13 janeiro 2024

Premiada, mas confusa e reticente, a série “O Urso” é um prato cheio de metáforas

Tensão constante, brigas, suicídio, pancadarias e conflitos familiares marcam as duas temporadas disponíveis na plataforma Star Plus (Fotos: FX/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


A primeira dúvida a confundir a cabeça do espectador que começa a assistir à premiada série “O Urso” (“The Bear”, exibido no Star Plus) é quando se descobre que a produção é classificada como comédia. 

Definitivamente, não é o que parece. Tensão constante, brigas, suicídio, pancadarias e conflitos familiares desmentem qualquer clima de amenidades já nos primeiros dos 18 episódios distribuídos em duas temporadas. O trabalho é uma criação da dupla Christopher Storer e Joanna Galo.


Com o suicídio do irmão Mike (Jon Bernthal), Carmy (Jeremy Allen White) volta a Chicago com a missão de reerguer a lanchonete decadente da família falida e endividada. 

A missão é dificílima, pra não dizer impossível para esse chef conceituado e estrelado, que trabalhou nos melhores restaurantes dos Estados Unidos. Mas ele precisa topar e começa um trabalho penoso com a equipe indisciplinada e ignorante que encontra na casa.


Os capítulos iniciais, repletos de brigas e gritarias, podem desanimar o espectador. São tantos e tão repetidos os embates entre Carmy e seu primo Rick (Ebon Moss-Bachrach), que cria-se uma expectativa de que algo mais dramático está para acontecer. Só que não. 

Quem teima em continuar, vai percebendo, aos poucos, que nada acontece. A entrada em cena de uma outra chef, Sidney (Ayo Edebiri) só confirma a confusão generalizada. 

Enquanto isso, o público vê longas tomadas de uma Chicago movimentadíssima, com seus trens, metrôs, elevados, túneis e viadutos. Os episódios vão passando, mas pouco se esclarece. 


Os diálogos são sempre reticentes e a pergunta que mais se ouve é: “Você está bem?” Claro que a série é repleta de metáforas, mas a forma como elas se apresentam, muitas vezes em situações que beiram o surreal, não ajudam.

É como se a vida fosse uma cozinha de restaurante, com suas necessidades, atropelos, falhas, conflitos, ciúmes, urgências. “Cada segundo conta” é a máxima exaustivamente repetida entre chefs, auxiliares e atendentes. Fala-se também muito do valor dos detalhes e do prazer de servir. Mas muitas pontas permanecem soltas.


Um conselho: não assista a “O Urso” com fome. Constantemente, alguém está cortando algum alimento, assando uma carne, fritando alguma delícia, fazendo um molho, montando um prato. Nesse quesito, a série ganha nota 10. São maravilhosas e irresistíveis as preparações. De dar água na boca. 

Em certo momento, sem nenhuma explicação prévia, Marcus (Lionel Boyce), um dos auxiliares, vai para a Dinamarca fazer o que parece ser um estágio só de sobremesas. Prato cheio para quem curte gastronomia. Dá gosto ver as minúcias, os detalhes quase cirúrgicos das montagens dos pratos. Verdadeiro espetáculo!

O grande trunfo de “O Urso”, pelo menos nas duas temporadas disponíveis no Star Plus, é mesmo o carisma do elenco, que dá show do começo ao fim. Não por acaso, Jeremy e Ayo acabam de ganhar o Globo de Ouro de Melhores Ator e Atriz em série de comédia – acreditem.


Brilham também e merecem aplausos Abby Elliott como a irmã Natalie de Carmy, Chris Witaske como o cunhado bonzinho Pete, Matty Mathelson como o ajudante Neil Kak, Jon Bernthal como o irmão suicida Mike, Oliver Platt como o tio capitalista Jimmy, Liza Colón-Zayas como a ajudante Tina – que mereceu grande parte de um capítulo se exibindo como cantora num caraoquê qualquer. 

É preciso registrar a “canja” luxuosa de Joel McHale, conhecido apresentador da TV americana e de ninguém menos do que Olivia Colman. Ambos são chefs em Nova York e ajudam na formação do rebelde Rick.

Que venha, portanto, uma terceira e – quem sabe – esclarecedora temporada para matar a fome do espectador de uma trama mais bem amarrada, situações mais reais e até algum romance. Cabe dizer que o primeiro beijo da série só vai acontecer no quinto episódio da segunda temporada, quando Carmy reencontra Claire (Molly Gordon). Afinal, a gente não quer só comida.


