11 julho 2024

"Twisters" estreia nos cinemas com tornados em dobro e mais arrasadores

Longa reúne elenco simpático e faz uma linda homenagem a dois clássicos do cinema (Fotos: Universal Pictures)

Maristela Bretas


Passados 28 anos, os tornados estão de volta, mais violentos por causa das mudanças climáticas, e continuam sendo caçados, agora por um elenco de novas estrelas. Entrou em cartaz nos cinemas o longa "Twisters", dirigido por Lee Isaac Chung. A produção emprega o que há de mais moderno em tecnologia para mostrar a força e a destruição causada por estas tempestades. 

Além dos ótimos efeitos visuais, o filme também faz uma homenagem a dois clássicos do cinema: o antecessor "Twister" (1996), mostrando os equipamentos empregados pelas equipes, e "O Mágico de Oz" (1939), com seus personagens icônicos. Dá até um quentinho no coração!


Três grandes estúdios de Hollywood - Warner Bros. Pictures, Universal Pictures e Amblin Entertainment (de Steve Spielberg, um dos produtores executivos) - se uniram neste longa, que teve um orçamento de US$ 200 milhões, incluindo os efeitos de CGI e o elenco. Como protagonistas temos Daisy Edgar-Jones ("Um Lugar Bem Longe Daqui" - 2022) e Glen Powell ("Top Gun: Maverick" - 2022), que formam um casal simpático e com boa química, e o indicado ao Globo de Ouro, Anthony Ramos.

A expectativa é grande quanto ao faturamento desta segunda produção, especialmente se compararmos com a primeira, que custou US$ 92 milhões e atingiu US$ 495 milhões de bilheteria. No elenco principal estavam Helen Hunt e Bill Paxton, falecido em 2017. 

Uma curiosidade: nos anos de 1990 havia o brinquedo Twister no Universal Park, em Orlando, que simulava um tornado atingindo uma cidade, com direito a ventania, queda de raios em postes e explosões de fios, como no filme. Era bem divertido e fez bastante sucesso. Até hoje, o longa atrai fãs e pode ser assistido no Globo Play e Telecine.  


"Twisters" não perde em nada para seu antecessor e foi considerado por muitos espectadores que assistiram a pré-estreia, até melhor. Especialmente porque, como o próprio nome diz, agora os tornados estão em dupla e mais devastadores. São eles as verdadeiras estrelas do filme e que deverão atrair boa parte do público para os cinemas. Como no primeiro longa, as locações foram em Oklahoma, estado com a maior taxa de grandes tornados super destruidores dos Estados Unidos. 

Agora, os efeitos visuais e sonoros foram trabalhados juntamente com imagens reais filmadas por caçadores de tornados durante a temporada dos fenômenos e usadas pelo diretor. Segundo o roteirista Mark L. Smith, ele se inspirou em algo real, nas mudanças no comportamento do clima que tem ficado mais severo e extremo. Para a forte ventania, o diretor utilizou ventiladores gigantes e os atores tiveram que filmar com vários objetos sendo jogados contra eles.


Na história, Daisy Edgar-Jones é Kate Cooper, uma ex-caçadora de tempestades que teve uma experiência assustadora quando estava na faculdade. Largou tudo e se mudou para Nova York onde estuda padrões de tempestades em uma agência meteorológica. Até que é chamada de volta a Oklahoma por seu amigo Javi (Anthony Ramos) para testar um novo sistema revolucionário de rastreamento de tornados.

Lá, ela fica conhecendo Tyler Owens (Glen Powell), o charmoso e imprudente astro das redes sociais que se diverte postando aventuras de caça a tempestades com sua equipe barulhenta. No entanto, os fenômenos estão ficando cada vez piores, colocando Kate, Tyler e as demais equipes diretamente no caminho de múltiplos tornados que atingem tanto a área rural quanto as cidades. 


O elenco conta também com David Corenswet (próximo Superman em "Legacy"), Brandon Perea de Nope, Sasha Lane, Daryl McCormack, Kiernan Shipka, Nik Dodani e a vencedora do Globo de Ouro e estrela da série "E.R.", Maura Tierney.

Infelizmente não temos vaca voando, mas os tornados arrastam muito mais objetos e pessoas, proporcionando cenas bem eletrizantes e tensas. "Twisters" é ação do início ao fim, especialmente quando a natureza mostra a sua força. Vale muito a pena ser conferido nos cinemas, especialmente em Imax, para aproveitar melhor os efeitos especiais.


