29 fevereiro 2024

Filme “Eu, Capitão” expõe drama de refugiados de maneira condescendente

Seydou Sarr e Moustapha Fall dão vida a Seydou e Moussa, dois primos senegaleses que são os protagonistas desta história (Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Com a bagagem de 11 prêmios conquistados no Festival de Veneza, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29), o filme “Eu, Capitão”. Com distribuição da Pandora Filmes, o longa do diretor italiano Matteo Garrone ("Gomorra", 2008) conta a história de dois adolescentes que sonham em sair da África e viver na Europa. 

Embora seja um assunto já saturado pelos telejornais, o longa conseguiu um feito: está entre os indicados ao Oscar 2024 de Melhor Filme Internacional. 

Parte dessa conquista se deve aos protagonistas. Seydou Sarr e Moustapha Fall dão vida a Seydou e Moussa, primos senegaleses que nos convidam - com muita expressividade - a embarcar nessa viagem. 


Os jovens trabalham escondido para juntar dinheiro e custear a viagem clandestina rumo à Europa. Como todo adolescente, eles ignoram a mensagem do velho curandeiro (que mais parece um alerta) para olharem para seus antepassados. 

A história mostra de forma clara (ou seria na pele clara?) que o velho continente não quer abrir espaço para eles ou seus sonhos. Mas eles partem assim mesmo. 

Ao abordar a crise dos refugiados e exibir um passo a passo da travessia clandestina, fica claro que a violência, o desespero e a volta por cima marcarão presença no filme. O problema é que a obra não se detém no "por que" ou no "quem ganha com isso" ao expor as peças de uma engrenagem de exclusão, ou a exploração que alguns negros praticam contra outros negros. 


As camisas de grandes times de futebol europeu estão lá no figurino, mas o que esses clubes têm com isso ou o que fazem para aplacar a dor daqueles migrantes? Essa pergunta parece não interessar ao diretor, que se apoia em uma dura e triste realidade para contar uma história, mas a vende como ficção ao ignorar questões importantes. 

O diretor revelou, em uma entrevista de divulgação, que ouviu a história de um garoto de 15 anos que pilotou sozinho um barco de refugiados a caminho da costa italiana, salvando todos os passageiros.  


O longa consegue transmitir a ideia de uma saga. Os adolescentes viajam de ônibus, caminhão-baú, embarcam numa caminhonete, e atravessam o deserto a pé. Só isso já seria suficiente para mostrar que a travessia é longa e sofrida, mas as cenas no deserto, por mais bonitas que possam ser, não livram o espectador de um certo cansaço. 

A compensação vem de algumas construções, que flertam com o onírico, com a poética mitologia local, e da mensagem de que tudo o que essas pessoas têm, são uns aos outros, simbolizada na rede de apoio criada para que possam se ajudar quando longe da terra mãe. Destaque para a cena do anjo na prisão. 


Como o título sugere, o capitão vai pilotar o barco de refugiados. E é de se esperar sucesso na missão. Claro, a viagem não será um mar de rosas. Mas o longa cumpre seu papel de entregar uma saga (mesmo vendendo a ideia de que chegar a um país estrangeiro sem nada é uma vitória). 

Além do desafio da travessia, o longa também terá outro caminho difícil: desbancar os correntes ao Oscar na mesma categoria. “Eu, Capitão” concorre com “A Sociedade da Neve”, “Dias Perfeitos”, “A Sala dos Professores” e “Zona de Interesse”. A cerimônia de entrega da estatueta dourada acontecerá em Los Angeles, no dia 10 de março. 


Ficha Técnica:
Direção:
Matteo Garrone
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: no Cineart Ponteio e no Centro Cultural Unimed-Minas
Duração: 2h01
Classificação: 14 anos
Países: Itália, Bélgica, França
Gêneros: drama, suspense, guerra

28 fevereiro 2024

"Duna: Parte 2" supera primeiro filme em ação e atuação do elenco

Sequência, também dirigida por Denis Villeneuve, é épica e pode se tornar a maior ficção científica do ano (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Novamente grandioso, com ótimas atuações de todo o elenco, efeitos visuais, montagem, som, figurino, maquiagem e trilha sonora impecáveis, "Duna - Parte 2", que entra em cartaz nos cinemas nesta quinta-feira, supera o primeiro filme. 

