03 janeiro 2024

"O Melhor Está Por Vir" une homenagem ao cinema e relato pessoal do diretor

Nanni Moretti interpreta um diretor de cinema com dificuldades para concluir seu filme sobre o partido comunista italiano (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Eduardo Jr.


Se a realidade é dura, no cinema é possível encontrar a satisfação. Essa pode ser uma das conclusões do filme "O Melhor Está Por Vir" ("Il Sol dell’Avvenire"). Nanni Moretti dirige, colabora no roteiro e é o protagonista do longa, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (4), distribuído pela Pandora Filmes. 

Moretti encarna o diretor de cinema Giovanni, que deseja fazer um filme ambientado na Roma dos anos 1950 sobre a posição do partido comunista da Itália durante a invasão da Hungria pela União Soviética. No entanto, a obra tem dificuldades para ser finalizada porque o diretor controla o set, mas não algumas situações da vida real. 


Para concluir seu longa-metragem, Giovanni precisa lidar com questões financeiras, com um mundo que não se importa com o passado histórico retratado na obra, uma atriz que tem outra visão sobre o filme, as transformações do mercado de audiovisual e o fim do seu casamento. 

Se na vida particular ele é controlador e não se atenta aos sentimentos nem às relações, no filme dentro do filme o romance também é sufocado. O protagonista (que leva o mesmo nome do diretor) é focado em seu trabalho no jornal, ignorando o interesse da mulher recém-chegada que se torna integrante da equipe. 


As histórias vão se alternando na tela. Embora estejam bem separadas, parecem conter elementos uma da outra, como a arte imitando a vida. Soa até biográfico em alguns momentos (até porque o nome de Nanni Moretti também é Giovanni). É uma homenagem à sétima arte e também um relato confessional. 

As críticas contidas no longa parecem pessoais. Como, por exemplo, as colocações do protagonista sobre a violência no cinema moderno. A autocrítica também se apresenta, por meio da arrogância no ambiente majoritariamente masculino do set, pela ousadia de querer dar palpite, interferir nas escolhas profissionais de outras pessoas.  


Ainda assim, o longa é uma comédia com tom sentimental. Não oferta muitas expectativas ou reviravoltas, mas apresenta momentos divertidos. A cena do protagonista cantando no carro e dos demais atores fazendo um coro alegra a obra. 

Também explicam um pouco do que a trama apresenta. Se o longa realmente merece os elogios recebidos desde sua estreia em Cannes, só indo ao cinema pra tirar suas conclusões. 


Ficha técnica:
Direção: Nanni Moretti
Produção: Rai Cinema, France 3 Cinema, Fandango, Sacher Film, Le Pacte
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nas salas do UNA Cine Belas Artes e Centro Cultural Unimed-BH Minas
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos
Países: Itália e França
Gêneros: comédia, drama

01 janeiro 2024

Tatá Werneck e Ingrid Guimarães têm a química perfeita do humor em "Minha Irmã e Eu"

Longa dirigido por Susana Garcia é muito divertido, tem emoção e ainda atores e cantores tarimbados do passado e do presente
(Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


Garantia de boas gargalhadas e também momentos de emoção. Ingrid Guimarães e Tatá Werneck têm a química perfeita para divertir o público na comédia "Minha Irmã e Eu", em cartaz nos cinemas. São quase duas horas de trapalhadas, diálogos escrachados, com duplo e até triplo sentido e situações tão ridículas que fica impossível não rir (e muito).

A diretora Susana Garcia ("Minha Mãe é Uma Peça 3" - 2019, "Minha Vida em Marte" - 2018) acertou novamente na escolha do elenco e do roteiro, entregando um longa que deixa a gente leve quando sai do cinema, especialmente pela interpretação das duas comediantes protagonistas. 


Tatá interpreta Mirelly, a irmã caçula, que mora no Rio de Janeiro, se passa por descolada, amiga de famosos, vivendo de luxo e glamour. Puro "fake". 

Mentirosa compulsiva, mora num "apertamento", vive de bicos pra se sustentar e faz postagens arranjadas para se dar bem nas redes sociais. Ela é a mais doida das duas, mas também a que entrega as cenas e diálogos mais divertidos do filme.

Ingrid é Mirian, a mais velha, que nunca saiu de Rio Verde no interior de Goiás, vive para o lar, é casada com Jayme (Márcio Vito), tem dois filhos - Jayme Jr. e Marcelly - e cuida da mãe Dona Márcia, a tarimbada Arlete Salles. 


Mirian representa bem a esposa certinha, mas insatisfeita, que gostaria de ter a vida da irmã, apesar de estar sempre às turras com ela. E para desilusão de Dona Márcia, as filhas nunca realizaram seu sonho de formarem uma dupla sertaneja.

As duas quase não se encontram, até que uma discussão no lugar errado e na hora errada entre as irmãs leva Dona Márcia a desaparecer. Começa aí o Road movie de Miriam e Mirelly.


Em busca da mãe perdida, a dupla vai percorrer as estradas de Goiás de carro, a pé, de bicicleta, em caminhão pau-de-arara, o transporte que aparecer na hora. E por onde passam, vão deixando um rastro de boas risadas.

Bastariam as duas atrizes para o filme ter tudo para ser bom, mas o elenco ainda ganha peso com a participação de Lázaro Ramos e Taís Araújo, no papel deles mesmos, o grande Antônio Pedro, que infelizmente morreu em março deste ano, além de Leandro Lima, que faz o papel do cowboy sarado, e o colunista Hugo Gloss. 


Na parte musical, como participações especiais, estão a cantora Iza e a dupla Chitãozinho e Xororó, que tem uma história passada com Dona Márcia.

Durante sua jornada, a partir do Rio de Janeiro, de onde Mirelly agora precisa fugir por uns tempos, as duas irmãs vão conhecendo e encontrando personagens, retomando a amizade de infância e descobrindo uma nova realidade.


Além das belas locações da região Centro-Oeste do pais, "Minha Irmã e Eu" foi muito bem dirigido por Susana Garcia a partir de um roteiro leve e cativante. Como se os roteiristas estivessem contando suas próprias experiências familiares. 

Ele é isso, um filme produzido para divertir toda a família, falando sobre a relação entre mães e filhos e, especialmente, entre irmãs, com direito a brigas, picuinhas e acertos. Mas não mexa com uma delas, porque com certeza vai arranjar problema com a família toda. Não perca nos cinemas, vale muito a pena.


Ficha técnica:
Direção: Susana Garcia
Ideia original: Ingrid Guimarães e Tatá Werneck
Roteiro: Célio Porto, Ingrid Guimarães, Veronica Debom, Leandro Muniz
Produção: Paris Entretenimento, com coprodução da Paramount Pictures, Telecine, Simba e Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h52
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: comédia nacional
Nota: 4 (0 a 5)