Ficha técnica
Direção: Lee Isaac Chung
Roteiro: Mark L. Smith
Produção: Amblin Entertainment, Warner Bros. Pictures, Universal Pictures, The Kennedy Marshall/Company
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h13
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, ação, suspense

10 julho 2024

"Ninguém Sai Vivo Daqui" - dramatização não aprofunda realidade cruel do Hospital Colônia

Longa em preto e branco aborda o tratamento desumano dado a pacientes internados em unidade psiquiátrica de Barbacena, na década de 1970 (Fotos: Gullane) 


Silvana Monteiro


Saúde mental, política manicomial, machismo, exclusão, segregação, padrões sociais, abusos e maus-tratos são alguns dos temas abordados no longa "Ninguém Sai Vivo Daqui", distribuído pela Gullane+, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (11). Em BH ele está em exibição no Cine Una Belas Artes. 

Inspirado no premiado livro "Holocausto Brasileiro", da jornalista Daniela Arbex, o filme, dirigido por André Ristum, apresenta uma história impactante, apesar de algumas falhas.  


O foco principal da trama é em Elisa, uma jovem saudável que, por quebrar alguns dos padrões sociais mais defendidos da época, a tal honra feminina, é internada à força pelo pai no hospital psiquiátrico Colônia, em Barbacena (MG), no início dos anos 1970. 

Apesar de hoje esta prática causar espanto em muitas pessoas, era comum no passado, quando uma jovem engravidava sem estar casada e passava a representar "uma desonra" para as famílias.


A fotografia em preto e branco, fruto da parceria entre Ristum e o diretor de fotografia Hélcio Alemão Nagamine, é sim um personagem fundamental no filme. E claro, cumpre a missão de destacar a falta de vida e alegria na experiência dos internos. Contudo, essa escolha estilística, embora dramática, não consegue sustentar alguns trechos rasos da obra. 

A ausência de cor simboliza a desumanidade e o sofrimento dos pacientes do Colônia, mas se o filme fosse colorido e mais profundo, detalhando alguns acontecimentos à cor, talvez seu impacto fosse ainda maior. 

A paleta monocromática tenta reforçar a atmosfera sombria e opressiva, mas em alguns pontos a narrativa acaba se tornando uma miscelânea, que desvia o foco de um tema sério, necessário e pouco explorado no Brasil.


A trilha sonora, composta por Antônio Pinto, é notável. O uso de ruídos e texturas sonoras cria uma ambiência inquietante que se funde perfeitamente com as imagens em preto e branco, nesse ponto, a obra se torna diferenciada. As imagens do “trem de doido” são um ponto alto da produção ao mostrar como as pessoas eram levadas para o local. 

Ristum, que assina o roteiro com Marco Dutra e Rita Gloria Curvo, poderia ter explorado mais histórias para humanizar melhor o contexto da política manicomial da época. A experiência cinematográfica é impactante, mas em alguns momentos, o sofrimento dos personagens, especialmente das mulheres, se dilui. 


É o caso de Vanda, magistralmente interpretada por Rejane Faria. Vale destacar também as interpretações de Bukassa Kabengele, no papel de Raimundo, um interno que demonstra bem como aquele ambiente desconcerta e causa ira. Além de Augusto Madeira, como Juraci, um verdadeiro crápula. 

O elenco, liderado por Fernanda Marques no papel de Elisa, entrega performances memoráveis. Ela transmite, com maestria, a dor, a angústia e a luta de sua personagem, representando a luta de tantas outras mulheres internadas injustamente no Colônia. 


Um dos grandes trunfos da obra é a demonstração de que sororidade é algo sublime em qualquer situação e contexto. "Ninguém Sai Vivo Daqui" expõe a podridão da política manicomial na história do Brasil. Contudo, carece de uma abordagem mais visceral que corresponda à sua estética impactante, tal como é a marca da história do Colônia.

Cidade dos Loucos

O Hospital Colônia de Barbacena, fundado em 1903, foi inicialmente construído para tratar pacientes com tuberculose. Conhecido como "Cidade dos Loucos" por abrigar sete instituições psiquiátricas, tornou-se notório pelo tratamento desumano aos pacientes, sendo comparado a um campo de concentração nazista. 


Em 1961, contava com cerca de cinco mil pacientes, muitos sem diagnóstico de doença mental, incluindo opositores políticos e grupos marginalizados. 

Estima-se que 70% dos internos não possuíam transtornos de saúde mental, eram enviados por não se adequarem aos padrões da época, tais como políticos, prostitutas, homossexuais, mendigos, pessoas sem documentos, entre outros grupos marginalizados na sociedade. Dados levantados à época mostram que pelo menos 60 mil pessoas tenham morrido no Hospital Colônia de Barbacena.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: André Ristum
Produção: Sombumbo, TC Filmes, coprodução Gullane, Geração Entretenimento, Canal Brasil e Karta Film
Distribuição: Gullane+
Exibição: Cine Una Belas Artes, sala 2, sessão Às 18h40 e sala 3, às 13h50
Duração: 1h26
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: drama