29 setembro 2023

"Notícias Populares" resgata o jornalismo sensacionalista dos anos 1990

Série nacional celebra os 25 anos do Canal Brasil com sete episódios a cada sexta-feira, a partir de hoje
(Fotos: Arthur Costa/Canal Brasil)


Eduardo Jr.


O jornal “Notícias Populares”, que fez fama em São Paulo pelas manchetes e pautas escandalosas, está de volta aos holofotes. Mas agora em formato audiovisual. A publicação, que circulou entre 1963 até 2001 virou série, batizada com o mesmo nome. A estreia acontece nesta sexta-feira (29) e a primeira temporada tem sete episódios gravados, com exibição a cada sexta-feira, sempre às 22h30.

A produção é parte das comemorações dos 25 anos do Canal Brasil e também será disponibilizada no Globoplay +. André Barcinski e Marcelo Caetano assinam a criação e o roteiro da obra, que traz de volta algumas das matérias que viralizaram (antes mesmo de o termo entrar na moda).


Para quem não conheceu o jornal, será a chance de se espantar e se divertir com casos como o do “bebê diabo”, a “revolta das prostitutas”, ou tentar desvendar alguns easter eggs, como o da atriz da novela das oito que mantinha um romance regado a drogas com outro ator durante as gravações.

Caminhando entre a comédia e o absurdo, a série traz sete capítulos, de aproximadamente 45 minutos cada. A história se passa em 1993, uma época em que assinatura de jornal não era tendência, sendo preciso fazer com que as notícias vendessem o máximo possível de jornais impressos. 

“Notícias Populares” é uma série de ficção, baseada no humor popular e nos excessos. Um exemplo disso vem logo nas primeiras cenas, que mostram um homem de cueca em pleno ambiente de trabalho, e na parede, muita mulher pelada. Está dado o recado de que aquele é um ambiente machista.


A trama começa a se movimentar com a chegada de uma correspondente internacional, que sai de Paris para modernizar o jornal (que é uma subdivisão de menor prestígio da Folha de São Paulo). 

O editor Matias, vivido por Rui Ricardo Diaz (“Lula, O Filho do Brasil”, 2009), apresenta essa nova colega como uma profissional que veio “direto do rio Sena para o rio Tietê”.

A reação de incredulidade que temos diante dessa frase é a mesma que se estampa no rosto da jornalista Paloma Fernandes, personagem da atriz Luciana Paes (“Divórcio”, 2017) ao se deparar com aquela redação bagunçada. 

E a redação é um caso à parte. O cenário poluído, com muitas cores, foi reconstruído no prédio da Folha de São Paulo, a partir de imagens da antiga sala onde o jornal funcionou.


Também foram resgatados alguns objetos originais da equipe do "NP". Chega a lembrar Almodóvar. Inclusive, uma das personagens do cineasta espanhol, Andrea Caracortada (papel de Victoria Abril, no filme “Kika”, 1993), serviu de inspiração para Bruna Linzmeyer (“O Filme da MinhaVida”, 2017) dar vida a Rata, uma repórter de TV que atravessa o caminho do periódico.

O jornal marcou seu nome na história não só por trazer assuntos que paralisavam trabalhadores em frente às bancas de revistas, mas também por falar a língua do povo, se distanciando das redações silenciosas e sem emoção, frequentemente retratadas em Hollywood.

Na coletiva on-line para lançamento da série, conversamos com os diretores e elenco, e descobrimos que o "NP" teve a primeira colunista social negra. O papel da personagem Greta ficou a cargo da atriz Ana Flávia Cavalcanti (“Corpo Elétrico”, 2017).


O elenco conta também com Ary França (“45 do Segundo Tempo”, 2022) e Rejane Faria (“Marte Um”, 2022). A atriz mineira vive a fotógrafa Marina, e por meio dela se percebe que o "Notícias Populares" atuava numa ética diferente. 

Em nome de uma boa foto, ela pede pra polícia alterar uma cena de crime, virando para a câmera o rosto de um bandido, morto por um justiceiro que era considerado herói na comunidade.

Com isso, a série nos convida a refletir que isto não é fator de condenação para o jornal. Segundo Rui Ricardo Diaz, o "NP" era um microcosmo do país. 

Se, assim como nos anos 1990, ainda hoje convivemos com pedidos de vingança contra a criminalidade, com manchetes que parecem ter sido inventadas de tão absurdas, o jornal está errado em refletir aquilo que somos enquanto sociedade?


A criação de conteúdo e os métodos de investigação do “Notícias Populares” foram traduzidos para as gerações atuais graças ao conhecimento do diretor. 

Barcinski foi repórter do “NP” e, além de ter vivido parte daquela história, pesquisou mais de mil exemplares para selecionar quais seriam as histórias representadas na série. O resultado promete divertir.

Nos episódios liberados para a equipe do Cinema no Escurinho, algumas subtramas ficam pelo caminho, mas é possível que sejam esmiuçadas no futuro, caso se concretize uma segunda temporada. 

A gerente de programação, aquisições e projetos do Canal Brasil, Marina Pompeu, disse que será preciso um teto financeiro mais favorável para executar uma continuação da série. Para um jornal que estampou na capa a espantosa manchete “Jacaré cocô levou meu filho”, material é que não falta!


