16 novembro 2023

"Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e Serpentes" traça paralelos entre paixão, ambição e sobrevivência

Filme é dirigido por Francis Lawrence, o mesmo diretor dos outros quatro longas da franquia (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Larisssa Figueiredo


Um dos pontos mais fortes da franquia "Jogos Vorazes" é a forma como os personagens são construídos e aprofundados com complexidade, estreitando a linha de separação entre os mocinhos e vilões. Em "A Cantiga dos Pássaros e Serpentes" ("The Hunger Games – The Ballad of Songbirds and Snakes"), filme prequel da franquia que estreou nos cinemas, acompanhamos o tirânico presidente Snow aos 18 anos, atormentado pela pobreza e miséria na Panem pós-guerra, quando vê uma chance de mudar sua realidade se tornando o mentor de Lucy Gray Baird, o tributo feminino do Distrito 12.

 

O elenco do longa-metragem é composto por grandes nomes como Viola Davis (Dra. Gaul), Peter Dinklage (Reitor Highbottom) e Hunter Schafer (Tigris Snow), mas o destaque vai para Tom Blyth, que incorporou os dilemas e contradições do jovem Coriolanus Snow.  

Dar vida a um personagem complexo que foge aos arquétipos óbvios hollywoodianos é um desafio que foi executado com maestria pelo ator britânico. Snow, ainda que querendo salvar sua família da pobreza, já mostrava frieza, sinais de tirania e desejo de poder irrestrito e, mesmo assim, Blyth consegue trazer ternura, simpatia e até empatia para Snow do início ao fim do filme. 


Já a protagonista Lucy Gray Baird foi interpretada por Rachel Zegler, amplamente criticada pelos fãs da saga nas redes sociais quando a escolha foi divulgada. Lucy é uma personagem imprevisível, intensa, cheia de emoções, que representa um mártir na própria narrativa, esses aspectos parecem ter dificultado a imersão de Zegler na personagem. 

A atriz exagera nas “caretas” e não soa natural na pele de Lucy Gray nos momentos de maior tensão. Apesar disso, Rachel Zegler é dona de uma voz exuberante e entrega performances de alto nível nas cenas em que aparece cantando e tem uma química inegável com seu par, Tom Blyth. 


Por falar em música, mais uma vez a franquia evidenciou a preocupação em apresentar uma trilha sonora original de primeira qualidade, que ficou a cargo de James Newton Howard ("Operação Red Sparrow" -2018). 

Além da icônica contribuição de Rachel Zegler em “The Hanging Tree”, música escrita pela autora dos livros, Suzanne Collins, e também interpretada por Jennifer Lawrence (Katniss Everdeen) em "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1", “Can't Catch Me Now”, da cantora pop Olivia Rodrigo, ganhou destaque como composição original para o longa. 


O filme é dirigido por Francis Lawrence, o mesmo diretor dos outros quatro longas da franquia e tem produção executiva de Suzanne Collins. O roteiro começa dinâmico e envolvente, mas perde o ritmo do meio para o final, aspecto que é um desafio para diversas adaptações literárias. 

O longa é um dos mais brutais entre as produções de "Jogos Vorazes", com direito a mortes marcantes e muita violência, sem deixar de ser político e inteligente, escancarando as engrenagens da espetacularização por trás dos jogos. 


A montagem de "A Cantiga dos Pássaros e Serpentes" chama atenção pela riqueza de planos sequência bem elaborados que imergem o espectador para dentro do filme. A fotografia e os cenários, em sua maioria na Polônia, não deixam dúvidas para afirmar a qualidade estética do longa-metragem, cheio de referências visuais dos símbolos da franquia, como a árvore e os tordos.  

O filme prequel trouxe a completude que faltava ao universo de "Jogos Vorazes", proporcionando ainda mais profundidade à narrativa de Snow, um dos grandes protagonistas da franquia. 


Ficha técnica:
Direção: Francis Lawrence
Produção: Lionsgate, Color Force
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h38
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: Ficção, ação, aventura
Nota: 4 (0 a 5)

14 novembro 2023

"O Famoso Alfaiate" - Costurando presente, passado e futuro

Série turca está na terceira temporada, com recomeços, retrocessos e mudanças de planos (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro


Gatilhos sobre traumas infantis, saúde mental, pessoas com deficiência, violação de direitos fundamentais, direitos femininos e tradições. Esses são alguns temas abordados na série turca "O Famoso Alfaiate" ("Terzi"), da Netflix. A terceira temporada já está disponível e marca recomeços, retrocessos e mudanças de planos. 

Rana Mamatlıoğlu e Bekir Baran Sıtkı foram responsáveis pela adaptação do roteiro inspirado no terceiro livro da famosa escritora Gülseren Budayıcıoğlu, intitulado "Hayata Dön". A mente por trás da série é Onur Güvenatam, enquanto o experiente diretor Cem Karci assumiu a responsabilidade pelo projeto. 


Na história, Dimitri, que ganha vida por meio da interpretação do conhecido Salih Bademci, e Peyami Dokumati, interpretado pelo renomado ator Çağatay Ulusoy, da série o "Último Guardião", são dois amigos de infância que crescem com suas questões dolorosas, e se tornam sócios bem sucedidos. 

Peyami é um estilista silencioso, detalhista, seu trabalho funciona como termômetro para sua vida. Um homem de olhar triste que enfrenta conflitos em relação à condição de seu pai e à sua própria origem. Mas quem seria a mãe de Peyami? E por quais motivos seus avós o protegeram tanto? 

Entre o mundo da moda, da alta costura, das linhas, agulhas, tecidos e do segredo sobre algo que o envergonha e aterroriza, ele busca refúgio em pequenos detalhes que podem o ajudar a desvendar a própria história.


Enquanto isso, Dimitri é um cara explosivo, narcisista que se sente atormentado e que, não raras vezes, atormenta a vida de todos, incluindo seu amigo Peyami. No entanto, o diretor mantém essa conturbada amizade, como o pilar da história. Conexos, ambos seguirão seus traumas. 

De um lado, a solidão de Peyami, do outro o caos de Dimitri, até que uma bela jovem, vivida por Şifanur Gül, de "The Red Room", se transformará nos pontos fortes e fracos de ambas as famílias. Quem é essa mulher? Qual sua origem?  E como ela se relaciona com a história de Peyami? Por causa dela, qual será o destino da amizade de Peyami e Dimitri? 


São nesses mistérios e incertezas que o telespectador se mantém cativo e ansioso para descobrir as lacunas que surgem ao longo da história. 

Destaque para o embate entre Dimitri e Peyami, o desfecho da relação de Peyami com seus pais e a solução ao destino do genitor com seu passado e com seu lugar na história da família. 

Em algumas partes da narrativa há uma certa delonga e indicações desconexas que podem deixar o telespectador confuso, porém, apesar desses detalhes, "O Famoso Alfaiate" é uma série sentimentalmente explosiva, com discussões importantes, uma belíssima fotografia e uma arrojada trilha sonora que merecem sua atenção.


Ficha técnica:
Criação: Onur Güvenatam
Produção: OGM Pictures
Exibição: Netflix
Duração: 16 episódios - 3 temporadas
Classificação: 14 anos
País: Turquia
Gêneros: drama, romance