29 agosto 2023

Roteiro de "Toc Toc Toc - Ecos do Além" patina entre terror psicológico e real

Relação abusiva familiar é um das abordagens do terror baseado em conto do escritor Edgar Allan Poe
(Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


Edgar Allan Poe era, sem dúvida, um grande escritor de contos de terror e suspense. E foi um deles, "O Coração Revelador ("The Tell-Tale Heart"), de 1843, que serviu de inspiração para o roteiro de "Toc Toc Toc - Ecos do Além" ("Cobweb"), escrito por Chris Thomas Devlin, que estreia nesta quinta-feira (31) nos cinemas. 

Apesar de a história apontar para um final diferente do que se propunha, o que seria bem interessante, ela insiste nos clichês conhecidos. Cenas escuras (às vezes nem dá para ver o que está acontecendo), uma voz misteriosa vinda de uma parede, protagonistas com caras de psicopatas, uma criança retraída e sempre com medo e uma pessoa disposta a enfrentar o desconhecido para ajudá-la.


Inicialmente, o filme leva a crer que poderia ser um suspense, abordando temas como violência psicológica doméstica, bullying na escola e traumas provocados por uma relação abusiva dentro de casa. 

Mas a partir da segunda metade, o roteiro fica embolado e as cenas deixam a desejar. Começa uma explicação, deixa pela metade, já pula para outra cena, não se sabe nada da família de Peter, apenas que é assustadora, especialmente o pai. Os crimes acontecem, mas ninguém investiga e nem suspeita de ninguém. Tudo fica solto no ar.


Na história, Peter (Woody Norman), de 8 anos, é atormentado por um misterioso e constante barulho que vem de dentro da parede de seu quarto, um toque que seus pais abusivos insistem que se trata apenas da imaginação do garoto. 

À medida que o medo de Peter se intensifica, ele acredita que seus pais podem estar escondendo um segredo perigoso e passam a ameaçá-lo. O garoto passa a confiar apenas na professora e na voz misteriosa vinda da parede.


No elenco estão Antony Starr (pai) e Lizzy Caplan (mãe), ambos da série “The Boys” (2019 a 2022), da Prime Video, que conta com a produção de Seth Rogen e Evan Goldberg, os mesmos deste filme. A dupla também é roteirista de "As Tartarugas Ninja - Caos Mutante", que estreia também nesta quinta-feira (31) nos cinemas.

Destaque para Woody Norman, que pelo visto gostou de fazer o gênero - este é o segundo filme de terror este ano. O primeiro foi "Drácula - A Última Viagem do Deméter", que entrou em cartaz nos cinemas na semana passada. Também fazem parte do longa Cleopatra Coleman (a professora Miss Devine) e Ellen Dublin (a voz vinda da parede do quarto de Peter).


"Toc Toc Toc - Ecos do Além" não é um terror ruim, mas não provoca impacto, do tipo que faz a gente dar pulo na cadeira do cinema. Muito antes de a entidade dar as caras, o que acontece nos minutos finais, já dá para saber que não vai dar boa coisa para Peter. E agora, o que é capaz de provocar mais pavor: os pais do garoto ou a voz na parede? Só assistindo para saber.


Ficha técnica:
Direção: Samuel Bodin
Produção: Lionsgate, Vertigo Entertainment e Point Grey Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, terror

28 agosto 2023

As Tartarugas Ninja voltam às telas atualizada com menções a memes e TikTok

Animação é uma versão que tenta dialogar com as novas gerações (Fotos: Paramount Pictures)


Eduardo Jr.    


Quem viveu os anos 1980 e 1990 certamente ouviu falar ou se divertiu com as aventuras de Leonardo, Donatello, Raphael e Michelangelo. Agora, uma nova animação tenta refrescar um dos desenhos mais populares do século passado. 

Com distribuição da Paramount e da Nickelodeon, “As Tartarugas Ninja - Caos Mutante” ("Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem"), do diretor Jeff Rowe, estreia nos cinemas nesta quinta-feira (31). Para apresentar - e atualizar - a história do quarteto mutante às novas gerações, o longa vem recheado de referências pop. 


As quatro tartarugas adolescentes vivem nos esgotos com seu pai, Splinter, um homem-rato, que impede que os filhos se aproximem dos humanos para não serem maltratados e ordenhados por eles (sim, ordenhados). A única permissão é sair para “fazer as compras da casa”. 

Mas como adolescentes criam suas próprias regras, as tartarugas fazem da sua obrigação um ‘rolê’ animado, ao som de hip-hop e filmagens com celular. Em uma das escapadas para a superfície se metem em uma aventura que se transforma em missão para salvar Nova Iorque. 


A animação de Rowe traz algumas modificações em relação aos desenhos orginais. A começar pela presença de April O’Neil, que era uma jornalista ruiva, e agora é uma estudante negra aspirante a jornalista. 

O inimigo do grupo de heróis também é outro. E não há menção à organização ninja Clã do Pé, como havia na versão de 1980. 

Aqui, o pai e mestre Splinter aprendeu artes marciais em filmes e vídeos (fazer o quê, né, se as novas gerações aprendem tudo no YouTube, por que não vamos engolir essa?). 

Aliás, o nome do homem-rato é pouco mencionado na trama. Corre o risco de os mais jovens saírem do cinema sem nem lembrar qual o nome do pai das tartarugas ninja.   


O termo ‘mutante’ é a deixa para observarmos uma semelhança entre este filme e a consagrada franquia X-Men. Assim como os personagens da Marvel, as tartarugas também enfrentam outros mutantes e batalham para serem aceitas entre os humanos. 

As semelhanças não param por aí. O traço dos personagens se parece com rascunhos de desenhos, lembrando o estilo utilizado em “Homem Aranha no Aranhaverso” (2018). Fica claro que há na proposta estética uma intenção de suavizar os heróis, enquanto o vilão é poluído, com traços mais grosseiros. 


Ainda assim, a obra derrapa nos gráficos em certos momentos. A mistura de traços imperfeitos somada à agilidade das cenas de ação pode deixar o espectador sem captar um detalhe ou outro do que passou na tela. 

A apresentação de alguns personagens também fica a desejar. A vilã Cynthia Utrom aparece na trama, mas não se sabe de onde ela veio ou qual a sua motivação. 

Situação similar a do vilão Supermosca, que não tem sua origem bem explicada. Resta ao espectador aguardar por uma continuação para ter as respostas (e esperar também as cenas pós-crédito, porque TEM). 


O longa acerta na abordagem da cultura pop, na discussão de pautas como bullying e preconceito, e no vocabulário dos personagens. Uma curiosidade interessante é que as vozes das tartarugas são de atores adolescentes, o que confere maior fidelidade ao que está sendo dito. 

A produção tem como roteiristas Seth Rogen e Evan Goldberg, que já criaram juntos vários roteiros de comédias, como "A Entrevista" (2014), "Vizinhos 2" (2016), e "Festa da Salsicha (2016). A dupla também produtora executiva do terror "Toc Toc Toc - Ecos do Além", que estreia nesta quinta-feira (31) nos cinemas.

No geral, o resgate de um desenho considerado clássico por alguns consegue divertir, explora a graça da adolescência, mas “As Tartarugas Ninja - Caos Mutante” poderia ser mais bem trabalhado.


Ficha técnica:
Direção: Jeff Rowe
Produção: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h19
Classificação: livre
País: EUA
Gêneros: animação, comédia, aventura, ação