10 junho 2024

"Mallandro - O Errado Que Deu Certo" é uma comédia de bordões para os fãs do humorista

Sem deixar a comédia de lado, filme aborda um período difícil da vida do rei das pegadinhas dos anos 1980 (Fotos: Primeiro Plano Comunicação)


Maristela Bretas


Ele fez sua carreira pautada em bordões como "rá!", "ie-ié", "glu-glu", levou milhares de pessoas para a frente das TVs e platéias aos teatros. Caiu, levantou e ainda possui fãs pelo Brasil e fora do país. E é essa a história de "Mallandro - O Errado Que Deu Certo", filme que estreia nos cinemas dia 13 de junho com direção de Marco Antônio de Carvalho.

Antes mesmo da estreia, Sérgio Mallandro percorreu várias cidades brasileiras, incluindo Belo Horizonte, em sessões prévias que atraíram centenas de pessoas às salas de cinema que queriam ver de perto o ídolo dos anos 1980.


O longa aborda um período de perrengues da vida do ator, mostrando as mudanças em seu comportamento, na relação com os filhos e ex-mulheres. 

Sem dinheiro e vivendo das glórias do passado, Sérgio Mallandro precisa se reinventar. Recém eliminado de um reality show e com dívidas se acumulando, ele aceita participar de um piloto para um novo programa de auditório.

Porém, quando uma pegadinha dá errado, ele se vê em uma situação de vida ou morte e precisa tomar uma decisão que pode afetar sua carreira para sempre. Para quem acompanhou a trajetória do ator, uma famosa pegadinha do programa "Festa do Mallandro" é reproduzida no filme.


Além do próprio humorista, o elenco conta com artistas conhecidos da TV, teatro e cinema como André Mattos, Nany People, Lúcio Mauro Filho, Fernando Caruso, Hugo Bonemer, entre outros, que garantem os momentos divertidos.

Já a turma jovem, interpretando os filhos do comediante, é formada por Marianna Alexandre (de "Um Broto Legal" - 2022), como Mila, e Guilherme Garcia (a série "Dom", do Prime Video), no papel de Lucca. O filme conta ainda com as participações especiais da apresentadora Xuxa Meneghel e do ex-jogador Zico, uma boa forma de atrair público.


Carreira

Na TV, Sérgio apresentou programas como o infantil matinal "Oradukapeta", no SBT (1987 a 1990) e "Show do Mallandro", na Globo (1991 a 1993). No SBT, era considerado o rei das pegadinhas e foi dono de um dos quadros mais clássicos do Brasil a “Porta dos Desesperados”. 

No cinema, participou de diversas produções, entre elas os longas "Menino do Rio" (1982), “O Trapalhão na Arca de Noé" (1983), “Garota Dourada” (1984), "As Aventuras de Sérgio Mallandro" (1985), "Sonho de Verão" (1990), "Lua de Cristal" (1990), contracenando com Xuxa, e "Inspetor Faustão e o Mallandro" (1991). 


Em 2019, o humorista também fez uma participação no filme “MIB: Homens de Preto Internacional”. Atualmente, ele apresenta o Podcast Papagaio Falante e também realiza shows de stand-up por todo o país e shows corporativos para grandes empresas.

"Mallandro - O Errado Que Deu Certo", no entanto, é uma produção que se arrasta por longos 102 minutos entre a comédia e o drama. E ouvir, o tempo todo, o comediante repetir seus bordões, até mesmo quando ele tenta deixar de usá-los, é muito cansativo. Chega a ser chato e a diversão poderá não ser a esperada.


Ficha técnica
Direção: Marco Antônio de Carvalho
Produção: Melodrama, com coprodução Telecine e RioFilme
Distribuição: Downtown Filmes
Duração: 1h42
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia, drama

06 junho 2024

"Grande Sertão" não perde em nada para produções hollywoodianas

Luísa Arraes e Caio Blat interpretam Diadorim e Riobaldo, os protagonistas na adaptação da obra literária de Guimarães Rosa (Foto: Helena Barreto)


Larissa Figueiredo 


Com ares de distopia cyberpunk, o filme "Grande Sertão", de Guel Arraes, estreia nos cinemas nesta quinta-feira (6). Adaptação do romance homônimo de Guimarães Rosa, "Grande Sertão: Veredas”, a produção é protagonizada por Luísa Arraes, como Diadorim, e Caio Blat, na pele de Riobaldo. 

O tempo da narrativa oscila entre o passado e o presente de Riobaldo. O roteiro e a montagem preservam as divagações do protagonista sobre o certo e o errado, Deus e o diabo, amor e ódio, e todas as dicotomias que moldam o desenrolar da história. 

Foto: Ricardo Brajterman/Divulgação

É nessas cenas que Blat “encarna” o jagunço, ora louco, ora lúcido, e mostra um total domínio do texto dinâmico, melódico e lírico, assim como na obra literária. 

Já Luisa Arraes, em sua primeira vez sendo dirigida pelo pai, não soou natural como Blat ao adentrar o universo da obra. A complexa personagem Diadorim é a força motriz do enredo e demanda uma profundidade que Arraes não correspondeu, entregando uma performance carregada de artificialidade. 

Intencionalmente ou não, a atriz também atribuiu à personagem trejeitos cômicos e exagerados que decepcionam o público que conheceu Diadorim no romance literário de Guimarães Rosa. 

Foto: Paris Filmes/Divulgação

A interpretação de Eduardo Sterblitch é uma das grandes surpresas do longa de Arraes. O ator e humorista encarou o desafio de trazer Hermógenes às telas. O personagem impiedoso e sinistro que tem pacto com o diabo ganhou um carisma assustadoramente único. Em "Grande Sertão", ele mostra sua genialidade e prova ao grande público sua versatilidade. 

A história se passa numa grande comunidade da periferia brasileira chamada “Grande Sertão”. A luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra e traz à tona questões como lealdade, vida e morte, amor e coragem, Deus e o diabo. 

Riobaldo entra para o crime por amor a Diadorim, mas não tem coragem de revelar sua paixão. A identidade de Diadorim é um mistério constante para Riobaldo, que lida com escolhas morais e dilemas éticos, enquanto busca entender seu lugar no mundo e sua própria natureza. 

Foto: Helena Barreto/Divulgação

De forma geral, além do texto lírico, a obra remonta às origens do cinema e traz forte contribuição do teatro. Todos os personagens são hiperbólicos em seus movimentos, falas e expressões. 

O cenário de "Grande Sertão", que na adaptação é uma favela, não perde em nada para produções hollywoodianas, assim como a fotografia e a montagem, altamente coerentes esteticamente com a proposta da adaptação. 

Foto: Helena Barreto/Divulgação

As cenas de ação são extensas na medida certa entre o extraordinário e cansativo, mas bem coreografadas. Elas abordam com profundidade a estrutura das milícias nas comunidades e a retroalimentação do ciclo da violência na “luta” entre bandidos e policiais. 

"Grande Sertão" veio em boa hora. A adaptação é fiel ao livro e renova as discussões elaboradas por Guimarães Rosa em 1956. Por fim, é inegável dizer que o filme pode cativar tanto o público que leu o romance, quanto o que não conhece a obra. 


Ficha técnica:
Direção: Guel Arraes
Roteiro: Guel Arraes e Jorge Furtado
Produção: Paranoid Filmes, coprodução Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h48
Classificação: 18 anos
País: Brasil
Gêneros: ação, drama
Nota: 4 (0 a 5)