30 janeiro 2024

Filme “Rustin” ganha holofotes graças a seu protagonista

O hipnótico ator Colman Domingo joga luz sobre a vida de ativista gay que lutou nos EUA pela igualdade
racial (Fotos: Netflix)


Eduardo Jr.


O nome de Martin Luther King é facilmente lembrado quando se fala da luta por direitos civis dos negros americanos. O de Bayard Rustin, não. E é “Rustin”, personagem-título do filme de George C. Wolfe ("A Voz Suprema do Blues" - 2020), que traz a história do militante ignorado pela história, mesmo sendo responsável por um dos maiores momentos da luta americana contra o racismo. 

O longa, que colocou o nome de Colman Domingo na lista de indicados ao Oscar de melhor ator, está no catálogo da Netflix. É uma cinebiografia do organizador da Marcha Sobre Washington, a passeata pacífica que contou com a presença de Luther King e seu famoso discurso “I have a dream”. O evento, ocorrido em 1963, reuniu 250 mil norte-americanos no Memorial Lincoln, lutando por igualdade. 


O longa foi produzido por dois nomes de peso, Barack e Michelle Obama. Apresenta um recorte da vida do ativista Bayard Rustin, mais precisamente o período da organização do evento, e intercala isso com dramas da vida pessoal do militante. Enquanto o movimento preparava cartazes pedindo trabalho e liberdade, Rustin, negro e gay, não vivia livremente sua sexualidade. 

Este talvez seja um dos pontos fracos do filme. Rustin não parece querer lutar pela liberdade para amar quem quiser. Sua vida amorosa aparece na tela como meros momentos, sem paixão. 

Apesar de enfrentar duas batalhas, uma racial e outra contra a homofobia (vinda até de seus aliados), é nos bastidores do movimento negro que o personagem de Colman Domingo exibe seu brilho.  


Atacado por inimigos e questionado até por seus companheiros, Rustin é magnético, e usa sua força interior e sabedoria para lidar com mentes preconceituosas e com armas de fogo. 

É empolgante ver como funcionou a estruturação da equipe, a convocação do público e a organização da sede de trabalho. E claro, conhecer uma figura que colocou nos livros de história uma página importante, mas nunca teve o devido reconhecimento. 


O Rustin criado por Colman Domingo é o maestro de um movimento e se movimenta com graça nesse papel. Enfrenta brilhantemente os personagens de Jeffrey Wright (um político de índole duvidosa) e Chris Rock (que está bem distante do humorista de sempre). 

O filme é acompanhado por uma trilha composta por um jazz que agrada muito, sem invadir as cenas. A fotografia também está lá, discreta. 

Se "Rustin" enquanto produto audiovisual não é perfeito e tem lá seus pontos questionáveis, a experiência de conhecer uma figura histórica, seus dramas e os bastidores de um movimento em um período de tamanha opressão é boa. 


Para Colman, mais difícil que organizar uma passeata pode ser vencer seus adversários na luta pela famosa estatueta dourada. Concorrem com ele na categoria “melhor ator” seu colega de elenco, Jeffrey Wright (por “American Fiction”, que ainda não tem estreia prevista no Brasil), Cillian Murphy ("Oppenheimer"), Paul Giamatti ("Os Rejeitados") e o afetado Bradley Cooper ("Maestro"). 

Mesmo longe de uma indicação para melhor filme, “Rustin” oferece durante uma hora e 48 minutos (que parece durar um pouco mais) conhecimento, e até faz o espectador se inflamar diante de uma causa. Dona Netflix entrega mais um filme que vale a pipoca.
     