O novo longa-metragem tem grandes cenas de lutas e de batalhas no deserto, dignas de uma produção que custou US$ 190 milhões, contra os US$ 165 milhões de "Duna", de 2021. 

O diretor Denis Villeneuve, que dividiu o roteiro com Jon Spaihts, melhorou um ponto que incomodou muito em "Duna", também dirigido por ele: tinha pouca ação e era arrastado. 

E mesmo assim conquistou seis estatuetas do Oscar em 2022 - Melhor Som, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Edição, Melhor Design de Produção, Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Visuais.


As locações da nova produção foram feitas em Budapeste, Itália, Abu Dhabi e Jordânia e ocupam um importante papel. Novamente, as areias dos desertos dos dois últimos países dão um show, dispensando o uso excessivo de computação gráfica e proporcionando uma fotografia excepcional para Greig Fraser.

Baseado no romance de seis livros escritos por Frank Herbert em 1965, "Duna: Parte 2" faz jus à obra literária. O filme dá continuidade à saga de Paul Atreides (Timothée Chalamet), que conseguiu sobreviver ao massacre dos demais integrantes de sua família. Ele e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), se unem a Chani (Zendaya) e aos Fremen, comandados por Stilgar, papel de Javier Bardem, que domina a tela toda vez que aparece. 


O jovem busca vingança contra os responsáveis por sua tragédia e que agora ameaçam o povo e o planeta Arrakis, também conhecido como Duna. Nessa batalha, Paul terá de ganhar a confiança de seus novos aliados e travar uma batalha contra o exército do imperador Shaddam (Christopher Walken). Ele também precisará escolher entre seu amor por Chani e evitar um futuro terrível que ele conseguiu prever.

Timothée está mais seguro no papel principal e entrega um líder convincente, tanto nos discursos quanto nas batalhas. E forma um casal fofo e bem entrosado com Zendaya. A atriz ganha o merecido destaque, sendo peça-chave no aprendizado e na sobrevivência de Paul Atreides, disputando a tela com a tarimbada Rebecca Ferguson, sem deixar cair o ritmo. 


Além dos protagonistas, estão de volta do primeiro filme Dave Bautista (como Glossu Rabban, responsável por dizimar vários reinos), Josh Brolin (o guerreiro Gurney Halleck), Charlotte Rampling (sacerdotisa Gaius Helen Mohiam) e Stellan Skarsgård (Baron Vladimir Harkonnen). 

Entre as novidades no elenco desta continuação, além de Christopher Walken, temos as ótimas atuações de Austin Butler (como o ambicioso vilão Feyd-Rautha Harkonnen), Florence Pugh (princesa Irulan) e Léa Seydoux (Margot Fenning), que deverão ganhar destaque no terceiro filme, em planejamento. 


"Duna: Parte 2" não deixa de fora o embate político-religioso, com Paul sendo trabalhado para se tornar um líder guerreiro e um messias, a ser seguido pelo povo, especialmente os milhares de fundamentalistas que acreditam ser ele um predestinado a levá-los ao paraíso. 

A trilha sonora foi novamente entregue ao excelente Hans Zimmer, que não deixou por menos, como sempre. Quem for assistir ao longa na sala @Imax, do @CineartBoulevard, notará que uma das músicas nas batalhas é semelhante (se não for a mesma) da apresentação do sistema tocada antes de cada filme.


Um ponto que ainda pode confundir quem está entrando na franquia a partir deste longa é o excesso de informação. Recomendo ler os livros ou assistir ao primeiro filme para entender as disputas entre os reinos e quem é quem na história. Muitos pontos são esclarecidos nesta sequência e novos são criados a partir das decisões de Paul.

"Duna: Parte 2", até o momento, pode ser considerado o grande filme de ficção científica do ano e deverá agradar aos fãs que estavam ansiosos pela continuação. Merece ser visto no cinema, de preferência numa sala especial. O som e as imagens na tela maior proporcionam uma experiência fantástica.


Ficha técnica:
Direção: Denis Villeneuve
Produção: Legendary Pictures e Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures Brasil
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h46
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama, ficção científica, ação