14 junho 2024

"Os Observadores" une terror e fantasia em trama repleta de reviravoltas

Filme de estreia de Ishana Shyamalan como diretora explora a necessidade das pessoas de serem "notadas" (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Carolina Cassese

Nos dias atuais, são muitas as pessoas que imploram para serem observadas. Parece que estamos vivendo uma constante disputa de “olhe para mim”, em especial nas redes sociais, onde tantos sentem a necessidade de mostrar o que estão fazendo e, mais especificamente, o que estão conquistando. Afinal de contas, o tom instagramável é sempre muito positivo. 

Um filme de terror chamado "Os Observadores" ("The Watchers"), que apresenta elementos como câmeras e muito espelhos, parece inegavelmente dialogar com o momento atual. O longa, em cartaz nos cinemas, é dirigido por Ishana Night Shyamalan, filha do ilustre cineasta M. Night Shyamalan (que assina como produtor). 


A história, baseada em um romance de A.M. Shine, é centrada em Mina (Dakota Fanning), uma jovem que precisa ir ao oeste da Irlanda para realizar uma tarefa de trabalho. No entanto, seu carro estraga e ela se encontra perdida numa floresta assustadora. 

Desesperada, a personagem começa a correr e encontra um pequeno bunker com uma mulher na porta, Madeleine (Olwen Fouere), que a conduz para dentro.

Nesse lugar, composto por três paredes e uma grande janela, também estão os personagens Ciara (Georgina Campbell) e Daniel (Oliver Finnegan). Mia logo fica sabendo das regras: todas as noites, os prisioneiros devem se expor às criaturas da floresta,"os observadores". 


Eles devem formar filas como manequins de vitrines e, em seguida, se tornam atrações para aqueles que estão assistindo. Os elementos de fantasia aparecem principalmente quando entendemos melhor a história dos “observadores”, criaturas mágicas e primordialmente perigosas. 

O grupo de prisioneiros, por sua vez, só pode sair do bunker durante o dia, quando encontram comida e andam pela floresta - nas horas vagas, a única possibilidade de entretenimento é o DVD de um reality show de casais, outro aceno à tendência do ser humano em se expor das maneiras mais inacreditáveis.


Como já foi mencionado, elementos como câmeras e espelhos aparecem frequentemente no longa, que também trabalha muito com a ideia do "duplo". Para começar, Mia tem uma irmã gêmea, com quem não fala há anos por conta de um trauma familiar. 

Além disso, a personagem costuma "repetir" tudo o que dizem para ela, o que se torna perturbador em determinados momentos do longa.

Assim como pode ser visto no recente lançamento de terror "Fale Comigo" (2023), aqui o luto também aparece como um pano de fundo importante: Mia perdeu a mãe num acidente de carro e, por essa razão, parece estar ainda mais vulnerável a ser vítima de assombrações. 

Em determinado momento, ela até mesmo se compara às criaturas da floresta, pois acredita que às vezes “não consegue encontrar a própria humanidade”. 


Há sem dúvidas muitas temáticas psicológicas interessantes presentes na história, mas as mesmas infelizmente não são bem trabalhas no decorrer do longa, que apresenta problemas significativos de ritmo. 

A estreia de Ishana Shyamalan, vale dizer, foi mal recebida pela maior parte da crítica e dividiu a opinião do público: enquanto uma parte considerou que o filme é bom entretenimento (e apresenta ideias inovadoras), outros afirmaram que as revelações não são de fato surpreendentes.

Para os que se interessaram pela história, muitos críticos recomendam a leitura do elogiado livro homônimo, que inclusive deve ganhar uma continuação em outubro deste ano. 

Por sua vez, o filme está longe de ser o melhor lançamento de terror do ano, mas, para os fãs do gênero e de fantasia, vale conferir e tirar as próprias conclusões - afinal de contas, o sobrenome Shyamalan segue influenciando significativamente a cena cinematográfica.


