08 agosto 2023

"Ursinho Pooh: Sangue e Mel" é um terror bizarro ruim, com enredo esquecível

Matança e torturas predominam na versão macabra dirigida por Rhys Frake-Waterfield (Fotos: Jagged Edge Productions)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Um terror sanguinário, completamente oposto às histórias fofinhas do famoso ursinho amarelo que gosta de um pote de mel e seus simpáticos amigos. A partir desta quinta-feira (10) estreia nos cinemas "Ursinho Pooh: Sangue e Mel" ("Winnie-The-Pooh: Blood and Honey"), um longa macabro do gênero slasher com muita violência, mas com enredo esquecível.

A obra apresenta a relação de Christopher Robin (Nikolai Leon), que foi para a faculdade e esqueceu seus animais de infância - Pooh (Craig David Dowsett) e Leitão (Chris Cordell). 

Se sentindo traídos e abandonados, eles perdem suas personalidades amigáveis e se tornam selvagens e violentos, atacando e matando quem entrar em sua floresta. 


O roteiro é ruim, com desenvolvimento preguiçoso e não aprofunda na relação do passado entre Christopher, Pooh e Leitão. O diretor Rhys Frake-Waterfield pouco se preocupa em mostrar os vilões em alguma situação difícil em que eles podem se dar mal. Quando acontece, a dupla consegue se recuperar e continua a matança. 

Nenhuma atuação do elenco consegue convencer. As máscaras borrachudas e os poucos diálogos pioram a situação, fazendo com que os personagens se tornem descartáveis - se forem mudados por qualquer outro, não fará a menor diferença. 


Se a intenção do diretor era vender a ideia de que tudo o que acontece no filme faz parte da fantasia de Christopher, essas máscaras de borracha e os trajes só tornam mais difícil gostar do longa.

"Ursinho Pooh: Sangue e Mel" é só um terror genérico que não entretém e pode desagradar até mesmo quem gosta deste tipo de filme. Para piorar, está confirmada uma continuação e a possibilidade de que outros clássicos como Bambi e Peter Pan, também possam receber versões macabras.


Onde perdemos Pooh?

Em 1920, o escritor Alan Alexander Milne (A. A. Milne) criou o adorado ursinho de pelúcia Winnie-The-Pooh e seus amigos, incluindo Christopher Robin (nome do filho de Milne), que se tornaram famosos por meio das produções da Disney. 

Durante anos, a empresa manteve os direitos autorais da coleção, até que em 2022, o primeiro livro de Pooh entrou em domínio público em outros países. No Brasil isso só ocorrerá em 2027. 


A partir daí, qualquer pessoa poderia usar, distribuir e adaptar a história sem a necessidade de permissão ou pagamento de royalties. Rhys Frake-Waterfield decidiu usar os personagens Pooh e Leitão em suas versões mais macabras que pouco se assemelham à beleza dos clássicos personagens. E promete outras produções bizarras para adultos com personagens infantis.


Mesmo com orçamento baixo (em torno de US$ 100 mil), tendo sido gravado em dez dias e entregando uma qualidade duvidosa, "Ursinho Pooh: Sangue e Mel", lançado em fevereiro deste ano em outros países como México e Estados Unidos, atingiu uma bilheteria alta. Como aconteceu com “Terrifier 2”. Prova que o slasher, mesmo ruim, ainda consegue ser lucrativo. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Rhys Frake-Waterfield
Produção: Jagged Edge Productions e ITN Films
Distribuição: California Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h24
Classificação: 18 anos
País: Reino Unido
Gênero: terror

06 agosto 2023

Biografia de executivo resgata histórias de grandes nomes da música em “A Era de Ouro”

Longa aborda história da gravadora Casablanca, que lançou grandes sucessos nos anos 1970 (Fotos: Paris Filmes)


Eduardo Jr.


São 2h15 de um longa que, embora seja um drama, é capaz de animar o mais parado dos públicos. Esse é “A Era de Ouro” ("Spinning Gold"), que estreia nesta quinta-feira (10) nos cinemas. 

Se não tem um nome de peso na direção (feita pelo norte-americano Timothy Scott Bogart, que também é roteirista e produtor), Donna Summer, Bill Withers e a banda Kiss se encarregam de subir o sarrafo. 

Mas não se trata de um filme sobre esses artistas e sim uma biografia do produtor musical Neil Bogart, fundador da gravadora Casablanca Records, que nos anos 1970 lançou todas essas estrelas da música internacional, além da cantora Gladys Knight e das bandas The Village People, The Isley Brother e Parliament.


O sobrenome não é mera coincidência. O biografado, Neil Bogart, é pai do diretor do longa. No filme, o ator Jeremy Jordan (de séries de TV como "Supergirl" e "The Flash") dá vida a Neil, que narra sua própria história, conversando com a câmera. O texto não é brilhante, mas consegue envolver o espectador. 

A luz amarelada no início, que aquece e fica condizente com um retrato do passado, cria a atmosfera ideal para uma viagem à infância do produtor e sua luta para não repetir os passos do pai, um sonhador inconsequente (está aí um dos dramas do protagonista). 


Em muitos momentos é possível enxergar o protagonista como um malandro bom de lábia, com muita ambição e um pouco de charme (não se empolgue, não há charme que dure com a peruca do personagem). 

A falta de dinheiro vai sendo superada com um jeitinho aqui e ali, e a esperteza coloca Neil definitivamente dentro da indústria da música. 


A partir daí começa a venda da imagem do executivo como gênio criativo. A inventividade e a ousadia vão ajudando Neil a descobrir - e roubar - talentos de outras gravadoras. 

Sendo um pouco mais rigoroso, nota-se que algumas questões ficam pelo caminho, como a origem do dinheiro para algumas operações e o sumiço da esposa e filha do protagonista por longos minutos enquanto ele vive sua vida de estrela. 


Entram em cena os clichês: do dinheiro que vem rápido e que é gasto mais rápido ainda, do romance que fica na corda bamba, e da loucura das drogas. 

Mas a diversão é garantida por outras escolhas da direção. Músicas de fundo vão guiando os momentos da trama e tornando o filme mais acessível, curiosidades sobre gravações e shows despertam a curiosidade do público, e apresentações musicais fazem o espectador viajar ao passado e se surpreender com o elenco. 


O cantor de pop e R&B, Jason Derulo, interpreta Ron Isley, do The Isley Brothers. Pink Sweats, que tem forte ligação com o rap e R&B impressiona cantando “Ain’t no Sunshine”, o maior sucesso de Bill Withers. 

E Ledisi, que já se aproximou da música brasileira ao gravar com Sérgio Mendes, surge impecável caracterizada - e cantando - como Gladys Knight. A excelente trilha sonora do filme ficou a cargo de outro filho de Neil, Evan “Kidd” Bogart. Confira clicando aqui.


Além de números que fazer dançar na cadeira, a jornada do herói também marca presença. O longa apresenta dramas, ameniza as falhas do protagonista pela simpatia, traz superação e aposta em clássicos da world music para subir o clima da produção. 

Nomes famosos da "Era de Ouro" lançados por Bogart recebem intérpretes pouco conhecidos, como Tayla Parx (que saiu-se bem como Donna Summer) e Casey Likes (Gene Simmons/Kiss). 

Obra divertida, que precisa ser vista pelas gerações de ontem e de hoje - e também para dizerem se concordam comigo que o final poderia ser encurtado, por trazer cenas dispensáveis.  


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Timothy Scott Bogart
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h17
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: drama, música, biografia