28 agosto 2023

As Tartarugas Ninja voltam às telas atualizada com menções a memes e TikTok

Animação é uma versão que tenta dialogar com as novas gerações (Fotos: Paramount Pictures)


Eduardo Jr.    


Quem viveu os anos 1980 e 1990 certamente ouviu falar ou se divertiu com as aventuras de Leonardo, Donatello, Raphael e Michelangelo. Agora, uma nova animação tenta refrescar um dos desenhos mais populares do século passado. 

Com distribuição da Paramount e da Nickelodeon, “As Tartarugas Ninja - Caos Mutante” ("Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem"), do diretor Jeff Rowe, estreia nos cinemas nesta quinta-feira (31). Para apresentar - e atualizar - a história do quarteto mutante às novas gerações, o longa vem recheado de referências pop. 


As quatro tartarugas adolescentes vivem nos esgotos com seu pai, Splinter, um homem-rato, que impede que os filhos se aproximem dos humanos para não serem maltratados e ordenhados por eles (sim, ordenhados). A única permissão é sair para “fazer as compras da casa”. 

Mas como adolescentes criam suas próprias regras, as tartarugas fazem da sua obrigação um ‘rolê’ animado, ao som de hip-hop e filmagens com celular. Em uma das escapadas para a superfície se metem em uma aventura que se transforma em missão para salvar Nova Iorque. 


A animação de Rowe traz algumas modificações em relação aos desenhos orginais. A começar pela presença de April O’Neil, que era uma jornalista ruiva, e agora é uma estudante negra aspirante a jornalista. 

O inimigo do grupo de heróis também é outro. E não há menção à organização ninja Clã do Pé, como havia na versão de 1980. 

Aqui, o pai e mestre Splinter aprendeu artes marciais em filmes e vídeos (fazer o quê, né, se as novas gerações aprendem tudo no YouTube, por que não vamos engolir essa?). 

Aliás, o nome do homem-rato é pouco mencionado na trama. Corre o risco de os mais jovens saírem do cinema sem nem lembrar qual o nome do pai das tartarugas ninja.   


O termo ‘mutante’ é a deixa para observarmos uma semelhança entre este filme e a consagrada franquia X-Men. Assim como os personagens da Marvel, as tartarugas também enfrentam outros mutantes e batalham para serem aceitas entre os humanos. 

As semelhanças não param por aí. O traço dos personagens se parece com rascunhos de desenhos, lembrando o estilo utilizado em “Homem Aranha no Aranhaverso” (2018). Fica claro que há na proposta estética uma intenção de suavizar os heróis, enquanto o vilão é poluído, com traços mais grosseiros. 


Ainda assim, a obra derrapa nos gráficos em certos momentos. A mistura de traços imperfeitos somada à agilidade das cenas de ação pode deixar o espectador sem captar um detalhe ou outro do que passou na tela. 

A apresentação de alguns personagens também fica a desejar. A vilã Cynthia Utrom aparece na trama, mas não se sabe de onde ela veio ou qual a sua motivação. 

Situação similar a do vilão Supermosca, que não tem sua origem bem explicada. Resta ao espectador aguardar por uma continuação para ter as respostas (e esperar também as cenas pós-crédito, porque TEM). 


O longa acerta na abordagem da cultura pop, na discussão de pautas como bullying e preconceito, e no vocabulário dos personagens. Uma curiosidade interessante é que as vozes das tartarugas são de atores adolescentes, o que confere maior fidelidade ao que está sendo dito. 

A produção tem como roteiristas Seth Rogen e Evan Goldberg, que já criaram juntos vários roteiros de comédias, como "A Entrevista" (2014), "Vizinhos 2" (2016), e "Festa da Salsicha (2016). A dupla também produtora executiva do terror "Toc Toc Toc - Ecos do Além", que estreia nesta quinta-feira (31) nos cinemas.

No geral, o resgate de um desenho considerado clássico por alguns consegue divertir, explora a graça da adolescência, mas “As Tartarugas Ninja - Caos Mutante” poderia ser mais bem trabalhado.


Ficha técnica:
Direção: Jeff Rowe
Produção: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h19
Classificação: livre
País: EUA
Gêneros: animação, comédia, aventura, ação

27 agosto 2023

Documentário “Ithaka: A Luta de Assange” expõe o preço da verdade

Obra de Ben Lawrence revela detalhes da batalha do pai do jornalista para conseguir a libertação do filho
(Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr. 


