15 setembro 2023

Longa “Sem Ar” é uma experiência claustrofóbica e angustiante

Suspense alemão se passa no fundo do mar envolvendo duas irmãs que viajam para mergulhar num lugar remoto (Fotos: Paris Filmes) 


Eduardo Jr.


Seria possível que, observando a imensidão do mar, nos sentíssemos presos? A resposta é SIM quando se fala do lançamento de “Sem Ar” (“The Dive”). O longa do diretor Maximilian Erlenwein, com distribuição da Paris Filmes, que estreou nos cinemas brasileiros nessa quinta-feira promete deixar o público angustiado, prendendo a respiração.    

Trata-se de um remake do longa sueco “Além das Profundezas” ("Breaking Surface"), que foi dirigido por Joachim Hedén, no ano de 2020. Mas nesta nova versão as personagens mudam de nome. As irmãs Drew (Sophie Lowe) e May (Louisa Krause) viajam para realizar um mergulho em um lugar remoto.


Após nadarem por uma caverna submersa, um deslizamento deixa May presa, quase 30 metros abaixo da superfície. Com pouco oxigênio, Drew começa uma corrida contra o tempo para salvar a irmã. 

O filme não tem divisões na tela, mas parece ter sido construído em atos. No primeiro deles, além da apresentação das personagens, fica no ar uma tensão, como se as duas irmãs não estivessem na mesma sintonia, apesar da viagem descontraída. 


No fundo do mar, o silêncio quebrado em alguns momentos pelas bolhas de ar e as passagens estreitas, iluminadas apenas pelas lanternas das mergulhadoras, dão indícios do que está por vir. 

Conforme esperado, o segundo ato traz o suspense. Embora o mergulho seja uma atividade conhecida de ambas, May fica presa e Drew precisa deixar a irmã sozinha debaixo d’água, para buscar ajuda e mais cilindros de oxigênio. 

É aí que começa a se revelar que algo do passado possa ser o motivo que fez com que as irmãs perdessem a conexão que tinham na infância. 


Na última parte de "Sem Ar", desespero e desânimo marcam presença na personagem de Louisa Krause. 

A colega Sophie Lowe também ganha pontos, ao imprimir na tela uma mudança de sua personagem, até então sem sorte e meio desastrada para alguém que parece saber como agir naquela situação. 


No todo, o filme a trilha sonora composta por Volker Bertelmann, é muito boa, daquelas que mal se percebe de tão alinhadas ss cenas. A locação é realmente linda. Mas não se animem, pois a tensão não se desgruda do filme. Respire fundo e vá ao cinema conferir esse suspense!


Ficha técnica:
Direção: Maximilian Erlenwein
Produção: Falkun Films, Augenschein Filmproduktion
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nas salas do Cineart Cidade e Cinemark Pátio Savassi
Duração: 1h31
Classificação: 12 anos
País: Alemanha
Gênero: suspense

14 setembro 2023

“A Noite das Bruxas” traz o sobrenatural para o universo do detetive Hercule Poirot

Filme com clima fantasmagórico refresca obra de Agatha Christie com algumas liberdades artísticas (Fotos: 20th Century Studios)


Eduardo Jr.


As adaptações de livros para as telonas ganharam mais um capítulo. A obra da vez leva a assinatura de uma velha conhecida de muitos leitores - e cinéfilos: Agatha Christie. Estreia nesta quinta-feira nos cinemas, “A Noite das Bruxas” (“A Haunting in Venice”), distribuído pela 20th Century Studios. 

O filme é dirigido e protagonizado por Kenneth Branagh ("Assassinato no Expresso do Oriente", 2017), e se veste de certas liberdades sobre as páginas da escritora britânica.    


Como não poderia deixar de ser, o longa traz a tradicional pergunta “quem matou?”. Mas esta é uma das poucas características mantidas em relação ao livro “Hallowe’en Party”, lançado em 1969. 

Autorizados por James Prichard, bisneto de Agatha Christie e produtor executivo do longa, Branagh e o roteirista Michael Green deixaram de lado a história original, em que uma garota conhecida por revelar assassinatos é encontrada morta em uma bacia com maçãs durante uma festa de Halloween. 


Em “A Noite das Bruxas”, a direção optou por apresentar essa morte como uma queda do alto de um casarão amaldiçoado. O evento pode ter sido motivado por fantasmas ou por alguém do mundo dos vivos. Outra mudança foi a de levar para a Itália a história que originalmente se passa na Inglaterra. 

Na trama, o detetive Hercule Poirot está aposentado e vive em Veneza, se esquivando dos pedidos dos moradores para solucionar casos complexos. Até que ele é convidado pela amiga e escritora Ariadne Oliver, personagem de Tina Fey (da série do Star+ "Only Murders in the Building", 2022) para uma sessão espírita.


A sessão será conduzida pela famosa médium Joyce Reynolds, vivida por Michelle Yeoh ("Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", 2022). E o que era uma missão para desmascarar uma médium, se transforma em uma investigação de assassinato com pitadas de thriller fantasmagórico.  

São apenas pitadas porque, embora o título “A Noite das Bruxas” evoque algum terror, o filme apresenta poucas cenas de susto. E o ceticismo do detetive também colabora para desafiar a possibilidade de o sobrenatural interferir no mundo dos vivos. Até que as crenças dele começam a ser desafiadas, mexendo com a cabeça do espectador.  


O longa inicia com uma determinada atmosfera e depois vai se transformando. Isso porque as cenas iniciais são mais solares e o protagonista é apresentado como figura metódica (quase cômica, eu diria) com suas manias e atração por doces. 

A música clássica também traz um clima de suspense, que dura pouco, por causa da encenação infantil preparada para a festa das bruxas. Mas não se engane, embora seja um teatrinho pra crianças, esta é só uma deixa do que está por vir. 


Apesar dessas percepções, este é o longa que melhor apresenta o clima das obras de Agatha Christie e o detetive Hercule Poirot na trilogia feita por Branagh. Explico: esta é a terceira vez que o ator e diretor irlandês adapta uma obra da escritora britânica. 

Além de “Assassinato no Expresso Oriente”, ele também adaptou e dirigiu “Morte no Nilo” em 2022, ambos no catálogo da Star+. Agora, a escolha de filmar em um casarão sombrio durante uma tempestade, com câmeras posicionadas de forma a reforçar que ali as coisas estão fora do normal, tira o público do estado de relaxamento. 


Soma-se a isso o jogo de investigação, a dúvida sobre a ocorrência ou não de eventos sobrenaturais, o questionamento da própria sanidade mental e o incômodo de suspeitar de todas as personagens - eu disse TODAS, sem exceção. 

Pode não ser a melhor adaptação de Agatha Christie, mas a diversão é garantida - e o final guarda surpresas. 


Ficha técnica:
Direção: Kenneth Branagh
Produção: Scott Free Productions, 20th Century Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h43
Classificação: 12 anos
País: Estados Unidos
Gêneros: suspense, policial, drama