16 agosto 2023

"Fale Comigo" mostra as aterrorizantes consequências de ir ao encontro do sobrenatural

Terror australiano chega aos cinemas como uma das melhores apostas do gênero para este ano
(Fotos: Diamond Films)


Carolina Cassese
Colunista do Zint


Como lidar com uma perda? Essa é uma pergunta importante para o desenrolar de "Fale Comigo" ("Talk To Me"), filme de estreia dos irmãos youtubers australianos, Danny e Michael Philippou, que entra em cartaz nos cinemas nesta quinta-feira (17). E com a marca de 95% de aprovação no site agregador de críticas Rotten Tomatoes, após exibições internacionais.

A história é centrada em Mia (Sophie Wilde), adolescente que sofre com a morte da mãe. Por não saber conviver com o luto do pai Max (Marcus Johnson), a garota acaba se aproximando da família de Jade (Alexandra Jensen), sua melhor amiga.


No aniversário da morte de sua mãe, Mia convoca Jade e o irmão dela Riley (Joe Bird) para a atração do momento: uma festa onde adolescentes são possuídos por espíritos e se comportam das maneiras mais inusitadas. Jade insiste que é tudo uma farsa, mas Mia quer descobrir por si mesma. Depois de muita insistência, os três se dirigem para a festa.

O ritual funciona dessa maneira: ao agarrarem a mão decepada de um médium, embalsamada e envolta em cerâmica, eles entram em contato com os mortos assim que dizem a frase “fale comigo”.  A personagem Hayley (Zoe Terakes), uma das guardiãs da mão, explica que o contato não pode durar mais do que 90 segundos, ou então os espíritos “podem querer permanecer”. 


Os jovens se divertem e ficam viciados na brincadeira, repetindo-a por dias e dias. Até que, em determinado momento, algo dá errado. Muito errado. Ao realizar a experiência da mão, um deles (não diremos qual para evitar spoilers) fica gravemente ferido e precisa ser hospitalizado às pressas. Ele não é o único a sentir os efeitos do contato com o sobrenatural.

A partir desse momento, acompanhamos a luta dos personagens para se livrarem da influência dos espíritos. O filme ganha um ritmo eletrizante e, como esperado, se torna ainda mais assustador.


Em relação à atmosfera de terror, vale destacar que os diretores utilizam recursos variados. Sim, há jump scares, mas o medo também é construído por meio da trilha sonora de Cornel Wilczek e do design de som de Emma Bortignon. Além disso, a trama explora os anseios mais profundos dos personagens.

A protagonista, por exemplo, se encontra muito debilitada por causa da morte da mãe. Tal estado emocional a deixa ainda mais vulnerável no contato com os espíritos, já que ela busca respostas no mundo sobrenatural. Nesse sentido, o filme mostra como é mais fácil cair em armadilhas quando estamos fragilizados.


Outro tema abordado na história é a cultura das redes sociais. Os vídeos divulgados em aplicativos são uma parte importante da experiência realizada pelos adolescentes. Qual é o limite para conseguir uma filmagem surpreendente, viralizar na internet e impressionar os colegas? Os jovens da trama definitivamente não medem as consequências e vão longe demais. 

Ao longo do filme, os diretores não chegam a dar muita atenção para essa problemática, e, diante de tantos acontecimentos arrebatadores, o espectador também acaba se voltando para outros pontos: ele quer saber o que acontece a seguir. 


Além do ritmo dinâmico e tenso, um dos principais destaques do longa diz respeito às atuações, em especial a de Sophie Wilde, responsável por cenas intensas. A atriz se mostra versátil e transita muito bem entre diferentes estados emocionais. A veterana Miranda Otto, que interpreta Sue, a mãe de Jade, também entrega cenas excelentes.

Nesse sentido, "Fale Comigo" é um filme repleto de revelações: jovens atores talentosos, uma protagonista impecável e uma dupla de diretores que surpreende positivamente com o trabalho de estreia. 

O longa anda agradando os fãs de carteirinha do gênero terror, ao passo que também pode ser uma boa pedida para os que simplesmente gostam de explorar as profundezas da mente humana. Afinal de contas, a obra é também sobre luto, culpa e, claro, sobre nossos medos mais entranhados.


Ficha técnica:
Direção:
Danny e Michael Philippou
Roteiro: Danny Philippou
Produção: A24, The South Australian Film Corp, Causeway Films, Metrol Technology
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 14 anos
País: Austrália
Gêneros: terror, suspense

15 agosto 2023

"Tempos de Barbárie - Ato I" é repleto de falhas e irresponsável no conteúdo

Cláudia Abreu é destaque no filme, entregando interpretação primorosa
(Foto: Raquel Tanugi e Mariana Vianna/Atômica)


Larissa Figueiredo 


O longa nacional "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança" estreia nesta quinta-feira (17), trazendo a trajetória de uma mãe, a advogada Carla (Cláudia Abreu), que vê a filha ser baleada durante uma tentativa de assalto. 

Carla, sem conseguir aceitar o destino da filha e a falta de soluções por parte da polícia, transforma a busca por justiça em uma vingança contra todo o sistema que alimenta a violência no Brasil. 


O que era para ser uma crítica de apelo moral sobre justiça com as próprias mãos, se tornou um conteúdo sem sentido e irresponsável. O roteiro do filme é repleto de falhas e não é nem de longe uma boa ideia.

A protagonista com a saúde debilitada se transforma em uma espécie de Exterminador do Futuro e de algum modo, consegue executar seus planos sem muita dificuldade. 


Os outros personagens, como o marido de Carla (César Mello), mal aparecem no longa, não há nenhuma complexidade, desenvolvimento e trama secundária, o que torna o filme repetitivo e pesado para quem está do outro lado da tela. 

Alexandre Borges também está no elenco interpretando Miranda, colega de trabalho de Carla que a incentiva a fazer sua própria justiça. Além de Julia Lemmertz, Kikito Junqueira, Pierre Santos, Adriano Garib, Claudia Di Moura, Roberto Frota e Giovanna Lima. 


Outro ponto que chama atenção é a forma que o longa alimenta todos os lugares comuns e estereótipos do contexto da violência nas grandes periferias brasileiras. 

O filme poderia ter explorado com maior complexidade o modus operandi das milícias e organizações criminosas de contrabando de armas de fogo, por exemplo, como vemos no clássico "Tropa de Elite" (2007). Mas a direção parece ter escolhido a mediocridade e um simplismo desleixado. 


A atuação de Claudia Abreu é um dos únicos pontos positivos de "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança". Mesmo com as inúmeras falhas no roteiro, a atriz cumpriu seu papel com primor. 

Os planos curtos intercalados e os filtros frios na imagem trazem certo desespero ao espectador misturado com apatia, expressando os sentimentos de Carla na busca por vingança. Destaque também para a montagem do longa, fotografia e direção de arte. 


Ficha técnica:
Direção: Marcos Bernstein
Roteiro: Marcos Bernstein e Victor Atherino
Produção: Hungry Man, Pássaro Films e Neanderthal MB, com a coprodução da Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense
Nota: 2 (0 a 5)