A tela se abre com uma mensagem dizendo que a tortura é uma ferramenta de alerta, que é mais efetiva se usada em público. Um resumo claro do que acontece, há anos, com Julian Assange, fundador do site WikiLeaks. 

Perseguido, preso e constantemente ameaçado, o jornalista e ativista australiano tem sua saga contada no documentário “Ithaka: A Luta de Assange”, que estreia nos cinemas brasileiros dia 31 de agosto, com distribuição da Pandora Filmes. 

Mas a obra do diretor Ben Lawrence não é um filme de ação, é mais drama. O protagonista não é Julian Assange, e sim seu pai, John. E como antagonista, os Estados Unidos da América, que realizam, aos olhos do mundo, uma tortura psicológica contra Assange e, consequentemente, contra a liberdade de imprensa, fazendo disso uma espécie de aviso (ou ameaça) a quem se aventurar na exposição de algumas verdades inconvenientes. 


O longa acompanha o pai de Assange, John Shipton, que viaja pela Europa em busca de contatos com a mídia e com apoiadores, para libertar o filho da prisão. No ano de 2010, o jornalista publicou arquivos e documentos que revelavam crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos durante o conflito no Iraque, quando um helicóptero norte-americano metralhou civis em Bagdá. 

Julian foi preso em Londres em 11 de abril de 2019, e desde então os americanos tentam sua extradição. Tal pedido não é nenhuma novidade na história moderna. O ineditismo reside no fato de que nunca antes um jornalista e editor foi acusado de espionagem.  

Julian Assange

Ao que parece, o caso de Assange pode abrir precedente para que o ofício do jornalismo seja ferido de morte - mesmo que a Primeira Emenda norte-americana proíba o congresso de limitar a liberdade de imprensa. 

O documentário apresenta esta questão, costurando depoimentos e imagens de arquivo. Mas explora de forma mais intensa o drama de um pai, idoso, que sai de Melbourne para ir a Berlim, Londres e quantos países forem precisos, para ajudar o filho. E também o quanto os desgastes de um processo longo, envolvendo um preso político, afeta uma família. 


Enquanto John caminha, uma câmera nervosa acompanha o pai. E captura até os momentos em que ele se recusa a responder algumas perguntas que soam sensacionalistas - afinal, o que importa é libertar Julian ou explorar o motivo que manteve pai e filho afastados durante anos?  

Junto das cenas familiares e das manifestações pela liberdade do jornalista, a direção opta por inserir legendas, de forma a situar o espectador e explicar alguns detalhes. 

No geral, o documentário é direcionado a apresentar, textual e visualmente, um Assange vítima de um governo sujo. Tanto que, o acusado de espionagem se torna alvo a ser espionado, até mesmo enquanto asilado dentro de uma embaixada. 


Além do drama, há também um certo suspense. Para quem não acompanha os noticiários e não sabe o atual status do preso político mais famoso dos últimos tempos, pode ficar a sensação de “o que vai acontecer agora?”. 

Isso ocorre porque, até aí, não se sabe como a alternância de poder nos EUA, de Donald Trump para Joe Biden, pode interferir no destino de Assange. 

O julgamento que definirá a extradição ou não do ativista é entrecortado pelo cotidiano dos familiares e outros detalhes estratégicos. E até que essas respostas sejam entregues, o espectador já está tomado pela aflição, curiosidade ou ambos. 

Acompanhar a saga da família causa tristeza em certos momentos. O acesso à intimidade dos parentes se deve ao meio-irmão de Assange, Gabriel. Partiu dele a ideia de estar junto com o pai nessa campanha pela liberdade do filho. 

Da esq. para direita - irmão, cunhado e o pai de Julian

Outro parente envolvido na produção é o irmão da esposa de Assange, Adrian Devant. Com as portas da casa abertas por eles, a câmera nos permite observar o neto chorando por não poder desfrutar da companhia do avô, que precisa libertar o filho. 

“Ithaka” é um bom documentário. Se propõe a trazer uma abordagem pessoal a um conteúdo que se resume a uma batalha jurídica. E por trás dela, um governo motivado em esconder seus feitos (acho que já vi isso em algum lugar…). Em tempos de analfabetismo político, pode ser também uma aula, um alerta sobre assuntos que nos afetam diretamente. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Ben Lawrence
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h46
Classificação: 12 anos
Países: Austrália e Reino Unido
Gêneros: documentário, drama