parques, ali a vida real pulsa, ecoa pelos arranha-céus, com cada fotografia trazendo consigo um fragmento da alma da capital mineira. As imagens produzidas por integrantes do Coletivo Errante vão ganhar as paredes do Galpão Flor do Campo, cervejaria artesanal do Bairro Santa Efigênia, a partir desta terça-feira, 1º de agosto, em evento aberto ao público.

Há pluralidade de narrativas, beleza ora ‘oculta’, ora latente, monumentos e população aflorando, como se contassem suas próprias histórias – uma jornada visual num universo em que realidade e imaginação se encontram. Uma experiência que permite enxergar BH por um prisma delicadamente cinematográfico.

Foto: Hiago Henrique/Igor Batalha-Coletivo Errante

O Coletivo Errante

O Errante é um coletivo fotográfico que encontra beleza nas ruas e que capta a essência do caos e da vida que pulsa em cada canto da cidade. Em 2019, o fotógrafo lgor Batalha deu vida a essa ideia. Reuniu pessoas com diferentes olhares, talentos e paixões, todas sob a mesma bandeira: a fotografia. 

Mais do que um grupo de fotógrafos, o Errante ajuda a compartilhar conhecimento e troca de experiências sobre a área. Seus recortes urbanos incorporam diversidade, beleza, imperfeição e magia por meio da imagem.

Participam Rogério Argolo, Caio Vinicios, Carlos Moraes, Gustavo Crivellari, André Delfino, Carolina Faraco, Frederico Barros, Guilherme Rigueira, Helena Branjão, Hiago Henrique, Igor Batalha, Lucas Bahia, Lúcio Fonseca, Mateus Rodrigues, Richard Santos e Thiago Giardini.



Serviço:
Exposição BH Cinematográfica
Local: Galpão Flor do Campo - Rua Coronel Otávio Diniz, 449, Santa Efigênia
Abertura: 1º de agosto, às 19 horas
Entrada franca
Visitação após a abertura: de quarta a sexta (a partir das 18 horas) e aos sábados (a partir das 15 horas)

31 julho 2023

“Disco Boy - Choque Entre Mundos” chega ao Brasil ostentando prêmio em Berlim e proposta confusa

Diretor italiano Giacomo Abbruzzese faz sua estreia em longas com obra complexa (Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr.


Lá se vai o mês de julho, em que os cinemas exibem filmes de fácil leitura para atrair principalmente jovens em férias. A nova fase das salas de exibição começa no dia 3 de agosto, com um filme difícil. A estreia do primeiro longa-metragem do cineasta italiano Giacomo Abbruzzese, “Disco Boy - Choque Entre Mundos”. A distribuição é da Pandora Filmes. 

A obra chega carregando o Urso de Prata de Melhor Contribuição Artística no Festival de Berlim deste ano. Mas não se engane. O ‘choque entre mundos’ proposto no título poderia ser substituído por ‘universos que apenas se resvalam’. 


Na trama, duas histórias correm paralelamente - com pitadas de mistério, drama e aventura. De um lado está Aleksei (Franz Rogowski), que sai da Bielorrússia com um plano para se alistar na Legião Estrangeira, e assim obter a cidadania francesa. Do outro está Jomo (Morr N’Diaye), um guerrilheiro do Níger, que luta contra a exploração européia que vem tornando escassos os recursos necessários à sobrevivência de sua aldeia. 

As duas histórias, obviamente, se encontram. Mas não como esperado. O longa se inicia com uma cena de soldados negros dormindo na mata. Cria-se ali a expectativa de que a trama dos africanos tenha destaque, mas o cineasta sequer se esforça em apresentar os componentes daquele núcleo ou o passado deles. 


Apenas num raro momento de abertura dessas personagens é que Jomo, líder da guerrilha africana, é questionado sobre o que ele teria sido caso tivesse nascido do outro lado do rio. Ele responde que seria “um disco boy”, que subiria no palco e se deixaria levar pela música, ignorando dilemas externos. 

O mesmo desejo de libertação tem Aleksei, que mesmo sendo branco, vivendo outra realidade, também busca na música e na dança se esquecer de suas batalhas particulares e da guerra que enfrenta junto da Legião Estrangeira. 


Branco e negro têm desejos semelhantes, que parecem simples. Suas existências se entrelaçam. Mas um deles tem seu universo mais esmiuçado, ocupa a tela por grande parte do filme. 

Enquanto o mundo do outro parece mero recurso para se fechar uma história; não como ponto de embate, mas como escada para os dilemas do protagonista. Resvala com a realidade do homem branco e adeus.   

Os dois são colocados frente a frente no campo de batalha, quase espelhados. O efeito de visão noturna escolhido pelo cineasta para o embate entre protagonista e antagonista fica bonito na tela, prende a atenção do espectador. 


Mas dura pouco para que, na sequência, sejam apresentados os estragos feitos pelo colonialismo europeu. Essa crítica fica perdida, pois não se sabe se é da personagem Aleksei ou do próprio cineasta. 

As tentativas do diretor de mostrar que as escolhas da vida não são simples e podem trazer consequências exigem do público concentração e capacidade de análise. Não só porque parecem habitar apenas na cabeça do cineasta, sem estarem expressas com clareza na tela, mas porque também são costuradas com cenas dúbias, delirantes. 


A irmã de Jomo, Udoka (Laetitia Ky), também gosta de dançar e se torna desejo inalcançável de Aleksei. Jomo, que foi morto por Aleksei, reaparece (se de forma onírica ou não, você decide). E nessa mistura confusa, o bielorrusso parece sofrer para escolher entre a cidadania francesa e a herança louca da guerra. 

Ao espectador, resta o esforço de interpretar metaforicamente a dança que embala o final do longa. Prepare-se para um filme difícil. Uma viagem sem por que ou pra quê. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Giacomo Abbruzzese
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 12 anos
Países: Bélgica, França, Itália, Polônia
Gênero: drama