Ficha técnica:
Direção: André Barcinski e Marcelo Caetano
Produção: Kuarup Produção e Canal Brasil
Exibição: todas as sextas-feiras, no Canal Brasil, com reprises nas segundas, às 2h15; terças, às 21h45; madrugadas de quarta para quinta, à meia-noite
Duração: 45 minutos
País: Brasil
Gênero: comédia

28 setembro 2023

"Jogos Mortais X" volta ao passado e se reinventa como franquia

Décimo capítulo se passa entre os eventos do primeiro e segundo filmes e resgata o assustador Jigsaw (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


O mais novo capítulo da franquia "Jogos Mortais X" ("Saw X") chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, com uma boa novidade: o retorno do ator Tobin Bell, interpretando John Kramer/Jigsaw. Também no elenco principal estão Steven Brand, Synnøve Macody Lund e Shawnee Smith. 

O diretor Kevin Greutert retorna em um filme icônico, cheio de simbolismo e de toda mitologia da franquia construída até aqui. E o público ainda poderá assistir este filme com ingressos a preços populares de R$ 12,00 na Semana do Cinema, que acontece de hoje a 4 de outubro em dezenas de salas do país.


Em "Jogos Mortais X", que se passa entre os eventos do primeiro e do segundo filmes, vemos Kramer, mais velho, doente e desesperado, que parte em uma viagem para o México em busca de um procedimento experimental e uma cura milagrosa para seu câncer. 

Ao descobrir que toda a operação é, na verdade, um golpe, Jigsaw entra em cena para vingar todos os que fizeram mal a ele e a todas as vítimas inocentes mortas. Em um jogo brutal, o protagonista cria armadilhas mais cruéis e dementes do que nunca. Este episódio é o primeiro que se passa no México.

O ritmo do filme é um pouco lento no início, dando a impressão de que as coisas não vão acontecer. Esse talvez seja um ponto negativo do roteiro, que se perde em relação à linha de ação que nosso protagonista irá focar. 


No entanto, a forma como John Kramer busca sua cura é muito bem apresentada, dando tempo para o público entender seu problema. Também temos participações especiais de personagens que marcaram a franquia, o que deverá agradar quem acompanha "Jogos Mortais" nesses quase 20 anos.

As armadilhas e os jogos mantêm sua essência e há um esforço notável para agradar aos fãs, incluindo a presença icônica do boneco em cima da bicicleta velha e as gravações com a voz de Jigsaw usando o jargão "Eu quero jogar um jogo com você". 

A trilha sonora clássica também está presente, embora com uma roupagem nova. A espinha dorsal do que torna "Jogos Mortais" único está bem representada e é um prato cheio para os fãs.


Talvez este seja o filme que mais nos faz questionar quem é o mocinho e quem é o vilão, devido à forma como o roteiro apresenta os personagens. Isso se aplica principalmente ao novo grupo de atores que injeta energia nesse jogo repleto de aflição. Destaque para a dra. Cecília Pederson (Synnøve Macody Lund), a enfermeira Valentina (Paulette Hernandez), Gabriela (Renata Vaca) e seu amante cirurgião Mateo (Octavio Hinojosa).

Arrisco dizer que este é o episódio de "Jogos Mortais" mais pessoal de toda a jornada de John Kramer até agora, explorando questões morais e éticas ao longo da franquia. Sem dúvida, o décimo capítulo traz muitas novidades, especialmente em seu ato final, com reviravoltas surpreendentes e um desfecho digno de continuação. 


A direção de Kevin Greutert é respeitosa com a franquia, especialmente porque ele já dirigiu alguns capítulos anteriores, como "Jogos Mortais 6" (2009) e "Jogos Mortais: O Final" (2010), demonstrando maestria e familiaridade ao retornar com o famoso personagem após quase 13 anos longe das telas. 

Este filme funciona bem por si só, sendo uma ótima oportunidade para novos fãs conhecerem a franquia, embora seja importante estar preparado. "Jogos Mortais" não é para os fracos de estômago, apresenta cenas de tortura de diversas formas, com muito sangue que causam repugnância. 

No entanto, o enredo é bem construído e repleto de reviravoltas, tornando cada jogo mais tenso e fazendo com que questionemos se as pessoas merecem ou não passar por esses desafios para sobreviver. Dito isso, fica o aviso.


"Jogos Mortais X" consegue se reinventar, mesmo que voltando ao passado para explicar suas motivações. O sucesso de crítica e de bilheteria é quase certo. É importante mencionar que o filme possui duas cenas pós-créditos curtas, mas que ajudam a conectar com outras produções da franquia. Estas cenas dão pistas sobre o que podemos esperar no futuro, incluindo personagens icônicos, principalmente do primeiro filme, dirigido por James Wan em 2004. 

Para um melhor aproveitamento do filme, as redes Cinemark e Cinépolis contarão com sessões D-BOX e 4DX respectivamente, em versões dubladas e legendadas. O filme também está em exibição em sessões 2D nas salas da rede Cineart.


Ficha técnica:
Direção: Kevin Greutert
Produção: Lionsgate e Twisted Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h58
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense