28 abril 2024

"Férias Trocadas" - uma comédia nacional de sessão da tarde

Edmilson Filho interpreta dois personagens completamente opostos que irão se encontrar em uma viagem à Cartagena, na Colômbia (Fotos: Tico Argulo/Divulgação)


Maristela Bretas


O ano de 2024 começou com comédias nacionais boas e outras nem tanto, mas que atraíram o público para os cinemas. Um bom exemplo é "Minha Irmã e Eu", de 2023, mas que estreou em janeiro, Na sequência, tivemos "Dois É Demais em Orlando" e "Os Farofeiros 2", em março; "Licença para Enlouquecer" e "Evidências do Amor", este mês, além de outras bem aguardadas até o final do ano, como "O Alto da Compadecida 2".

Seguindo o estilo muito barulho e história já explorada em outras produções, estreia nesta quinta-feira (2 de maio) o longa "Férias Trocadas", comédia nacional protagonizada por Edmilson Filho ("Loucas Pra Casar" - 2014, o filme "Cine Holliúdy" - 2013 e a série de mesmo nome, em exibição no canal Globoplay). Filmada em Cartagena, na Colômbia, a produção é dirigida por Bruno Barreto, responsável por sucessos como o belíssimo "Flores Raras", de 2013 (que pode ser conferido no Netflix).


Em "Férias Trocadas", conhecemos José Eduardo, o Zé (Edmilson Filho), que ganha uma rifa e consegue uma viagem com a família para Cartagena. Dono de uma escolinha de futebol, é casado com Suellen (Aline Campos, de "Um Dia Cinco Estrelas" - 2023, "Os Farofeiros" - 2018 e "Os Farofeiros 2") e pai da blogueirinha Rô (Klara Castanho, de "Tudo por um Pop Star" - 2018 e a série "Bom Dia, Verônica" - 2022 e 2024, da Globoplay). A família parte animada para a primeira viagem de férias internacional. 

Viajando para o mesmo destino temos José Eduardo, conhecido como Edu (Edmilson Filho), um empresário preconceituoso que viaja com a esposa Renata (Carol Castro, de "Eike - Tudo ou Nada" - 2021) e o filho tiktoker João (Matheus Costa, de "Cinderela Pop" - 2018). O que os dois José Eduardo não esperavam era que a troca dos endereços de hospedagens iria acabar numa grande dor de cabeça e colocá-los frente a frente.


Nada de novo no enredo, rostos conhecidos de outras comédias. O personagem "Zé" (o pobre) é bem mais simpático, até mesmo quando está fazendo bobagem, ao contrário de Edu (o rico), que exagera tanto em seu preconceito que chega a ficar antipático, melhorando só no final, como esperado. 

O restante do elenco cumpre bem o papel, especialmente Aline Campos e Carol Castro. A produção perdeu a oportunidade de explorar mais o visual das praias do paraíso colombiano, que são lindas, entregando belas imagens que seriam um diferencial do filme. Entre brigas, reconciliações, situações constrangedoras e romances, "Férias Trocadas" consegue fazer o público rir e é uma distração de sessão da tarde.


Ficha técnica
Direção: Bruno Barreto
Produção: Paris Entretenimento
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h25
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: comédia

26 abril 2024

"Plano 75" expõe o envelhecimento e a finitude da vida

No drama japonês, governo oferece incentivo financeiro e logístico para os cidadãos com mais de 75 anos que desejarem se submeter à eutanásia (Fotos: Sato Company)


Silvana Monteiro


Dirigido por Chie Hayakawa, chega aos cinemas brasileiros o filme japonês "Plano 75". O longa aborda as crises etária e de saúde enfrentadas pelo Japão, devido ao envelhecimento da população e à baixa taxa de natalidade. 

Em tempos de discussão sobre “Tio Paulo” um senhor supostamente já sem vida, conduzido pela sobrinha até uma agência bancária para fazer um empréstimo, situação esclarecida posteriormente, o tema é bem atual. Na reportagem, o dinheiro do empréstimo seria usado na reforma da casa do idoso para torná-la mais acessível e aconchegante, já que devido ao uso de cadeiras de rodas, ele passou a morar na garagem do imóvel.


Num futuro próximo, o governo japonês introduz o programa Plan 75, oferecendo incentivo financeiro e logístico para os cidadãos com mais de 75 anos que desejam se submeter à eutanásia. 

Os idosos que optarem pelo procedimento voluntário devem receber uma quantia considerável em troca. Esse dinheiro pode ser utilizado pela pessoa antes de sua morte em qualquer projeto ou deixado como herança para seus familiares. 

A questão é que, para aceitar as condições do plano, a pessoa não precisa do aval de nenhum parente ou responsável, tudo é facilitado para que ela consiga assinar o contrato de adesão. 

Maria's Friend (Sheryl Ichikawa) é uma cuidadora imigrante das Filipinas que trabalha no Japão e aparenta ter cerca de 40 anos; Hiromu (Hayato Isomura) trabalha como atendente em uma repartição do governo e aparenta ter 30 e poucos anos; e Michi (Chieko Baisho) ainda faz faxina aos 78 anos.


Explorando acontecimentos na vida desses três personagens e de suas conexões pessoais e sociais, o filme mostra as angústias em torno da vida do trabalhador que busca uma estabilidade econômica, assim como os idosos que tentam equilibrar o social e o emocional.  

A interpretação no filme é marcante, especialmente a atuação da veterana Chieko Baisho, que entrega uma performance crua e comovente, transmitindo a solidão e a fragilidade da personagem. Os demais atores também desempenham bem seus papéis, destacando-se Hayato com sua leveza e empatia ao receber os idosos em suas angústias e dificuldades. 

A fotografia do filme, assinada por Hideho Urata, é notável. Ela cria uma atmosfera melancólica, refletindo a temática perturbadora do envelhecimento da população e da eutanásia. As imagens capturam os contrastes entre a beleza serena da paisagem e a angústia dos personagens, contribuindo para a narrativa visual da obra.


A direção de Chie Hayakawa se volta à contemplação e à delicadeza dos temas abordados. O filme apresenta uma série de histórias interconectadas, mostrando diferentes perspectivas em relação ao Plano 75. Hayakawa consegue transmitir a urgência e a complexidade do assunto, bem como abordar questões éticas e morais relacionadas à eutanásia.

O filme desafia o espectador a refletir sobre o envelhecimento da população e as escolhas difíceis que podem surgir em um futuro próximo. A obra cria uma distopia perturbadora que levanta questões sobre a dignidade humana, a responsabilidade do governo e o valor da vida. Embora seja um filme delicado e contemplativo, também carrega uma raiva palpável em relação à crueldade disfarçada de compaixão.


São bem interessantes e reflexivas as cenas em que, além da solidão e fragilidade transmitidas pela personagem de Michi, ela se encontra com suas amigas idosas. Os diálogos demonstram sonhos e questionamentos marcados pela temporalidade da vida e dos acontecimentos. 

Mesmo em um cenário que aborda a dureza da luta pela vida, no papel da arrumadeira Maria, e da própria busca de Michi por “um final” menos preocupante, o filme pode oferecer espaço para discutir o papel do cuidado e da empatia na sociedade. Isso é destacado em pequenos gestos de compaixão que podem fazer a diferença na vida das pessoas, especialmente daquelas que se encontram em situações vulneráveis. 

Mesmo sem grandes arroubos e plot twists, "Plano 75" é uma produção impactante, que oferece uma crítica social contundente e convida o público a refletir sobre dilemas éticos e morais, como envelhecimento, longevidade, etarismo, saúde da pessoa idosa e finitude da vida.


Ficha técnica
Direção:
Chie Hayakawa
Produção e Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h53
Classificação: 14 anos
Países: Japão, França, Filipinas
Gêneros: drama, suspense