19 novembro 2023

"A Sombra de Caravaggio" revela o artista para além de suas telas

Gênio do século XVII, o pintor é protagonizado com maestria pelo ator italiano Riccardo Scamarcio (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Em sua segunda semana de exibição, um dos filmes inéditos selecionados para o Festival de Cinema Italiano é "A Sombra de Caravaggio" ("L'Ombra di Caravaggio"), que pode ser conferido, de graça, até o dia 9 de dezembro no site oficial do evento - https://festivalcinemaitaliano.com/

Dirigido por Michele Placido, o filme aborda um período crucial na vida do renomado pintor, oferecendo uma perspectiva diferente, mais humana e rebelde. 

Ao ambientar-se em 1609, a obra retrata a inquietude de Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio, e como suas obras desafiavam até mesmo a igreja católica, revelando sua genialidade.


Para além das polêmicas que cercavam o artista, o longa destaca não apenas a importância de suas pinturas, mas também a figura de Caravaggio como um "pai para os marginalizados". Ao retratar bandidos, prostitutas e ladrões de maneira sacra, ele provocou a ira da igreja, que passou a persegui-lo. 

Riccardo Scamarcio incorpora com maestria a intensidade do personagem, que tinha uma abordagem forte, debochada e que buscava justiça por meio de suas artes.

"Narciso",  pintura de Caravaggio

A personalidade galante de Caravaggio, sempre envolvido com várias mulheres, é bem interpretada, especialmente por Isabelle Huppert como Costanza Colona, esposa do pintor. Colona destaca-se por sua simplicidade, força e paixão pelo artista, mesmo quando a relação parecia destinada a desmoronar. 

Outras duas mulheres importantes na vida do pintor, Anna Bianchinni e Lena, demonstram tanto poder de sedução quanto disposição em defender o amante diante das tentativas da Igreja Católica de condená-lo à morte.


O filme também ressalta outro personagem importante que contrasta com o protagonista, proporcionando um duelo bem construído, especialmente em seu desfecho, revelando o legado deixado pelo pintor Michelangelo Merisi.

A direção de fotografia, sob a precisão de Michele D'Attansio, é uma obra à parte, explorando com precisão o estilo barroco para criar nuances de tons e sombras na tela. Chama atenção também a reprodução do figurino de época empregando tons mais neutros e frios, que acompanha a obra do pintor.

"Fausto", pintura de Caravaggio

No entanto, dois pontos negativos merecem menção. A passagem de tempo, que por vezes, torna-se confusa, já que as cenas cortadas não fornecem uma clara indicação da época. Isso deixa o espectador perdido, especialmente quando são introduzidos novos personagens.

Apesar destas ressalvas, "A Sombra de Caravaggio" é, sem dúvida, um filme que merece ser assistido para compreender mais profundamente essa figura controversa e crucial na história da arte.


Ficha técnica:
Direção: Michele Placido
Exibição: de graça no site https://festivalcinemaitaliano.com/
Duração: 2 horas
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gênero: drama

16 novembro 2023

"Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e Serpentes" traça paralelos entre paixão, ambição e sobrevivência

Filme é dirigido por Francis Lawrence, o mesmo diretor dos outros quatro longas da franquia (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Larisssa Figueiredo


Um dos pontos mais fortes da franquia "Jogos Vorazes" é a forma como os personagens são construídos e aprofundados com complexidade, estreitando a linha de separação entre os mocinhos e vilões. Em "A Cantiga dos Pássaros e Serpentes" ("The Hunger Games – The Ballad of Songbirds and Snakes"), filme prequel da franquia que estreou nos cinemas, acompanhamos o tirânico presidente Snow aos 18 anos, atormentado pela pobreza e miséria na Panem pós-guerra, quando vê uma chance de mudar sua realidade se tornando o mentor de Lucy Gray Baird, o tributo feminino do Distrito 12.

 

O elenco do longa-metragem é composto por grandes nomes como Viola Davis (Dra. Gaul), Peter Dinklage (Reitor Highbottom) e Hunter Schafer (Tigris Snow), mas o destaque vai para Tom Blyth, que incorporou os dilemas e contradições do jovem Coriolanus Snow.  

Dar vida a um personagem complexo que foge aos arquétipos óbvios hollywoodianos é um desafio que foi executado com maestria pelo ator britânico. Snow, ainda que querendo salvar sua família da pobreza, já mostrava frieza, sinais de tirania e desejo de poder irrestrito e, mesmo assim, Blyth consegue trazer ternura, simpatia e até empatia para Snow do início ao fim do filme. 


Já a protagonista Lucy Gray Baird foi interpretada por Rachel Zegler, amplamente criticada pelos fãs da saga nas redes sociais quando a escolha foi divulgada. Lucy é uma personagem imprevisível, intensa, cheia de emoções, que representa um mártir na própria narrativa, esses aspectos parecem ter dificultado a imersão de Zegler na personagem. 

A atriz exagera nas “caretas” e não soa natural na pele de Lucy Gray nos momentos de maior tensão. Apesar disso, Rachel Zegler é dona de uma voz exuberante e entrega performances de alto nível nas cenas em que aparece cantando e tem uma química inegável com seu par, Tom Blyth. 


Por falar em música, mais uma vez a franquia evidenciou a preocupação em apresentar uma trilha sonora original de primeira qualidade, que ficou a cargo de James Newton Howard ("Operação Red Sparrow" -2018). 

Além da icônica contribuição de Rachel Zegler em “The Hanging Tree”, música escrita pela autora dos livros, Suzanne Collins, e também interpretada por Jennifer Lawrence (Katniss Everdeen) em "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1", “Can't Catch Me Now”, da cantora pop Olivia Rodrigo, ganhou destaque como composição original para o longa. 


O filme é dirigido por Francis Lawrence, o mesmo diretor dos outros quatro longas da franquia e tem produção executiva de Suzanne Collins. O roteiro começa dinâmico e envolvente, mas perde o ritmo do meio para o final, aspecto que é um desafio para diversas adaptações literárias. 

O longa é um dos mais brutais entre as produções de "Jogos Vorazes", com direito a mortes marcantes e muita violência, sem deixar de ser político e inteligente, escancarando as engrenagens da espetacularização por trás dos jogos. 


A montagem de "A Cantiga dos Pássaros e Serpentes" chama atenção pela riqueza de planos sequência bem elaborados que imergem o espectador para dentro do filme. A fotografia e os cenários, em sua maioria na Polônia, não deixam dúvidas para afirmar a qualidade estética do longa-metragem, cheio de referências visuais dos símbolos da franquia, como a árvore e os tordos.  

O filme prequel trouxe a completude que faltava ao universo de "Jogos Vorazes", proporcionando ainda mais profundidade à narrativa de Snow, um dos grandes protagonistas da franquia. 


Ficha técnica:
Direção: Francis Lawrence
Produção: Lionsgate, Color Force
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h38
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: Ficção, ação, aventura
Nota: 4 (0 a 5)