Ficha Técnica:
Direção:
George C. Wolfe
Produção: Barack Obama e Michelle Obama
Exibição: Netflix
Duração: 1h48
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama, biografia

28 janeiro 2024

"Príncipe Lu e a Lenda do Dragão": da "troslagem" à coragem

Luccas Neto entrega interpretação mais experiente em um conto de fadas com toques de comédia e musical (Fotos: Daniel Chiacos)

Silvana Monteiro


Uma verdadeira miscelânea para falar de amadurecimento, disputas, traição, romance e superação. Essa é a melhor definição para o novo filme de Luccas Neto, "Príncipe Lu e a Lenda do Dragão", que já chegou aos cinemas e contém magia, conto de fadas, luta medieval, comédia e aventura, tudo junto e misturado. 

Com uma lista de mais de 20 filmes produzidos pelas Luccas Toon, empresa de audiovisual fundada pelo influenciador, a aposta desta vez é na pegada medieval. 


Dirigido e roteirizado por Leandro Neri, o longa promete encantar toda a família com um elenco que conta com nomes como Giovana Alparone, a Gi, (como princesa Encantada); Maurício Mattar (Rei de Lucebra); Flávia Monteiro (como a Rainha); Renato Aragão (como o mestre espadachim); Zezé Mota (como a feiticeira do reino de Lucebra); Cássio Scapin (como Conde Drake) e Tadeu Mello (como guarda real), entre outros atores já conhecidos do grande público, principalmente das produções humorísticas da Globo. 


A trama se desenrola no Reino de Lucebra, onde o príncipe enfrenta o desafio de abandonar a "troslagem" e adquirir coragem para empunhar a espada alada, além da responsabilidade de assumir o trono. 

No entanto, uma profecia marcada para se cumprir quando ele completar 18 anos causa agitação. Uma tragédia envolvendo o Rei, muda a rotina de todos, exigindo que soberanos e súditos se unam para salvar o reino.

Ao longo da história, o Príncipe Lu encontra personagens que o ajudam em sua missão. No entanto, o filme peca na inserção de eventos, tornando a narrativa um tanto misturada. Por sua vez, as performances musicais adicionam um toque especial ao filme, que tem duração de 1 hora e 40 minutos.


As atuações, especialmente as dos veteranos Flávia Monteiro, Zezé Mota e Cássio Scapin, contribuem para o caráter vanguardista do elenco, agregando valor à produção. Suas performances marcantes elevam a qualidade das cenas em que estão presentes. 

Apesar da participação especial de Renato Aragão ser breve, a atuação é marcante e as poucas cenas entre ele e Neto têm um timing ideal da comédia. 


Destaque para as cenas e os figurinos de Zezé Mota. Uma grande e incrível sacada do filme. Entre os novatos, destaca-se Anaju Dorigon como Rita (a princesa Irritante), cujas cenas garantem momentos bem divertidos.

O roteiro, assinado por Leandro Neri, Paulo Halm e Luccas Neto, segue uma fórmula previsível de herói relutante que amadurece ao longo da jornada. As lições de vida e ensinamentos presentes na narrativa são bem-intencionados, mas poderiam ser entregues de maneira mais sutil. 


Os aspectos técnicos, como os efeitos especiais e a direção de arte, não conseguem criar uma atmosfera medieval convincente. O contraste entre os figurinos e a ambientação dos cenários externos, claramente tropicais, prejudica a credibilidade da “aura medieval”. 

Destacam-se positivamente a caracterização do Rei Drago, seus guerreiros e a guerreira mascarada, que estão bem elaborados.

A classificação indicativa livre seria melhor aproveitada com uma abordagem mais sofisticada que pudesse atrair também os adultos que acompanham as crianças. 

Apesar disso, "Príncipe Lu e a Lenda do Dragão" se conecta ao público-alvo e cumpre o objetivo de entreter a meninada que segue suas aventuras. Luccas Neto amadureceu como ator e entrega uma atuação marcante.


Ficha técnica
Direção: Leandro Neri
Roteiro: Paulo Halm, Luccas Neto e Leandro Neri
Produção: Luccas Toon e Take4Content
Distribuição: H2O Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: fantasia, família, aventura