Ficha técnica:
Direção:
Ishana Shyamalan
Produção: Warner Bros. Pictures, Blinding Edge Pictures, New Line Cinema
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense, fantasia

13 junho 2024

“A Ordem do Tempo” questiona o fluxo da vida e a fragilidade da existência

Obra é inspirada no best-seller homônimo do físico especialista em mecânica quântica, Carlo Rovelli, sobre o fim do mundo (Fotos: Pandora Filmes) 


Silvana Monteiro

Imagine se durante uma celebração entre amigos você descobrisse que o mundo estaria prestes a acabar. Este é o drama italiano "A Ordem do Tempo" (“L’Ordine Del Tempo”), que chega ao Cineart Ponteio, ao Centro Cultural Unimed-BH Minas e ao Una Cine Belas Artes nesta quinta-feira (13). Amigos inseparáveis, que adoram comemorar a beleza e os momentos marcantes da vida, se vêem diante desse dilema. 


A obra, distribuída pela Pandora Filmes, traz uma instigante narrativa inspirada no best-seller de mesmo nome do físico-teórico Carlo Rovelli. Dirigido pela veterana cineasta italiana Liliana Cavani, em colaboração com o roteirista Paolo Costella, o filme apresenta uma perspectiva profunda e intimista sobre a percepção humana de como o tempo é implacável. O tempo é fluxo contínuo? Ele se dá de forma cronológica? Os fatos do presente, passado e futuro estão conexões? E como lidar com ele?


Um dos grandes destaques de "A Ordem do Tempo" é a forma como a autora transmite a temporalidade dos acontecimentos na percepção dos personagens, ora prestes a acabar, ora distante e tenso. Cavani finalizou o longa em 2023, ao completar 90 anos.

A direção de Cavani, reconhecida por seu olhar atento aos dramas humanos, conduz a narrativa com um ritmo pausado e uma atmosfera de tensão latente, permitindo que o público se engaje profundamente com as questões levantadas. 


Entre os sucessos de sua carreira está o polêmico filme "O Porteiro da Noite" (1974), que retrata a relação sadomasoquista entre um ex-oficial de um campo de concentração nazista e uma de suas prisioneiras. 

No elenco, ela conta com a atuação de Alessandro Gassmann, Claudia Gerini, Edoardo Leo, Kseniya Rappoport, Richard Sammel, Valentina Cervi, Francesca Inaudi, Angeliqa Devi, Mariana Tamayo, Fabrizio Rongione, Ángela Molina e Alida Baldari Calabria. 

Ao longo da trama, os amigos e seus cônjuges começam a tecer suposições e a revelar verdades, indagações, emoções e sentimentos guardados. Essa dinâmica de interações e conflitos internos cria um retrato vívido da forma como as pessoas lidam com a iminência do fim.


A atuação é destacada, com os intérpretes conseguindo transmitir a gama de emoções e dilemas experimentados por seus personagens. A construção cuidadosa dos diálogos e a ambientação elegante contribuem para criação de um drama intimista e reflexivo.

Longe de cair em sensacionalismos ou efeitos dramáticos excessivos, o filme mantém uma abordagem contemplativa e introspectiva, explorando as complexidades da percepção do tempo e suas implicações existenciais. 

"A Ordem do Tempo" é um filme que transcende o mero entretenimento, convidando o espectador a refletir sobre a natureza do tempo, a fragilidade da existência e a busca por significado em face da finitude. Uma obra cinematográfica instigante e merecedora de atenção.


Ficha Técnica:
Direção: Liliana Cavani
Roteiro: Liliana Cavani e Paolo Costella, a partir do livro de Carlo Rovelli
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: sala 3 do Cineart Ponteio - sessão de 21h05; sala 2 do Centro Cultural Unimed-BH Minas - sessão às 20h30; sala 2 do Una Cine Belas Artes - sessão às 18h20
Duração: 1h53
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gênero: drama