27 agosto 2023

Documentário “Ithaka: A Luta de Assange” expõe o preço da verdade

Obra de Ben Lawrence revela detalhes da batalha do pai do jornalista para conseguir a libertação do filho
(Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr. 


A tela se abre com uma mensagem dizendo que a tortura é uma ferramenta de alerta, que é mais efetiva se usada em público. Um resumo claro do que acontece, há anos, com Julian Assange, fundador do site WikiLeaks. 

Perseguido, preso e constantemente ameaçado, o jornalista e ativista australiano tem sua saga contada no documentário “Ithaka: A Luta de Assange”, que estreia nos cinemas brasileiros dia 31 de agosto, com distribuição da Pandora Filmes. 

Mas a obra do diretor Ben Lawrence não é um filme de ação, é mais drama. O protagonista não é Julian Assange, e sim seu pai, John. E como antagonista, os Estados Unidos da América, que realizam, aos olhos do mundo, uma tortura psicológica contra Assange e, consequentemente, contra a liberdade de imprensa, fazendo disso uma espécie de aviso (ou ameaça) a quem se aventurar na exposição de algumas verdades inconvenientes. 


O longa acompanha o pai de Assange, John Shipton, que viaja pela Europa em busca de contatos com a mídia e com apoiadores, para libertar o filho da prisão. No ano de 2010, o jornalista publicou arquivos e documentos que revelavam crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos durante o conflito no Iraque, quando um helicóptero norte-americano metralhou civis em Bagdá. 

Julian foi preso em Londres em 11 de abril de 2019, e desde então os americanos tentam sua extradição. Tal pedido não é nenhuma novidade na história moderna. O ineditismo reside no fato de que nunca antes um jornalista e editor foi acusado de espionagem.  

Julian Assange

Ao que parece, o caso de Assange pode abrir precedente para que o ofício do jornalismo seja ferido de morte - mesmo que a Primeira Emenda norte-americana proíba o congresso de limitar a liberdade de imprensa. 

O documentário apresenta esta questão, costurando depoimentos e imagens de arquivo. Mas explora de forma mais intensa o drama de um pai, idoso, que sai de Melbourne para ir a Berlim, Londres e quantos países forem precisos, para ajudar o filho. E também o quanto os desgastes de um processo longo, envolvendo um preso político, afeta uma família. 


Enquanto John caminha, uma câmera nervosa acompanha o pai. E captura até os momentos em que ele se recusa a responder algumas perguntas que soam sensacionalistas - afinal, o que importa é libertar Julian ou explorar o motivo que manteve pai e filho afastados durante anos?  

Junto das cenas familiares e das manifestações pela liberdade do jornalista, a direção opta por inserir legendas, de forma a situar o espectador e explicar alguns detalhes. 

No geral, o documentário é direcionado a apresentar, textual e visualmente, um Assange vítima de um governo sujo. Tanto que, o acusado de espionagem se torna alvo a ser espionado, até mesmo enquanto asilado dentro de uma embaixada. 


Além do drama, há também um certo suspense. Para quem não acompanha os noticiários e não sabe o atual status do preso político mais famoso dos últimos tempos, pode ficar a sensação de “o que vai acontecer agora?”. 

Isso ocorre porque, até aí, não se sabe como a alternância de poder nos EUA, de Donald Trump para Joe Biden, pode interferir no destino de Assange. 

O julgamento que definirá a extradição ou não do ativista é entrecortado pelo cotidiano dos familiares e outros detalhes estratégicos. E até que essas respostas sejam entregues, o espectador já está tomado pela aflição, curiosidade ou ambos. 

Acompanhar a saga da família causa tristeza em certos momentos. O acesso à intimidade dos parentes se deve ao meio-irmão de Assange, Gabriel. Partiu dele a ideia de estar junto com o pai nessa campanha pela liberdade do filho. 

Da esq. para direita - irmão, cunhado e o pai de Julian

Outro parente envolvido na produção é o irmão da esposa de Assange, Adrian Devant. Com as portas da casa abertas por eles, a câmera nos permite observar o neto chorando por não poder desfrutar da companhia do avô, que precisa libertar o filho. 

“Ithaka” é um bom documentário. Se propõe a trazer uma abordagem pessoal a um conteúdo que se resume a uma batalha jurídica. E por trás dela, um governo motivado em esconder seus feitos (acho que já vi isso em algum lugar…). Em tempos de analfabetismo político, pode ser também uma aula, um alerta sobre assuntos que nos afetam diretamente. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Ben Lawrence
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h46
Classificação: 12 anos
Países: Austrália e Reino Unido
Gêneros: documentário, drama

25 agosto 2023

"A Chamada" é uma repetição de outros filmes de ação de Liam Neeson

Longa traz ameaças por telefone, perseguições da polícia e um roteiro bem fraco  (Fotos: StudioCanal)


Maristela Bretas


De agente num avião ("Sem Escalas" - 2014) para um policial no trem ("O Passageiro" - 2018) e agora um executivo do setor financeiro que não dá atenção à família dentro de um carro. O formato que marcou estes filmes de ação de Liam Neeson se repete em "A Chamada" ("Retribution"), novamente com mensagens e ligações telefônicas ameaçadoras. A nova produção, em cartaz nos cinemas, é mais do mesmo.

Tudo é bem previsível, das falas ao vilão. O roteiro é preguiçoso, quase um CONTROL C/CONTROL V. Poderia ter explorado a experiência do ator principal, que já fez produções melhores do gênero. Desde o primeiro momento é possível saber o que vai acontecer e como será a reação do empresário Matt Turner, papel de Neeson.


O elenco secundário também faz o básico e acrescenta muito pouco, especialmente os atores Lilly Aspell, Jack Champion e Embeth Davidtz, que interpretam os filhos e a esposa de Turner. 

A agente da Europol, Angela Brickmann (Noma Dumezweni), está lá para cumprir tabela. Afinal é necessário alguém da polícia para caçar o homem que ameaça os filhos com uma bomba. Até mesmo o experiente Matthew Modine, como Anders, sócio de Turner, é mal aproveitado.


O longa é uma corrida contra o relógio para Matt Turner. Numa manhã quando levava os filhos à escola, ele recebe uma ligação de um desconhecido que diz que há uma bomba sob os assentos e que ninguém pode deixar o carro. 

O executivo terá de seguir as ordens do terrorista ou o veiculo será explodido com todos os ocupantes. Para quem não se importava muito com a família e só pensava nos negócios, ele agora tem de voltar sua atenção para salvar os filhos do homem que os está ameaçando.


"A Chamada" tem pontos positivos, como as imagens nas ruas de Berlim. Mesmo com cenas rápidas de perseguição é possível ver locais bem interessantes da cidade alemã. A ação predomina durante todo o longa, mas não apresenta nada de novo do que já foi visto em outros filmes do gênero. 

A trilha sonora composta por Harry Gregson-Williams, responsável por "Megatubarão 2" (2023), "Mulan" (2020) e "A Casa de Gucci" (2021), é boa e ajuda a dar um clima mais dinâmico às cenas de ação. 

Para os fãs do ator, "A Chamada" pode ser uma opção que agrade - eu mesma fui assistir por gostar dos filmes de Liam Neeson -, mas não espere novidades. Acredito que o longa vá bem rápido para o streaming.


Ficha técnica:
Direção: Nimród Antal
Produção: StudioCanal, Vaca Films Studio, Ombra Films
Distribuição: Paris Filmes, Telecine
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h31
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, ação