Ficha técnica:
Criação: Christopher Storer e Joanna Galo
Produção: Hulu
Exibição: Star Plus
Duração: 2 temporadas - 18 episódios
País: EUA
Gêneros: comédia, drama

11 janeiro 2024

Jason Statham deixa rastro de sangue em "Beekeeper - Rede de Vingança"

Ator interpreta um apicultor que faz justiça com as próprias mãos e passa o filme inteiro ferindo e matando quem atravessa seu caminho (Fotos: Leonine)


Maristela Bretas


Pancadaria, explosões, tiros e muita violência marcam o mais novo filme de ação e suspense de Jason Statham, "Beekeeper - Rede de Vingança" ("The Beekeeper"), que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira. O ator é um dos produtores (o que virou rotina em seus longas), juntamente com o roteirista Kurt Wimmer e o diretor David Ayer.

Beekeeper em português significa apicultor. Como bom cuidador de abelhas que lhe garantem o sustento com a extração do mel, nosso astro vai muito além e dá um novo significado na proteção de sua colmeia. Mesmo que para isso seja preciso matar a rainha.


Jason Statham, conhecido principalmente por seus papeis em "Infiltrado" (2021) e nas franquias "Mercenários" (de 2010 a 2023) e "Velozes e Furiosos", incluindo "Hobbs & Shaw" (2013 a 2023) é Adam Clay, um ex-integrante da Beekeepers, uma organização especial poderosa e clandestina de "resolvedores de pendências impossíveis". Ele vive no anonimato e leva uma vida pacata, cuidando de um apiário numa área remota no interior dos EUA.

Após perder uma pessoa muito próxima e querida, Clay parte em busca dos responsáveis e sai deixando um rastro de sangue e destruição pelo país, capaz de movimentar outras organizações, agências nacionais e até o governo. 

O protagonista passa o filme inteiro ferindo, matando ou deixando desacordado quem tenta impedi-lo de chegar ao cabeça dos crimes cibernéticos que estão lesando milhares de pessoas, especialmente os idosos.


Nesta caçada, ele terá de enfrentar a persistente agente do FBI, Verona Parker (Emmy Raver-Lampman), e o parceiro dela, Matt Wiley (Bobby Naderi) que estão em seu encalço. Tem também o rico e mimado empresário da tecnologia, Derek Danforth (Josh Hutcherson, de "Five Night At Freedy´s - O Pesadelo Sem Fim" - 2023). O ator está bem, apesar de o seu personagem ser bem caricato. 

Já o assessor dele e ex-diretor da CIA, Wallace Westwyld, é vivido pelo ótimo Jeremy Irons ("Operação Red Sparrow" - 2018), que merecia maior destaque, como o papel de vilão, por exemplo.


O público não poderá reclamar da efeitos visuais, especialmente nas cenas de violência. Adam Clay é uma máquina de moer adversários nas artes marciais, mas sem dispensar facas, pistolas, metralhadoras e explosivos quando necessário. 

"Beekeeper - Rede de Vingança" é bem previsível desde o início: o mocinho bombado foda, charmoso com cara de mal, que luta muito, bate e apanha muito também para defender os mais fracos (suas abelhas e a colmeia). Trata-se de um filme sobre a jornada sangrenta de um homem só, que explora ao máximo a capacidade de luta do ator e de seus dublês.


E é seguindo essa cartilha que está dando certo que Statham fatura milhões e entrega o esperado por seu público, mesmo com furos no roteiro e violência exagerada. Não espere momentos amenos nem romance. Essa não é a linha de atuação do ator, que vem desempenhando papéis muito semelhantes nos últimos anos em seus filmes de ação e suspense.

Confesso que gosto de seus longas, até mesmo dos ruins, o que não é o caso de "Beekeeper". O enredo, já usado em vários filmes do gênero, especialmente nos de Statham, está amarrado direitinho e agrada. Nada excepcional, não deixa de ser o novo do mesmo, com mais tecnologia, tiro, porrada, bomba e classificação para 18 anos - o sangue espirra na tela. Indico para quem gosta do ator e destes gêneros.


Ficha técnica
Direção: David Ayer
Produção: Miramax Films
Distribuição: Diamond Films
Duração: 1h45
Exibição: nos cinemas
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense
Nota: 3,5 (0 a 5)